A morte representa a perda de uma vida, vida que daria alegria, partilha e apoio a quem dela tenha beneficiado, e é sempre uma tristeza que afecta alguém, que faz sofrer família e amigos.
É um acontecimento que o mundo lamenta, quando se trata de alguém apreciado pelo seu valor, pela sua capacidade e visão analítica, pela expressão das suas ideias, pela humanidade que transmite.
Alexei Navalny, resistente e lutador contra o regime sanguinário russo, corporizado pela figura atroz e actos ditatoriais de Putin, morreu (ou foi morto), por ser corajoso, ser humano, e contestar a falta de liberdade de expressão e a ausência de democracia.
Foi uma vítima de um sistema político autocrático, castrador de quem quer manifestar a sua opinião (direito básico da regulação entre as pessoas e afirmação de sentimentos), e opressor pela sonegação dos direitos humanos e pela violência. E foi um mártir de causas que tinha direito de defender, prezadas pelas pessoas que não estão enfeudadas à oligarquia russa (inclusive os russos vexados) e querem uma vida digna, pela paz, pelo pão, pela liberdade.
Não se reedita o passado (que é passado), com o czarismo, a servidão, os sovkhozes e os kolkhozes, o Partido Operário Social-Democrata da Rússia, os bolcheviques e os mencheviques, a revolução de Outubro, as lideranças de Vladimir Ilytch Ulyanov e Nadejda Krupskaia, em colisão com Liev Davidovich Bronstein e Iossif Vissariónovitch Djugashvili. Mas edita-se o presente, em que o regime imperialista, déspota e absolutista impera, subjugando os seus adversários internos em ideologia, dizimando os jovens que leva para a morte na invasão da Ucrânia, massacrando o povo com vida dura.
Alexei Navalny tinha família, tinha amigos, tinha apoios políticos pelo mundo livre e democrático, tinha possibilidade de se tornar um líder fora do seu país, vivendo da estima global, de conferências e exposições onde não teria limites de expressão, de fruição de vida em família e bem-estar. Mas preferiu regressar ao seu país, onde sabia que iria passar por agruras, iria ser detido, ser proibido de verbalizar ideias, ser perseguido pela influência política que tinha, ser agredido, levado para o isolamento nos confins da Sibéria e, quiçá, saberia que a sua vida teria um triste fim.
Com revolta pela crueza dos senhores do mundo, arrogantes, ditadores e violadores dos direitos humanos, como Putin, curvo-me perante a coragem, a dignidade, o valor, de um homem, como Alexei Navalny, que ficará na História, como um paladino da liberdade e da democracia.
Assim, expresso o meu pesar pela morte de Alexei Navalny, e a minha esperança (ainda que possa não a ver concretizada) de que haja um 25 de Abril nas estepes e urbes russas, que dê ao povo o que o povo merece.
(*) Médico