EMA: a abreviatura é curta, mas carregada de significado no que diz respeito ao ensino artístico na cidade. A nova Escola de Música e Artes de Coimbra abriu em Setembro do ano passado e já recebeu cerca de 130 alunos. Na sua génese está a necessidade de dar voz à música contemporânea e provar que a cultura não está presente só nos grandes centros.
Localizada na Rua Brigadeiro Cardoso 326, a EMA vive na morada que, um dia, foi a Escola de Fado de Coimbra. O espaço sofreu alterações e os métodos de ensino também. Afinal, a escola esforça-se por ensinar a Arte de forma livre e flexível. “Queremos, no fundo, ensinar os conceitos teóricos através de músicas que os miúdos gostem. Isto torna o interesse deles completamente diferente do que se estivessem a ouvir algo que não conhecem ou uma coisa mais clássica”, explica o director da EMA, Diogo Mendes, em declarações ao “Campeão”.
Assim, numa fase inicial o foco é captar a atenção dos jovens para que não lhes falte vontade de praticar o instrumento que escolheram. Esta acção incentiva ainda a que seja criada uma relação de proximidade entre alunos e professores. “Tentamos ter um ambiente bastante familiar e acolhedor”, confessa o responsável.
Canto e piano são os mais procurados
Guitarra e baixo eléctricos, bateria, violino, guitarra portuguesa ou ukelele. Na EMA há aulas para todos os gostos. Contudo, o destaque vai para o piano e o canto: as áreas mais procuradas pelos alunos. Aliado às sessões individuais – e para uma experiência mais completa -, a escola oferece ainda uma aula de teoria musical e, outra, de ensaio com banda, para que os estudantes possam sentir o que é tocar em grupo.
De acordo com Diogo Mendes, todas estas actividades são importantes para cultivar a vertente social da música, mas também para o desenvolvimento de competências pessoais. “Há imensos estudos que demonstram que aprender música tem muitos benefícios a nível da memória e da Matemática”, esclarece. Além disso, esta vivência possibilita “o interagir dos alunos com adultos” e o “saberem estar num espaço concentrados, longe de ecrãs”.
Engane-se quem pensa que as vantagens do nascimento da EMA se fazem sentir apenas no público infanto-juvenil. Tendo como missão “promover e desenvolver o ensino da Arte e da Música” em Coimbra, a escola traz mais-valias também para a região, já que esta “é uma área que ainda precisa de algum trabalho e de colmatar algumas diferenças sociais e de falta de oferta”, salienta o director. Na perspectiva do responsável, este espaço poderá contribuir para dar voz à cidade num panorama nacional. “Coimbra também é feita de Cultura. O desenvolvimento, não só da própria Cultura, mas também da sua apreciação, passa muito por este tipo de ensino artístico. Quando não o há, claro que é uma falha que é preciso combater”, acrescenta.
EMA dos pequenitos
Se é verdade que começamos a descobrir os nossos gostos e paixões desde muito cedo, a EMA não poderia deixar de fora os mais novos. A pensar nas crianças entre os 3 e os 6 anos, a escola criou a “EMA dos Pequenitos”, uma secção cujas aulas são programadas para despertar a curiosidade natural dos mais pequenos. “Nestas idades, os miúdos podem ainda nem se aperceber do que é a música e/ou tocar um instrumento. Este projecto acaba, assim, por ser importante não só para dar asas aos sonhos, mas, sobretudo, para fazer os próprios sonhos aparecerem”, sublinha Diogo Mendes.
Nesse sentido, o professor e director considera que o ensino musical deveria ter uma presença mais afirmativa nas escolas portuguesas. “Para termos consumo de Cultura também é preciso termos pessoas que sejam culturalmente activas. Claro que é nas escolas que esse tipo de Cultura tem de começar para que o público, em geral, tenha uma apreciação do que é e do trabalho que dá”, afirma. Diogo Mendes alerta ainda que, em Portugal, “a visão da vida de artista ainda é muito redutora, já que estes [artistas] são vistos como pessoas que trabalham pouco e que têm muitos vícios, o que não é verdade. Os artistas vivem em condições precárias e trabalham muitas horas”.
Adesão tem sido “enorme”
Em funções apenas desde Setembro de 2023, a EMA já conta com cerca de 11 professores e 130 alunos. Segundo Diogo Mendes, o balanço obtido por parte dos estudantes é “muito positivo”, já que “tivemos uma adesão enorme às nossas aulas, sobretudo, na faixa etária mais jovem”. O responsável destaca que “as pessoas têm ficado, o que é um óptimo sinal” e adianta que “tivemos as nossas audições, em Dezembro, com cerca de 80 participantes”.
Questionado sobre se esta escola poderia ter impacto no que diz respeito a fixar os jovens artistas em Coimbra, o director é peremptório: “Nós tentamos providenciar o melhor trabalho possível e as melhores condições aos nossos professores e alunos. Nesse sentido, podemos contribuir para a oferta de emprego na área das Artes que, de facto, é muito diminuta em todo o país e que está, principalmente, concentrada nos grandes centros”.
A Escola de Música e Artes de Coimbra apresenta mensalidades que vão desde os 57 euros aos 87 euros, mediante os serviços pretendidos. O espaço funciona, de segunda a sexta-feira, entre as 11h e as 13h, e as 14h e as 20h.
Cátia Barbosa (Jornalista do “Campeão no Porto)
Texto publicado na edição em papel do “Campeão das Províncias” de 25 de Janeiro de 2024