A política é uma emoção, quando é entendida como um desejo e uma intervenção em serviço público, em que se contribui para melhorar a qualidade de vida das pessoas e restaura a sua dignidade, quando se torna a sociedade menos desigual apoiando quem precisa e tributando quem mais aufere.
E quando o País ao qual pertencemos e do qual gostamos cria condições de estabilidade económica, quando promove a realização dos cidadãos e famílias, quando estimula o desenvolvimento, a ciência e o progresso, quando está atento à sustentabilidade das gerações e do planeta.
Continua a ser emoção, quando se veem resultados em incremento de salários e pensões, quando as infra-estruturas se adequam à modernidade e aos legítimos interesses das populações, quando a organização social protege os desvalidos, quando o empenho, a dedicação e o mérito são reconhecidos pelos decisores.
Mas a política também pode ser uma ilusão, quando há promessas para não cumprir, quando há enganos e desenganos para incautos, crentes e mesmo habilitados, quando há vigarices que tentam fazer passar por diatribes, deturpações ou manipulações, quando se aplica quid juris (o que é de Direito) para saloios.
Vigarice, em português informal, significa trampolinice, trapaça, intrujice, roubalheira, gamanço, contrafacção, tráfico de influências. Para alguns. Para outros, poderá significar off-shore, gestão de recursos (receber apenas), aplicações financeiras preservadas (escondidas), fuga aos impostos, lucros excessivos não tributados, baixa do IRC para grandes empresas (as pequenas estão isentas).
É uma desilusão, quando aquilo em que se acredita (política como acto de cultura), nos faz desacreditar, por más práticas ou incompetência declarada, suspeições não comprovadas ou provas suspensas de aplicação, políticos de pacotilha ou como carreira garantida, pseudojornalistas e comentadeiros com privilégio da palavra e da suposta isenção e proficiência, sem dom da palavra nem da ciência.
Expectativas baixas
Há um novo Governo, qual conselho nacional do PSD, com expectativas baixas, com instabilidade incontestável, enredado em promessas para todos, com excedente orçamental a esgotar ao fim de um ano (se lá chegar), com as desculpas do passa-culpas ao anterior, com a incapacidade de inovar excepto no liberalismo e na redução do serviço público, com a perda dos trunfos adquiridos (emprego, fundos europeus, reformas interrompidas), com os casos, casinhos e casões futuros (vamos ver se a comunicação social enfeudada lhes dará o mesmo relevo que a outros).
A montanha não pariu um rato, em golpe palaciano que derrubou um governo legítimo, como se o PS fosse dispensável e tivesse um líder insubstituível (diz o povo, que de insubstituíveis está o cemitério cheio…). Pariu um governo, uma (frágil) maioria, um presidente, tão do agrado de intriguistas, dominadores, manipuladores, prepotentes e sacripantas.
À direita, veremos a agressividade e a ânsia salazarenta e fascistóide dos populistas, a deriva do PSD que já não é social-democrata, e a bengala do CDS sem ideologia que já não serve para nada, excepto para se embelezar a si próprio, qual espelho meu.
À esquerda, veremos as franjas da esquerda que se reorientam (aprendendo com os erros ou persistindo até à derrota final), e a renovação do PS anunciada pelo seu líder (que poderá ser a aposentação política da massa crítica penalizando a idade, ou a reforma das lideranças que não convenceram o povo e perderam as eleições).
Governo a prazo, políticas tradicionais em causa, jovens turcos em ascensão, experiência e competências com duvidoso reconhecimento, populistas com o abraço do urso, a canção da demagogia no top de vendas, eis as perspectivas, de forma pessimista. Mas a luta continua.
(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra