É já no próximo dia 7 de Maio a primeira semi-final do Festival Eurovisão da Canção. Depois de um Festival RTP da Canção renhido, será Iolanda a representar Portugal em Malmö com “Grito”.
Na Bélgica o apuramento não se faz através de um festival mas sim por designação directa pelo canal de televisão participante, a RTBF, através de um processo de selecção dentro da própria estação televisiva. É assim desde 2000, a pretexto dos custos. Mas é de supor que outros factores terão pesado: o público belga poderia nem sempre estar a fazer a “melhor escolha”. A Bélgica venceu o certame musical em 1986, pela voz de Sandra Kim com “J’aime la vie”, e desde então, não obstante algumas honrosas prestações, o país nunca mais conheceu a vitória. Na verdade, a Bélgica ganha a Portugal em últimos lugares: nos infelizes anos de 1961, 1962, 1965, 1973, 1979, 1985, 1993 e 2000 a Bélgica ficou em último lugar, contra apenas quatro grandes desaires de Portugal. Porventura por se encontrar ainda a lamber as feridas de 2000, no ano de 2001 o país decidiu não participar. A partir daí, a Bélgica tem-se apresentado com canções escolhidas sem intervenção do voto popular. A isto não será alheio o facto de os votantes da Flandres apostarem em massa em canções neerlandófonas, que entrariam mais dificilmente no ouvido chegadas ao concurso internacional. Este imbróglio interno decorrente da tensão entre o francês e o neerlandês ajudará talvez a explicar o facto de desde 2001 a Bélgica se ter feito representar quase sempre por canções… em inglês. Assim, nenhuma comunidade linguística do país pode acusar a RTBF de favorecer uma das duas principais comunidades linguísticas – antes desfavorece ambas! Nos anos de 2003 e 2008 a Bélgica apresentou-se mesmo com uma língua imaginária. Haja criatividade para obviar ao problema de um país profundamente dividido. Este ano o cantor Mustii leva “Before the Party’s Over” – em inglês, pois claro. O som do tema não tem nada particularmente belga, e quando se ouve pela primeira vez dá a sensação, para o melhor e para o pior, de que é a décima vez.
Do lado lusitano, brilha 2017 com “Amar pelos Dois”, interpretado por Salvador Sobral. E que nos importa se “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho ficou em último lugar na Eurovisão em 1974, se foi para sempre imortalizado como a canção que serviu de senha para o golpe que derrubou a ditadura? Essa canção, passada na rádio há precisamente 50 anos, é provavelmente a única digna de nota na Eurovisão de 1974. Se trauteássemos a suecos, a franceses ou a luxemburgueses ou aos cidadãos de qualquer participante de 1974 a canção do seu país desse ano, quantos a reconheceriam? Mas aqui, quem não sabe que “Quis saber quem sou, o que faço aqui…”?
Com uma presença esmagadoramente em português, salvo ocasionais excepções, a participação de Portugal é sempre fonte de curiosidade por parte do público internacional, pelo que leva de autêntico, inovador, diferente, nacional e enriquecedor ao concurso. Este ano Iolanda leva uma voz cintilante e segura e uma presença em palco invejável. A coreografia é marcante, a luz é fantástica, o tema é intenso. Mesmo que a jovem cantora crescida entre Figueira da Foz e Pombal fique em último, por mim a missão de Iolanda já está cumprida: Portugal leva carácter e tradição, temperados com modernidade. Estamos muito bem representados.
25 de Abril sempre!