Na Alta de Coimbra, junto ao Jardim Botânico, o Seminário Maior é tido como um exemplo a seguir nos caminhos do turismo espiritual. O seu emblemático espaço está de portas abertas a todos, também aos que pretendam uma experiência única e diferente no caminho da espiritualidade.
O padre Nuno Santos, reitor do Seminário Maior de Coimbra, reitera ao Campeão das Províncias a importância de distinguir o turismo religioso – muito ligado a massas e a grandes itinerários – e o espiritual – centrado em grupos mais pequenos, famílias, pessoas individuais, que não é exclusivamente católico, mas mais virado para a espiritualidade, como são os retiros, saborear o sagrado ou as acções de silêncio.
Considera que “falta em Portugal uma rota de espaços de turismo espiritual”, algo que já existe noutros países da Europa. Gostava que em Portugal, conventos, mosteiros e seminários também pudessem ser olhados de outra forma, há alguns que já têm este conceito e trabalham no turismo espiritual em várias valências, mas está ainda pouco disseminado”.
Lugar de acolhimento para o turismo espiritual, o Seminário Maior de Coimbra é um “espaço de experiência único e prolongado na espiritualidade de quem chega”. Actualmente, com 72 camas de capacidade máxima, na semana da Páscoa, em 2024, o espaço dispõe de 60 camas para turismo espiritual, e cuja ocupação está já totalmente preenchida. Os valores para quem chega nesta circunstância turística são simbólicos: 35 euros por pessoa (dormida e pequeno-almoço incluído). Todas as outras valências, não alinhadas com o turismo espiritual, rondam, no preço por noite, com pequeno-almoço, os 60 euros.
Retiros e meditações
No Seminário Maior vivem neste momento 10 padres, mas há de tudo, pessoas que chegam enquanto completam um percurso académico, ou outras que, por carências económicas, habitam o espaço temporariamente. Além disso, aqui decorrem também conferências e congressos. Há também visitas guiadas, de terça-feira a sábado, em que qualquer pessoa pode visitar este lugar, único e habitado, e que detém o título de monumento nacional desde 2021.
Contudo, vinca o padre Nuno, o objectivo centra-se no turismo espiritual, tal como já acontece em muitos países europeus, em mosteiros e conventos que acolhem pessoas e que procuram estes lugares diferenciados para uma experiência espiritual (retiro, meditação, etc.).
Para potenciar esta oferta turística é essencial dinheiro. O reitor explica que a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia condicionaram muito essa exigência.
Mais quartos
O Seminário Maior vive apenas de fundos próprios e empréstimos, sendo que, ao todo, foram investidos seis milhões de euros no espaço. Mas para acabar a última ala, adianta, é preciso dinheiro. A ser possível, o espaço teria capacidade para 90 camas no último andar e mais 12 quartos com escritório no primeiro andar. “É um objectivo a curto prazo se a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) conseguir apoiar-nos, como foi falado em tempos. Aí, iremos conseguir. Caso contrário, será mais difícil”, afirma o padre Nuno Santos. Contudo, garante que sente “reconhecimento pelo trabalho e projecto por parte das entidades locais”, desde a Câmara até à União de Freguesias, tendo esta última contribuído, no passado, com um donativo de 10 mil euros.
Por fim, Nuno Santos alude ainda a outra atracção: um baloiço com vista para o rio Mondego e que tem sido um ponto turístico muito procurado para quem visita o Seminário.
Recorde-se que no Seminário Maior de Coimbra, de traço italiano e com mais de 250 anos de história, é possível contemplar desde as marcas do terramoto de 1755, aos vestígios das primeiras Invasões Francesas, passando pelas relíquias dos 12 apóstolos. No interior encontramos a Igreja da Sagrada Família, a Capela de São Miguel, a Sala dos Azulejos e a Biblioteca Velha, um lugar especial onde cerca de 9 mil livros desvelam a teologia e outros saberes, entre 1507 e 1800. Os aposentos episcopais – residência de alguns Bispos de Coimbra depois da “expulsão” do Paço Episcopal – a varanda do Mondego, a sala dos azulejos e a conhecida escada em caracol são outros dos locais que merecem a visita.
ANA CLARA (Jornalista do “Campeão” em Lisboa)
Texto publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 28 de Março de 2024