A juventude portuguesa e a luta pela sustentabilidade em Portugal

Ao celebrarmos o 50.º aniversário do 25 de Abril de 1974, e num momento em que a juventude – principalmente desde as eleições legislativas – transformou-se num dos principais focos do debate político, é justo reconhecer o papel vital que tantas e tantos jovens desempenharam na conquista da liberdade e na construção democrática portuguesa, sendo de valorizar a sua coragem e determinação na liderança da Revolução dos Cravos, desafiando um regime autoritário e opressivo em busca de um futuro mais justo e com igualdade de oportunidades. Paralelamente, temos de transpor esta força motriz para o contexto do século XXI, mais concretamente no que às temáticas mais emergentes dizem respeito, como é o caso da crise climática.

Desde as manifestações estudantis à participação activa em movimentos de resistência, as/os jovens portuguesas/es da época demonstraram uma notável capacidade de mobilização e organização. A sua luta não foi apenas por uma mudança política, mas também por uma profunda alteração de valores fundamentais, como são exemplos a livre expressão, o respeito pelos direitos humanos ou mesmo uma visão social em que ninguém poderia ficar para trás. E são precisamente estas acções do passado que têm de inspirar as gerações futuras a defender uma crescente qualidade de vida e a lutar pela sustentabilidade do seu país.

Portugal, como, aliás, todo o planeta, enfrenta uma crise ambiental sem precedentes, com mudanças climáticas, perda de biodiversidade e níveis de poluição cada vez mais evidentes, representando ameaças sérias à nossa própria sobrevivência enquanto espécie. Felizmente, cada vez mais jovens encontram-se sensibilizados para estas temáticas, mobilizando-se em prol dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável fixados pela Organização das Nações Unidas, procurando que governações locais, regionais e nacionais adoptem medidas concretas para proteger o meio ambiente e promover o desenvolvimento sustentável das suas comunidades.

Compromisso de cidadania

Desde a participação em campanhas de reflorestação até à organização de projectos inovadores de reciclagem e educação ambiental, a juventude portuguesa não se fica pelo protesto, e, como preconizado pelo 25 de Abril, demonstram igualmente um real compromisso de cidadania ao procurarem soluções viáveis, modernas e que impactem positivamente todo o ecossistema em que se inserem.

Contudo, estas acções, individuais ou colectivas, não serão, por si só, suficientes. Admitirmos o papel que a juventude portuguesa tem vindo a desempenhar na promoção da sustentabilidade, e, acima de tudo, abraçar as suas ideias e expectativas, será de vital importância para se concretizar uma transição plena, dando espaço à política participativa, convocando estes mesmos jovens a apoiarem na tomada de decisão dos agentes políticos, que tanto precisam de abrir mentalidades e horizontes nestas matérias.

Só com o envolvimento da juventude conseguiremos implementar políticas públicas ambientalmente relevantes, como investimentos em energias renováveis, transporte público eficiente e agricultura sustentável. Já para não mencionar, claro, do contínuo acesso à educação ambiental e às novas oportunidades de emprego, inerentes à criação de uma economia verde.

Tenhamos a ousadia de criar os necessários espaços de diálogo intergeracional, permitindo uma participação ativa das/os jovens portuguesas/es e uma efetiva colaboração com as várias franjas da sociedade, e, certamente, verificaremos que o espírito reformador da Revolução dos Cravos perdurou – e perdurará –, mesmo que em tempos e com desafios diferentes, exigentes e complexos.

(*) Vereador do PS na Câmara de Coimbra