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Investigador de Coimbra descobre nova espécie de orquídea de Madagáscar

12 de Março 2024 Jornal Campeão: Investigador de Coimbra descobre nova espécie de orquídea de Madagáscar

João Farminhão, investigador do Centre for Functional Ecology (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e do Jardim Botânico da UC (JBUC), liderou um estudo internacional, que revela uma nova espécie de orquídea de Madagáscar com um tubo de néctar que alcança os 33 centímetros (cm) de comprimento.

Nesta investigação, agora publicada na revista Current Biology, é descrita esta nova orquídea, denominada solenangis-gigante (Solenangis impraedicta). «Com as suas pequenas flores de 2 cm de comprimento, apresenta, proporcionalmente, o maior tubo floral existente entre as cerca de 370 mil espécies de plantas com flor, constituindo um novo paradigma de hiperespecialização ecológica, com grande valor para o ensino da evolução», explica João Farminhão.

O nome científico da solenangis-gigante, impraedicta (imprevista em latim), «é uma alusão à descoberta improvável de um novo caso de evolução independente de um esporão desmesurado e uma vénia à previsão de Darwin, que levou 130 anos a confirmar», revela o autor do estudo, contextualizando que esta previsão sobre a existência de borboletas com uma língua gigante, em Madagáscar, capazes de alcançar o néctar da orquídea angreco-cometa (Angraecum sesquipedale), com um tubo floral de mais de 30 cm de comprimento, é uma das mais famosas conjeturas da história da biologia, estando associada à génese do conceito de coevolução.

«A borboleta noturna Xanthopan praedicta é um dos únicos polinizadores possíveis. Além do angreco-cometa, até ao momento, só se conhecia mais duas espécies de orquídeas de Madagáscar com esporão de comprimento comparável. Desde 1965 que não se descobria uma espécie com uma adaptação tão extrema à polinização pelas borboletas de Darwin», afirma.

«Infelizmente, esta espécie encontra-se ameaçada de extinção, devido à destruição do seu habitat associada à exploração mineira e, potencialmente, à colheita ilegal de plantas para o lucrativo comércio internacional de orquídeas», lamenta o autor, acrescentando que, de forma a protegê-la da cobiça de coleccionadores não foram divulgadas as coordenadas exatas dos locais onde ocorre na natureza.

Além disso, «para assegurar a sua conservação em jardins botânicos por todo o mundo e satisfazer a futura procura desta espécie em colecções particulares, iniciou-se já a produção de sementes para propagação da espécie em cultivo», conclui.