A Primavera chegou e com ela muitas plantas e animais regressam do pousio invernal. Nem tudo o que agora desperta nos é agradável: carraças, lagartas-do-pinheiro e muitos outros insectos podem ser motivo de desagrado e legítima preocupação. Mas fazem parte do ecossistema e por mais incómodos que sejam temos de aceitar a (nem sempre fácil) convivência com estes pequenos bichos.
Este espírito não se aplica, porém, às vespas‑asiáticas, as quais não eram, até há muito pouco tempo, parte do nosso ecossistema. São uma espécie invasora, que se multiplica a uma velocidade vertiginosa e põe em risco uma outra espécie, autóctone, muito acarinhada: a abelha melífera. De facto, as vespas são carnívoras, e as abelhas estão entre os seus petiscos predilectos. As vespas‑asiáticas fazem batidas às colmeias e caçam as abelhas, despedaçando-as e transportando os restos para o ninho, onde servirão para alimentar as larvas de vespa.
Os apicultores estão infelizmente muito familiarizados com os tremendos desafios que a praga suscita. Chegada à Europa no ano de 2004 vinda do sudeste da Ásia, a vespa‑asiática mostrou uma excelente capacidade de adaptação. Terá chegado à Bélgica em 2011, ano em que também terá chegado a Portugal, progredindo a uma velocidade de 60 km por ano. Neste momento está em todo o território belga. Mesmo em pleno meio urbano, são um terrível transtorno. No Verão, elas abundam nas esplanadas, terraços e parques de Bruxelas, perturbando a fruição de qualquer refeição, por modesta que seja. Porque se alimentam também no lixo, são um problema ao nível da higiene, mas a isso acresce o facto de picarem, o que acarreta riscos de saúde, porventura graves se o número de picadas for elevado ou se a vítima for alérgica ao veneno (facto pouco frequente, mas possível). Ao contrário das abelhas, uma vespa‑asiática pode picar até 10 vezes no contexto de um ataque.
Na Europa não há predadores naturais ou, pelo menos, não em número suficiente. Mas o Homem é um terrível predador (o mais mortífero e destrutivo que há, na verdade) e pode, aqui, dar bom uso a essa faceta. De Março a Junho, as rainhas fundadoras estabelecem, em sítios abrigados, os seus ninhos primários: um alpendre, uma garagem. Primeiro são pequenos, do tamanho de uma laranja. Depois crescem, atingindo o tamanho de um melão e, enfim, a colónia migra para um ponto alto, tipicamente o cimo de uma árvore, onde o ninho pode alcançar dimensões pavorosas. Nessa altura, já vamos tarde. A colónia terá já atingido milhares de exemplares e o estrago está em grande medida feito. Mas agora, em Março, Abril, cada pequeno ninho identificado e adequadamente destruído pode salvar milhares de abelhas e impedir a praga de alastrar. Para mim, a maneira mais fácil de identificar uma vespa‑asiática é pelas patas, cujas pontas são de um amarelo vivo. Quem se cruzar com uma destas nesta altura do ano deve tentar encontrar o ninho e comunicar a sua localização através de stopvespa.icnf.pt. Sem desanimar: as vespas-asiáticas são muitas, mas, afinal, nós somos 10 milhões!