Chama-se ‘Itinerários Napoleónicos’ e trata-se de um projecto no âmbito da candidatura submetida ao programa ‘Valorizar – Linha de Apoio à Valorização Turística do Interior’, designada por Rede Temática das Invasões Francesas em Portugal. A sessão de encerramento do projecto teve lugar a 15 de Dezembro no Bussaco e o “Campeão” foi perceber qual o impacto que a iniciativa pode ter no território da região Centro.
“Surgiu no contexto da Estratégia Turismo 2027, com o compromisso de criar e estruturar novas ofertas turísticas integradas que permitissem desenhar produtos turísticos distintivos e de reconhecida atractividade turística no âmbito da temática do Turismo Militar”, explica ao “Campeão”, Emílio Torrão, Presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra – CIM Região de Coimbra (CIM-RC).
A CIM-RC liderou a candidatura, cuja reunião de arranque aconteceu em Dezembro de 2019, com um orçamento global de 430 mil euros. Daqui, nasce o projecto ‘Itinerários Napoleónicos’, “que emergiu como uma rede exemplar de cooperação” entre os municípios de Almeida, Bombarral, Elvas, Lourinhã, Mealhada, Mortágua, Penacova e a Associação para o Desenvolvimento Turístico e Patrimonial das Linhas de Torres Vedras (municípios de Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira).
“Juntos, estes territórios desempenharam um papel vital no período das Invasões Francesas, marcando profundamente a história política, sociocultural e económica de Portugal no início do século XIX”, recorda Emílio Torrão.
O responsável salienta que, no terreno, foi implementado um conjunto de sinalética informativa de suporte à visitação e foram desenvolvidas as experiências de realidade aumentada e realidade virtual, que vão estar disponíveis nos principais pontos de interesse e locais de visitação dos diferentes municípios. “Estas inovações, que marcam o encerramento deste projecto, garantem uma narrativa precisa dos contextos históricos únicos”, sublinha.
Outra iniciativa “muito importante” foi o lançamento, em 2021, do “Napoleão Bonaparte: o princípio do fim”, desenvolvido pela Science4You em estreita colaboração com o grupo de trabalho formado no âmbito deste projecto em rede. É um jogo para ser jogado em família, que alia o entretenimento ao conhecimento. Foram também desenvolvidas sessões de formação online com mais de 300 participantes e visitas técnicas aos territórios dirigidas aos agentes turísticos e colaboradores dos municípios envolvidos no projecto.
Para o Presidente da CIM-RC, a ambição é que “estas acções reforcem a oferta existente, exaltem os feitos heroicos e contem a História e as estórias das Invasões Francesas de forma dinâmica, preparando os territórios para oferecer ao visitante/turista a oportunidade de vivenciar os acontecimentos de forma autêntica”.
Produto turístico diferenciador
Há autarcas que alertam para a necessidade de mais investimento por parte do Estado para impulsionar o turismo militar. Emílio Torrão concorda com a aposta, já que o turismo militar “é um segmento turístico com um grande potencial de crescimento na Região Centro, pois contamos com um património histórico e cultural riquíssimo, ligado à defesa e à segurança do país”. “Esta temática tem vindo a assumir-se como um valioso e diferenciador produto turístico, dotado de forte capacidade de atracção não só no mercado nacional, mas também internacional”, adianta. No entanto, “este segmento ainda é pouco explorado e carece de uma estratégia turística robusta. É necessário investir na promoção e na divulgação do património militar da região, bem como na melhoria da infraestrutura turística e na formação dos profissionais do sector”.
Para Emílio Torrão, “o Estado tem um papel importante a desempenhar neste processo, pois pode apoiar o investimento privado, promover a cooperação entre os municípios e as entidades públicas e privadas, e desenvolver políticas de atracção de turistas para a região”. “É fundamental que o próximo Governo esteja atento a este activo e que valorize e invista no património existente. Tome-se como exemplo o museu militar do Bussaco que é uma perola, mas que necessita de investimento público”, avisa.
Em termos económicos, o turismo militar “gera receitas para o sector privado”, nomeadamente para as empresas de alojamento, restauração e transporte. Em termos sociais, “cria empregos e oportunidades de novos negócios para as comunidades locais. Também contribui para a dinamização da economia local e para a promoção da região”. Para a CIM-RC, que lidera o projecto, “o turismo militar tem um impacto muito positivo, pois contribui para o desenvolvimento económico e social da região e valoriza ativos e recursos existentes”.
