José Miguel Ramos Ferreira, “marido e pai de dois filhos incríveis”, segundo as palavras do próprio, é apaixonado pela vida, sempre em busca constante de desafios e superações. Embora a sua formação seja como advogado, é na gestão e execução de projectos, especialmente na área da hotelaria e turismo, que se sente realizado.
Actualmente, desempenha as funções de gestor de Turismo com Propósito na Fundação ADFP, além de, a nível político, ser o presidente da Comissão Política Concelhia do PSD de Miranda do Corvo e, agora, apresenta-se como candidato à liderança Distrital de Coimbra do PSD, cujas eleições estão marcadas para 20 de Abril.
Campeão das Províncias [CP]: Qual o motivo para se candidatar à liderança Distrital de Coimbra do PSD?
José Miguel Ramos [JMR]: Para responder a esta questão é essencial contextualizar historicamente o papel do PSD em Coimbra. No passado, o partido teve figuras influentes a nível nacional, como Figueiredo Dias, Mota Pinto, Barbosa de Melo, Costa Andrade, Manuel Porto e Xavier de Bastos. Posteriormente, sob lideranças como Alexandre Gouveia e Calvão da Silva, o PSD voltou a ter uma forte influência nacional, lançando nomes como Fernando Nogueira, Carlos Encarnação e Manuel Pereira. No entanto, actualmente há um vazio evidente na actuação do PSD em Coimbra, marcado pela falta de posicionamentos políticos da Comissão Política Distrital e pela ausência de reflexão e iniciativas próprias do partido. Urge uma transformação no PSD de Coimbra e eu peço uma oportunidade para liderar esta mudança.
[CP]: Mas o PSD tem a presidência de várias Câmaras do distrito de Coimbra…
[JMR]: Temos autarcas de grande qualidade espalhados por todo o distrito, mas precisamos de mais. Sendo uma força minoritária em número de Municípios, o PSD deve trabalhar para aumentar o número de autarcas, conquistando mais Câmaras e Juntas de Freguesia. Para isso, o PSD precisa de uma mudança significativa, ganhando relevância a nível nacional para atrair talentos de dentro e fora do partido. Além disso, é crucial que o PSD intervenha publicamente, criando espaços para que os membros demonstrem as suas qualidades e convicções, e para atrair participantes externos. A nova Distrital deve recuperar a capacidade de influenciar o país, reivindicar para a região e mobilizar as pessoas. As minhas prioridades são inverter a irrelevância política do PSD em Coimbra, vencer as eleições autárquicas, reflectir sobre o papel do partido no distrito adequado a 2024 e construir um programa para a região, que respeite as suas múltiplas facetas sem esquecer a coesão territorial. Para isso, é essencial envolver todas as partes interessadas na região, incluindo universidades e instituições locais, na construção deste plano de desenvolvimento para Coimbra.
[CP]:Esta candidatura tem a ver com os resultados destas eleições legislativas?
[JMR]: Confesso que as eleições legislativas foram um incentivo para avançar com esta candidatura. Já ponderava esta possibilidade com algumas pessoas, tinha percebido a minha capacidade de agregar várias sensibilidades dentro do partido, mas quando olhei para o panorama legislativo, senti que o PSD distrital actual é um partido isolado, que deixa demasiadas pessoas com qualidade de fora. É um partido fechado, que não valoriza a qualidade dos militantes nem procura abrir-se à sociedade civil. O resultado prático disso é que o leque de escolhas é muito pequeno e não corresponde às necessidades da região. Quando olhamos para o panorama nacional e percebemos que de Santarém para cima, Coimbra é o único distrito rosa do país, temos que ficar preocupados. O PSD não pode ganhar eleições em Coimbra se o que tiver para apresentar aos eleitores for este vazio completo. Veja-se que faz em Maio um ano que a distrital estava sem mandato. Dá a ideia que estavam à espera que o Governo caísse para fazerem as listas à sua maneira, sem terem sequer legitimidade eleitoral e estatutária.
[CP]: As eleições da Distrital têm o mandato que vai apanhar as autárquicas. É por isso que estão a aparecer vários candidatos?
[JMR]: A competição eleitoral é benéfica, promovendo confronto democrático em vez de mera continuidade. O meu único interesse é o projecto partidário, na conquista de mais Câmaras Municipais e no fortalecimento do PSD. Em Coimbra, o PSD tem mostrado que concelhos geridos pelo PSD são mais dinâmicos. É assim historicamente. Recordo aqui nomes como Jaime Soares, Flórido ou Fernando Antunes e sublinho o trabalho inspirador dos actuais. Em Coimbra, José Manuel Silva tem desempenhado um bom papel como presidente da Câmara, é desejável que se recandidate com o apoio reforçado do PSD. O partido precisa de melhorar os seus resultados. A Distrital do PSD deve-se envolver activamente, com uma visão clara para a região.
