Portugal é recordista a consumir medicação para a insónia. Consumimos um número exagerado de medicamentos na área da doença mental. Muitos médicos parecem dealers de drogas legais.
Somos, na área da infância, dos maiores consumidores mundiais de medicamentos para crianças estigmatizadas, como hiperativas ou com deficit de atenção.
Muitos idosos consomem mais de 10 diferentes medicamentos, demasiados medicados com mais de 15, e, frequentemente, numero superior a 20, violando as orientações médicas internacionais. Muitos estão medicados com produtos recentes, sem haver certeza dos efeitos positivos, nem conhecimento dos riscos para os doentes.
Este consumo exagerado de medicamentos é péssimo para a saúde dos doentes; os riscos são elevados para as pessoas, só beneficiando o negócio farmacêutico.
Esta tripla realidade dá uma péssima imagem da prática médica nacional.
Esta realidade, que desperdiça milhões de euros sem justificação, deve-se á atividade comercial agressiva das empresas farmacêuticas e grave negligência por parte do Ministério da Saúde e Direcção-Geral da Saúde.
Os responsáveis políticos, se não fossem negligentes ou ignorantes, como tem acontecido, desenvolveriam programas de formação e sensibilização dos médicos e da população em geral, melhorando a literacia farmacológica, para prevenir os riscos da excessiva polimedicação.
A comunicação social não faz o seu papel crítico e informativo, sendo, frequentemente, agente de publicidade indirecta, ao serviço da gananciosa indústria farmacêutica.
O consumo exagerado de medicamentos é uma epidemia com riscos graves para os doentes. É mesmo a epidemia mais grave que enfrentamos, causando demasiadas mortes, doenças e sofrimento.
Espero que no próximo governo haja políticos competentes, não ignorantes, capazes de salvaguardar a saúde dos doentes e evitar desperdícios, orientando o dinheiro para necessidades efetivas, com benefício para as pessoas.
(*) Médico