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Semanário no Papel - Diário Online

 

Hernâni Caniço

Hábitos nocivos e prejuízos para a saúde e a sociedade

3 de Novembro 2023

Jim Morrison, Kurt Cobain, Janis Lyn Joplin, Amy Winehouse, Cory Monteith, Philip Seymour Hoffman, foram figuras das artes, que morreram de forma súbita, por vezes enigmática, associada a várias dependências, que refectem uma das doenças com maior morbimortalidade dos séculos XX e XXI, a adicção, que tem comportamentos repetitivos, de forma compulsiva.

Analisemos o grau de importância que é atribuído em estilos de vida, quanto aos hábitos e ao prejuízo que representam para a saúde física e mental, considerando que se deve evitar o tabagismo como malefício, preservar-se do abuso do álcool, desviar-se do consumo de drogas, admitir que a vida familiar é afectada pelos hábitos nocivos, e pensar que a vida social pudesse (erradamente) ser melhorada pelo consumo de tabaco, álcool ou substâncias que alteram o estado orgânico e psíquico.

Evitar o tabagismo é um malefício, devendo ser completamente eliminado, pode ser visto como importante, por haver receio das consequências em saúde, por provocar mal-estar pessoal, familiar ou social, ou por ser uma despesa considerável. Ou pode ser tido como pouco importante, pela não apetência do produto, pela incapacidade de não abandono, ou pela ausência de afirmação e conceitos de bem-estar.

Evitar o abuso do álcool, agudo ou crónico, que prejudica gravemente a saúde, mais cedo ou mais tarde, pode ser julgado importante, pelo receio dos efeitos secundários e aquisição de dependência, pelo impacto social negativo na comunidade, ou por haver experiências anteriores negativas. Ou pode ser apontado como pouco importante, por não ser um hábito instalado e fomentador de desejo, por já haver habituação e ausência de autocrítica, ou pela assumpção do risco em saúde e o tipo de vida social em uso.

Evitar o consumo de drogas (leves ou duras), que conduz à perda de saúde e à viciação, pode ser olhado como importante, por haver conhecimentos adquiridos ou praticados, pela gravidade em saúde da dependência que representa, ou pelo encargo económico que traduz. Ou pode ser encarado como pouco importante, por haver um conflito entre a pessoa e a sociedade, pela actualidade da fase idílica do consumo, ou por influência do grupo social de integração comunitária.

Tabaco, álcool e drogas

A vida familiar é afectada pelos hábitos nocivos, conduzindo ao conflito e à dissolução, pode ser classificado como importante, para auto-defesa do agregado familiar, pelo concepção da relevância da harmonia familiar, ou pelo receio do impacto negativo nos membros do agregado. Ou pode ser marcado como pouco importante, pela predominância da vida pessoal e a desvalorização da vida familiar, por haver disfuncionalidade familiar prévia, ou pela fase de rotura familiar iminente.

Considerar (erradamente) que a vida social é melhorada pelo consumo de tabaco, álcool ou substâncias que alteram o estado orgânico e psíquico, pode ser reputado como importante, pela sensação de bem-estar imediato, pela secundarização e esquecimento dos problemas em curso, ou pelo exercício de influência e supremacia no grupo de amigos. Ou pode ser avaliado como pouco importante, pela compreensão dos malefícios sobrepondo-se aos benefícios do hábito, por irrelevância do hábito face à vida social do próprio, ou por ter alternativas de socialização com base em conceitos de prazer e saúde.

Que solução para as doenças da adição? Em função da pessoa, o esclarecimento sobre hábitos nocivos e as várias drogas em contexto de consultas de vigilância, a pesquisa de sinais e sintomas característicos das adições, o encaminhamento para instituições de referência, o apoio familiar durante todo o processo de desintoxicação e a reintegração da pessoa na família e na sociedade.

Em função da sociedade, comunicar é preciso, de forma a compreender, a esclarecer, e a integrar recursos em prevenção, seguimento e reabilitação.

Jim Morrison, ídolo e doente, também disse: “Eu vejo-me como um ser sensível e inteligente, mas com um coração de palhaço que me obriga a estragar tudo nos momentos mais importantes”.

(*) Médico