Os dados mais recentes apontam para cerca de 300 mil javalis em território nacional. Além dos danos causados nas zonas por onde passam (um javali macho pesa entre 50 e 250 kg, pelo que revira campos e estruturas ligeiras sem qualquer dificuldade), constituem um perigo para a circulação rodoviária, podem ser vectores da peste suína e também perturbam a biodiversidade: tendo uma dieta tão variada, tanto comem vegetais e tubérculos como coelhos ou lebres acabados de nascer, bem como ovos de pato ou perdiz.
Em Portugal, o único predador natural do javali é o lobo-ibérico. Infelizmente, o lobo-ibérico é uma espécie considerada em perigo e a sua população é relativamente reduzida. Não sendo possível encontrar ainda os dados do último censo do lobo-ibérico, realizado em 2019-2021, façamos fé no precedente, que data de 2001-2003 e aponta para 300 lobos-ibéricos em Portugal, que resistem no Minho e Trás-os-Montes, e que se debatem com grandes dificuldades imediatamente abaixo do Douro. A Sul do Tejo, estão extintos desde finais da década de 80. Manifestamente, não são a solução para os problemas imediatos causados pelo excesso de população de javalis, que se estende por todo o Portugal, além de que um aumento excessivo da população de lobo-ibérico teria muitas outras consequências.
O problema não é exclusivo de Portugal. Um pouco por toda a Europa, os javalis têm vindo a aumentar de número. Na Bélgica, os javalis são considerados um problema já não apenas do mundo rural mas também do tecido urbano. Com menos zonas despovoadas do que Portugal, a Bélgica assiste à invasão progressiva, por parte dos javalis, de casas, quintais, ruas e até escolas. Há caçadores chamados com frequência para abater javalis que se encontram em instalações privadas, pondo em causa bens e a integridade física dos cidadãos. Na Valónia, supõe-se que nas duas últimas décadas o número de javalis tenha triplicado. Paulatinamente, as incursões de javalis às cidades vão aumentando: as florestas situadas nas orlas urbanas são o habitat dos javalis, que se deslocam às cidades em busca de alimento e pelo caminho reviram terrenos, visitam sacos do lixo, fuçam hortas e quintais. Desde 2010 que a cidade de Seraing, no Sul da Bélgica, convive regularmente com os javalis e com os grandes problemas que isso coloca. O problema torna-se mais visível quando afecta pessoas, mas batráquios, répteis e aves são vítimas do excesso de javalis, já que estes comem os ovos daquelas espécies. Na Bélgica, o controlo dos resíduos urbanos de acesso fácil a javalis, a par da caça orientada, são outra peça da estratégia de combate: quanto menos alimento disponível nos espaços públicos urbanos, menos razões os javalis terão para visitar as cidades.
Em Portugal, os javalis são menos afoitos e marcam presença sobretudo no meio rural. As medidas de alargamento dos períodos e das modalidades de caça ao javali só pecaram por tardias. Há mais a fazer, mas importa reconhecer que, na actual configuração do território, os javalis são um problema para as pessoas mas também para a própria Natureza que queremos preservar. O controlo dos javalis é uma necessidade, a bem do equilíbrio dos ecossistemas.