[CP]: Quer ser o candidato do PSD à Câmara de Miranda do Corvo?
[JMR]: Não. Acredito que é um concelho que obrigatoriamente terá que passar para o PSD nas próximas eleições. O Partido Socialista, ao longo dos últimos 10 anos, prejudicou imenso aquilo que é a realidade de Miranda do Corvo. Apesar da proximidade de Coimbra, apesar de ter todas as condições para o desenvolvimento, a verdade é que Miranda do Corvo tem regredido de forma inexplicável, perdeu mesmo mais de 1.000 eleitores em apenas 10 anos. Tem uma rede industrial muito fraca, continua com todas as grandes necessidades por cumprir. Acho que é urgente retirar o concelho do marasmo e acredito que haverá pessoas em melhores condições do que eu – que já estão a trabalhar para isso – para vencer a Câmara Municipal. Contarão com todo o meu apoio.
[CP]: Vai conseguir apoios em todos os concelhos do distrito?
[JMR]: Neste momento, já tenho apoio em todos os concelhos do distrito e estou à procura de mais. Eu, felizmente, quando avancei para esta candidatura, obtive o apoio de pessoas que me honram imenso, que partilham esta minha convicção e que aceitaram agregar-se, juntando várias sensibilidades numa lógica, quase uma frente comum para mudar o estado do partido no distrito. Em primeiro lugar, destaco a professora Margarida Mano, alguém por quem nutro uma enorme admiração. Foi uma brilhante deputada, cabeça-de-lista, vice-Reitora, que hoje é presidente da Entidade para a Transparência e que me honra com o seu apoio, algo que só me pode orgulhar. É também um exemplo claro de como o distrito desperdiça pessoas de superior qualidade. Também o professor João Paulo Barbosa de Melo, o engenheiro Paulo Júlio, o professor João Moura, o doutor Luís Leal, enfim, tantas pessoas que já me apoiam, porque percebem que o distrito e o PSD não podem continuar nesta inexistência e irrelevância.
[CP]: Agora o Chega tem dois deputados por Coimbra, como vão lidar com esta situação?
[JMR]: Considero que as pessoas estão cansadas da política superficial. Há dois anos atrás, o PSD sofreu uma derrota eleitoral em Coimbra. O engenheiro Paulo Leitão, em resposta a essa derrota, culpou o dr. Rui Rio, líder da Direcção nacional, pelos maus resultados, sugerindo que ele reflectisse sobre a sua posição no partido, entre outras coisas. Agora, infelizmente, em Coimbra, obtivemos o mesmo resultado, o que é profundamente decepcionante. O engenheiro Paulo Leitão afirma desta vez que vai candidatar-se à liderança distrital por ter tido um bom resultado nas legislativas… não é compreensível. E é disso que penso que as pessoas estão fartas. Coloco esta questão aqui porque o modelo dos partidos tradicionais, esta política superficial de dizer apenas o que convém em cada momento, esgotou-se. Como resultado prático, surgem novos partidos, muitas vezes sem qualquer coerência ideológica e carregados de populismo, mas que abordam questões que preocupam as pessoas e obtêm resultados sempre que os partidos tradicionais se demitem da sua função.
[CP]: Há alguma hipótese de conversação com o Chega?
[JMR]: Estou completamente alinhado com a Direcção Nacional do Partido e com a nossa história. O partido de Figueiredo Dias, o partido de Barbosa de Melo, de Mota Pinto, o partido da base programática do PSD nunca poderá abrir-se a entendimentos com o Chega, a menos que este modere as suas posições e comece a acreditar no que para mim é óbvio e inegociável.
[CP]: Está confiante com os resultados da sua candidatura?
[JMR]: Comparo o PSD em Coimbra a um iceberg: uma face visível, controlada pela Distrital, e uma grande parte invisível, composta por pessoas desiludidas e afastadas. O meu papel é alcançar essa grande fatia de pessoas, envolvê-las e construir um caminho juntos. Reconheço que não tenho todas as respostas, mas é meu propósito abrir espaço para essas reflexões. Não tenho medo de perder. Demiti-me da actual Distrital há dois anos por perceber que nada mudava. Agora, sinto que seria uma falta de respeito para com o meu tempo, enquanto militante, não apresentar esta alternativa tendo estas convicções. Quem me conhece sabe que nunca vou para perder.
Luís Santos/Joana Alvim