Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, diz que conhece bem “cada canto do distrito” de Coimbra e está identificada com os problemas. A cabeça de lista do PS pelo círculo de Coimbra diz que se candidata a deputada com a mesma preocupação que sempre teve com o desenvolvimento.
Campeão das Províncias [CP] – Em 2022, o PS elegeu seis deputados por Coimbra. É possível eleger mais?
Ana Abrunhosa [AA] – O objectivo passa por eleger o maior número de deputados possível. Estamos no terreno a ouvir e a esclarecer as pessoas e as instituições. Acreditamos que a população sabe distinguir e reconhecer que o PS está do lado certo, que defende a melhoria da qualidade de vida, através de uma economia assente no conhecimento, mais competitiva, capaz de garantir melhores condições de trabalho para os jovens e trabalhadores, onde as instituições de ensino superior e os seus docentes e investigadores têm um papel importante. Mas a qualidade de vida também está dependente de um sistema social forte, através da escola pública, de um SNS forte e de um sistema de segurança social que garanta a solidariedade entre gerações. Tivemos a pandemia, temos a guerra, que trouxe uma inflação, e o Governo PS respondeu, não com cortes nos salários e nas pensões, mas com apoio a famílias e empresas. Garantimos, mesmo assim, contas certas.
[CP] – Com a experiência na acção governativa, qual é a motivação para se candidatar a deputada pelo círculo de Coimbra?
[AA] – É uma obrigação! Obrigação cívica e moral! Encaro, deste modo, a minha missão na vida pública. Fiz toda a minha vida adulta em Coimbra, desde a Faculdade até ir para o Governo. Sou docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, onde dei aulas até ir para o Governo. O trabalho que fiz na região e no distrito, sobretudo nos largos anos na CCDR Centro e, depois, como ministra da Coesão Territorial, teve sempre um foco especial: o desenvolvimento deste território. Julgo que é de extrema importância e uma mais-valia conhecer cada canto do distrito. Sinto-me totalmente preparada para reivindicar e implementar o que os cidadãos de Coimbra mais anseiam e precisam.
[CP] –O que pensa sobre um tema que lhe é caro: a mobilidade, fundamental para a coesão territorial, quando se fala na Alta Velocidade?
[AA] – É do entendimento do PS que a construção da “Nova Estação de Coimbra” permite qualificar toda a zona envolvente à “Estação Velha” e as melhorias serão sentidas desde a Avenida Fernão de Magalhães até à Pedrulha, apresentando vantagens significativas nos impactos ambientais e rentabilizando as infraestruturas já existentes. A “Nova Estação de Coimbra” é um projecto estruturante, fundamental para o desenvolvimento sustentável da cidade e nevrálgico para a reconfiguração do nosso modelo de mobilidade urbana e regional. Trata-se de um projecto que afirma Coimbra como pólo dinamizador da região ao gerar uma nova centralidade intermodal capaz de conjugar comboios, MetroBus, SMTUC, autocarros, automóveis e bicicletas, de modo eficiente.
A Alta Velocidade e a nova Estação estarão intimamente relacionadas do ponto de vista funcional e toda a área afecta à Estação deve acomodar e acompanhar as mudanças, uma vez que obra desta magnitude não se poderá centrar só em Coimbra. Temos um distrito heterogéneo, que vai desde a serra ao mar. A sua diversidade é a sua riqueza. Desde a economia azul nos concelhos do litoral, passando pelo sector agroalimentar na região do Baixo Mondego, às “Ciências de Coimbra” e à economia verde no interior. Para alcançarmos a necessária coesão territorial no distrito é fundamental garantir que construímos a região metropolitana de Coimbra. É por isso que a integração da Alta Velocidade em Coimbra B é um marco para a cidade de Coimbra.
[CP] – E quanto à habitação?
[AA] – Estamos a construir, como nunca, habitações públicas e residências estudantis para existir mais oferta pública. Os apoios à procura sem apoios à oferta apenas trarão mais especulação imobiliária. Há que aumentar a oferta de habitação. A CIM da região de Coimbra contratualizou com o Governo a construção de habitação social e a preços acessíveis, em todos os municípios e tem garantido o seu financiamento.
[CP] – E quanto à saúde?
