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Semanário no Papel - Diário Online

 

Hernâni Caniço

Estilo de vida e alimentação, de acordo?

6 de Outubro 2023

Escrevi sobre a realização pessoal, a família, os amigos, o trabalho e a sociedade, acrescentando agora o estilo de vida, com a indulgência dos leitores e a simpatia do jornal, que prezo. Nem todos, pois um indivíduo escreveu na esfera pública que os meus artigos são “bacocos”. Sem presunção, e porque em democracia as opiniões são legítimas, também tenho a legitimidade de responder como na Bíblia Sagrada (Mt 5.3) “bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus”.

O estilo de vida é examinado sucessivamente, em grau de importância, quanto à alimentação e nutrição na saúde e bem-estar, ao exercício físico para o mesmo efeito, aos hábitos e ao prejuízo para a saúde física e mental, à participação em actividades culturais e influência na saúde e ao grau de promiscuidade e relação saúde-doença.

Quanto à alimentação e nutrição na saúde e bem-estar, analisamos serem equilibradas e de qualidade para proteger a saúde; ter quantidade, espécie e paladar para bem-estar pessoal e social; ter baixo custo para satisfazer procura e necessidade; ter em conta o stress do dia-a-dia e a situação de saúde de cada pessoa; e ter em conta o trabalho da pessoa, a sua capacidade económica e os recursos logísticos ao seu dispor.

A alimentação e nutrição devem ser equilibradas e de qualidade para proteger a saúde, pode ser considerado importante, porque é uma evidência científica, além da saúde proporciona o bem-estar pessoal, familiar e global, ou porque promove o gosto pessoal. Ou pode ser visto pouco importante, pela experiência frustrante e desencanto pessoal, por perturbação psíquica, ou por incompreensão de objectivos salutares.

Deve ter baixo custo

A alimentação e nutrição devem ter quantidade, espécie e paladar que proporcionem bem-estar pessoal e social, pode ser tido importante, porque dá prazer aos sentidos, são apreciadas fontes de nutrientes e preparação adequada, ou porque previne e reduz doenças. Ou pode ser apontado pouco importante, pela noção de obrigação indesejada independente da motivação, pela desvalorização dos sentidos e do gosto pela alimentação, ou por situação de doença limitativa da fruição.

A alimentação (alimentos, confecção e indústria) deve ter baixo custo para satisfazer a procura e a necessidade, pode ser julgado importante, por prioridade sanitária e civilizacional da sociedade, pelo mecanismo de regulação de transacções em benefício do cidadão, ou pela existência de dificuldades económicas restritivas. Ou pode ser olhado pouco importante, pela auto-suficiência no consumo, por não reconhecimento do estado social prioritário, ou por haver interesses na venda ou troca de bens consumíveis correlacionados.

O aconselhamento alimentar deve ter em conta o stress do dia-a-dia e a situação de saúde (ou doença), pode ser encarado importante, por adequação às dificuldades pessoais de mobilização, por status de saúde e recursos familiares, por melhorar a taxa de cumprimento das regras alimentares saudáveis, ou por constituir mais ganhos em saúde. Ou pode ser marcado pouco importante, pela desmotivação para o cumprimento das indicações dos profissionais de saúde, por haver limitação da autonomia física e capacidade mental, ou pela inviabilidade prática de mudança de estilo de vida alimentar.

O aconselhamento alimentar deve ter em conta o trabalho da pessoa, a sua capacidade económica e os recursos logísticos ao seu dispor, pode ser classificado importante, pela ocasião e permissividade do tipo de trabalho, por haver situação financeira que permite maleabilidade de alterações e manutenção de regras e disciplina alimentar, ou por oportunidade em tempo e espaço físico para aplicação de dieta. Ou pode ser reputado pouco importante, por haver inadaptação explícita às condições necessárias, pelas consequências que podem advir em emprego e laboração, ou por obstinada atitude de rejeição.

Enfim, estilo de vida e alimentação, cada um toma o que quer, ou o que pode.

(*) Médico