O presidente da CIM-RC reconhece ainda que o país “tem dado alguma importância à promoção do turismo militar, mas ainda há muito a fazer. Existem alguns projectos de promoção do turismo militar, como o ‘Itinerários Napoleónicos’, que têm sido bem-sucedidos, mas que necessitam de mais investimento. A riqueza existente faz de Portugal um dos países com mais ativos no turismo militar que urge transformar em produtos turísticos. Mãos à obra”!
AUTARCA DA MEALHADA DEFENDE APOIO DA ADMINISTRAÇÃO CENTRAL
Também António Jorge Franco, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, defende a necessidade de investimento no património militar da região,
referindo-se concretamente ao Bussaco e concelhos da Mealhada, Mortágua e Penacova. No caso da Mealhada, diz o edil ao “Campeão”, há vários marcos histórico-militares na Serra do Bussaco, que complementam o património arquitectónico, religioso e natural. “Toda esta riqueza deveria ser trabalhada em conjunto, promovida de forma integrada. As zonas envolventes ao Obelisco e ao Museu Militar deveriam ser requalificadas de forma a tornarem-se mais atractivas e garantirem maior mobilidade ao turista”, vinca. Já no interior da Serra refere que existem vários locais que poderiam ser explorados turisticamente, por exemplo, os locais de pernoita, as rotas de fuga, etc. “Todo este património poderia ser trabalhado turisticamente, se fosse possível criar estruturas para tal. E para isso seria necessário investimento”, resume.
E, sem o apoio da Administração Central, o autarca considera que “será difícil existir uma intervenção global, que inclua o património existente em torno da Mata do Bussaco, nos municípios da Mealhada, de Mortágua e de Penacova. Creio que esta recuperação de património deveria ser encarada com um projecto uno e crucial na Região Centro”. Esta, recorda, foi de resto a premissa
para a criação do ‘Itinerários Napoleónicos’. E é esta ideia que também está
subjacente à marca “Mondego Bussaco”, criada precisamente pelos três municípios Mealhada, Mortágua e Penacova com o objectivo de promover e dinamizar a oferta turística dos três concelhos.
Sobre a recuperação do Museu Militar do Bussaco, o edil considera que se trata de um espaço “importantíssimo para a divulgação do turismo militar e das Invasões Francesas. É o local que testemunha, com rigor, os acontecimentos e as pessoas. Seria importantíssimo a sua modernização, que estivesse alinhado com uma estratégia comum, que pudesse oferecer soluções, por exemplo, tecnológicas aos visitantes, como de resto acontece agora com o equipamento de realidade virtual que foi entregue no âmbito do ‘Itinerários Napoleónicos’. E por que não ter, por exemplo, um pequeno centro de interpretação para as crianças? O importante seria definir-se uma estratégia que integre vários activos, nomeadamente o Museu Militar e a Fundação Mata do Bussaco”, sustenta.
Sobre este projecto, António Jorge Franco considera que “é importantíssimo, trouxe enormes sinergias e ganhos, que não podem perder-se. Foram largos meses com ações muito diversificadas e dirigidas a vários públicos. Veja-se
o jogo de mesa ‘Napoleão Bonaparte – o princípio do fim’, as soluções de realidade aumentada ou as ações de capacitação e formação dirigidas a agentes turísticos. Conseguimos, durantes estes meses, criar grupos de trabalho, partilhar informação, decidir conjuntamente acções que considerámos pertinentes para o desenvolvimento dos nossos territórios. E é esta união que acredito que continuará, de modo a potenciarmos o turismo, mas também a economia local e as vertentes cultural e social, em torno o património e do legado histórico relativo às Invasões Francesas e ao turismo militar”.
Por fim, o Presidente da Câmara da Mealhada considera que o turismo militar “está a ganhar terreno” e que os decisores, locais e nacionais, “já perceberam que se trata de um produto apetecível para o turismo e para o desenvolvimento dos territórios, sendo que não entra em concorrência com outros produtos, mas é sim complementar”.
Ana Clara
Jornalista do “Campeão” em Lisboa
Texto publicado na edição em papel do “Campeão das Províncias” de 11 de Janeiro de 2024