[AA] – É preciso assumir e analisar duas realidades: primeira, o SNS foi sujeito à maior pressão da sua história com a pandemia; segunda, o envelhecimento da população “pressiona” o SNS e o PS apresenta respostas muito direccionadas para os lares e pessoas idosas, mas também para a reorganização, em Unidade Locais de Saúde, onde os hospitais trabalham em rede com os cuidados de saúde de proximidade, de forma a garantir que o cidadão tem serviços de saúde de proximidade, garantindo que a porta de entrada do SNS não se faz através das urgências dos hospitais.
A ULS de Coimbra tem um orçamento de mil milhões de euros, serve 400 mil utentes e 21 concelhos. Contudo, está a adoptar uma política de autonomia das equipas locais em parceria com os municípios, um trabalho em rede que beneficiará do facto dos HUC serem um hospital universitário que concentra conhecimento que poderá ser partilhado na rede da ULS.
Considero, que para além do diagnóstico e das acções concretas, é fundamental decidir prioridades, neste caso específico o PS assume, claramente, priorizar a defesa e o reforço do SNS. Não há dogmas contra o privado, não queremos o privado mais fraco, queremos um SNS mais forte.
Há muito por fazer devido às duas realidades que referi, mas o caminho é valorizar os profissionais de saúde, as suas carreiras e salários, investir em infra-estruturas e equipamentos, como fizemos no Centro de Saúde da Fernão Magalhães, no restante distrito com edificados novos e remodelação das unidades de Saúde, bem como estamos a fazer com a nova Maternidade.
[CP] – É preciso continuar a olhar para o Interior?
[AA] – Foi o PS que considerou o Interior prioritário na definição de políticas públicas. Enquanto Governo criou o Ministério da Coesão Territorial e uma Secretaria de Estado, fora de Lisboa, dedicada à criação e à implementação do Programa de Valorização do Interior. Este programa já permitiu investimentos no valor de cerca de 8 mil milhões de euros nestes territórios. Foram criados mais de 34 mil postos de trabalho directos.
A aposta tem de ser na continuação da valorização dos territórios, na qualificação das pessoas, na garantia do acesso à educação, saúde, cultura e transportes. É necessário reforçar os programas de mobilidade, com particular atenção para a captação de jovens qualificados. Depois, o incentivo à criação de emprego baseado no estímulo ao investimento empresarial é crucial.
Consta da proposta do programa PS também a eliminação das portagens das ex-SCUT do Interior, onde se inclui a A13 e a A14.
[CP] – O que o PS tem a dizer de «contas certas», «redução da dívida pública», «aumento do salário mínimo nacional» e «aumento do custo de vida»?
[AA] – Contas certas é o que o PS fez durante oito anos, ao contrário do PSD e das múltiplas revisões orçamentais. Redução da dívida pública é o garante do nosso futuro e o PS está a poupar milhares de milhões às novas gerações e a permitir que esse dinheiro seja investido, no Metro, na Linha de Alta Velocidade ou na Maternidade.
O aumento do Salário Mínimo Nacional é um orgulho para o PS. Pretendemos continuar a implementar equilíbrios que devolvam a dignidade aos trabalhadores. Trata-se de um aumento real no salário mínimo nacional de cerca de 400 euros em oito anos e, como os dados provam, uma influência positiva sobre o salário médio que já passou os 1.500 euros, como revelou o INE.
No que concerne o aumento do custo de vida, infelizmente é consequência natural da inflação pós pandemia e da guerra, da crise energética dos combustíveis e dos materiais inerentes às guerras e ao contexto de incerteza internacional. Estamos a conseguir enfrentar aos poucos, aumentando os rendimentos e os apoios sociais. Esta é uma realidade europeia. Mas os dados do INE referem que “em 2023, a remuneração bruta total mensal média por trabalhador aumentou, em relação a 2022, para 1.505 euros, numa subida de 6,6% em termos nominais e 2,3% em termos reais (no ano anterior, os crescimentos tinham sido de 3,7% e 4%, respetivamente).”
A “mãe” do Ministério da Coesão Territorial
Licenciada, Mestre e Doutorada em Economia pela Universidade de Coimbra, Ana Abrunhosa tem 53 anos. É docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, desde 1995. Em finais de Novembro de 2019 ingressou no Governo no Ministério da Coesão Territorial. Foi presidente e vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), vogal da Comissão Directiva do Programa Operacional Regional do Centro e presidente do Comité de Investimento do Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas (IFRU 2020), entre outros cargos que exerceu.
João Paulino (Jornalista do “Campeão” em Lisboa)
Entrevista publicada na edição em papel do Campeão das Províncias de 22 de Fevereiro de 2024