O particularismo destas eleições legislativas é a emergência de um Parlamento fragmentado, com a ascensão de uma força política justicialista, racista, homofóbica e fascista que beneficia com o desgaste de PS e PSD com “casos e casinhos”. Uma ascensão cifrada em meio milhão de votos nos 50 anos do 25 de Abril.
Todavia, estou certo que dentro deste meio milhão estão centenas de milhares de concidadãos que não são, nem justicialistas, nem racistas, nem homofóbicos, nem fascistas. Simplesmente, descrentes dos “partidos tradicionais” – que vão muito além de PS e PSD – decidiram gritar o seu desalento da melhor forma que uma democracia lhes permite: com o seu voto.
Portanto, não devemos ver este meio milhão de votos no Chega como o início do fim, mas sim como o fim do início. Este grito de desalento – por uma vida que está excessivamente cara, onde comprar casa tende a ser um privilégio e o elevador social está permanentemente a emperrar por excesso de cunhas e de chico-espertismo – deve ser ouvido. E respeitado. E compreendido.
Este é o principal trabalho que compete ao novo Parlamento. Um Parlamento fragmentado. Um Parlamento coxo. Mas um Parlamento que continua a ser democrático e que, por essa razão, não se pode inibir de exercer a sua função legislativa e de fiscalização do Governo. É neste exercício que deve residir a construção de respostas para aqueles que manifestaram o seu desalento.
E na busca dessas respostas o papel do PS- mesmo na oposição – continua a ser fundamental. Um bom ponto de partida: abandonar o medo dos temas da justiça e propor mudanças. “Denúncias”, “segredo de justiça”, “hierarquia do MP” seriam um bom começo.
(*) Advogado e membro do PS