Aproxima-se a “Sexta-Feira Negra”, mais conhecida, seja qual for o país, como ‘Black Friday’. Descontos, promoções, preços de ocasião verdadeiramente excepcionais, eis o que alicia os consumidores até às lojas nesse dia: a expectativa de uma oportunidade única de fazer grandes compras por pouco dinheiro! Esta tradição comercial, com origem nos Estados-Unidos, assinala a primeira 6.ª feira depois do Dia de Acção de Graças – o mais importante feriado norte-americano. Como esse dia se celebra invariavelmente na quarta 5.ª feira do mês de Novembro, o dia seguinte há muito que surge associado ao início “não oficial” do Natal, com os americanos a optarem, logo aí, por realizar grande parte das compras de prendas natalícias. Essa 6.ª feira acabou assim por ficar associada ao arranque de uma grande época para os comerciantes. Há várias teorias sobre porque é que essa 6.ª feira acabou por ficar conhecida como “negra”, mas o facto é que a expressão pegou, e de tal forma que é hoje utilizada por comerciantes em todo o mundo.
Em Bruxelas, a ‘Black Friday’ é encarada por alguns comerciantes e mesmo pela própria cidade com um ligeiro torcer de nariz. Isto não significa que os grandes estabelecimentos comerciais a ela não adiram, publicitando com a devida antecedência os famigerados descontos. Mas a cidade de Bruxelas lançou, em paralelo à ‘Black Friday’, uma iniciativa com o apoio das autoridades chamada justamente ‘Local Friday’. O objectivo é levar os pequenos comerciantes locais de Bruxelas a realizar acções comerciais que se tornem apelativas para os consumidores. Não se trata de acrescentar mais consumismo ao já existente, mas sim de incentivar o comércio local, onde pontuam muitos produtos do “circuito curto”, mais sustentável porque mais próximo do produtor, por oposição às grandes marcas de multinacionais, cujos produtos são produzidos tantas vezes do outro lado do mundo, e nem sempre no respeito pelas melhores regras de protecção dos trabalhadores ou do ambiente. Assim, enquanto a ‘Black Friday’ põe em evidência sobretudo em produtos de grandes marcas internacionais, a ‘Local Friday’ procura dar visibilidade e apoio ao pequeno comércio que concorre com os grandes gigantes comerciais internacionais.
A ‘Black Friday’ é, sobretudo, uma estratégia para incentivar o consumo. Não surpreende por isso que boa parte das acções comerciais sejam relativamente decepcionantes: as promoções anunciadas não se materializam numa grande poupança, por exemplo porque o preço foi artificialmente aumentado algum tempo antes de modo a que o desconto posso agora ser apresentado como percentualmente maior, ou porque na verdade há promoções não muito diferentes ao longo de todo o ano. Isto sem referir os casos de fraude, através da Internet, com recurso a sítios de compras que são apenas esquemas de burla talhados para apanhar os mais desprevenidos entusiastas das grandes promoções de última hora.
Em Coimbra a ‘Black Friday’ parece não se estar a abater com grande fúria. Os sítios da internet dos maiores centros comerciais da cidade não dão mostras de grande envolvimento dos comerciantes nesta iniciativa, estando antes as baterias apontadas para o Natal. E ainda bem, até porque a ‘Black Friday’ tem lugar naquela que é a Semana Europeia da Prevenção dos Resíduos. Em Portugal, a associação ambientalista Zero apelou a uma ‘Green Friday’, em que a plantação de árvores sirva de manifesto contra o consumo excessivo. Em Bruxelas, tal como já sucedera em anos anteriores, algumas lojas encerram no dia da ‘Black Friday’, em protesto comercial contra esta iniciativa. A cadeia Dille & Kamille anuncia de forma bem visível no seu sítio Internet que na próxima 6.ª feira todas as lojas na Bélgica, Países Baixos e Alemanha estarão encerradas por o pessoal se encontrar nesse dia indisponível, em plena natureza, plantando árvores como forma de contribuir para a boa manutenção de diversas florestas. Em Portugal pedem-se árvores… e há quem as plante na Bélgica!