À medida que nos aproximamos do Dia Internacional do Idoso, celebrado a 1 de Outubro, é imperativo realçar instituições que se destacam pelo trabalho notável que desenvolvem em prol da comunidade. A Misericórdia Obra da Figueira é um exemplo extraordinário desse compromisso, desempenhando um papel crucial na cidade ao oferecer cuidados e apoio a diversos segmentos da população.
A instituição, que abrange valências desde o acolhimento de idosos até à assistência à infância e juventude, tem sido uma referência no campo da solidariedade e do desenvolvimento social. Fundada em 1839, a Misericórdia Obra da Figueira tem vindo a crescer e a adaptar-se às necessidades emergentes da comunidade.
Um dos pontos de destaque é o Lar de Santo António, situado no Antigo Hospital da Misericórdia. Este lar, adaptado em 1982 para acolher idosos, passou por um processo de renovação entre 2000 e 2012, com investimentos substanciais que visaram garantir a excelência nas condições e serviços oferecidos aos residentes. Actualmente, tem capacidade para acolher 98 idosos e não se limita apenas a proporcionar um local seguro e confortável, mas também promove actividades recreativas e sociais para o bem-estar físico, emocional e social dos seus residentes.
A Misericórdia Obra da Figueira tem demonstrado um compromisso notável na área de assistência sénior. Ana Nabais, directora da área de estabelecimentos e serviços seniores, destaca que a procura por estes serviços tem vindo a aumentar, evidenciando uma população cada vez mais envelhecida e com necessidades específicas de apoio.
Com o Lar de Santo António a acolher 98 idosos e o Lar Silva Soares a cuidar de outros 50, a instituição assume um papel crucial no cuidado a esta parte da população. Além disso, o serviço de apoio domiciliário beneficia 30 pessoas, enquanto o centro de dia é disponibilizado para um pequeno grupo.
Prioridades e desafios na assistência aos idosos
Os principais constrangimentos surgem quando os idosos sentem dificuldades em se ajustar à mudança de ambiente, especialmente quando têm uma longa história numa casa que agora deixam para trás. No entanto, Ana Nabais observa que a transição é mais suave para aqueles que já chegam com demência, pois têm menos noção do local onde se encontram e com quem estão.
Lidar com idosos que sofrem de demências é um dos maiores desafios enfrentados pela equipa de profissionais da instituição. A alternância entre momentos de lucidez e períodos de desorientação exige uma abordagem cuidadosa e dedicada.
Relativamente ao envelhecimento activo e saudável, a instituição procura proporcionar actividades que estimulem os idosos, apesar de “algumas resistências associadas a problemas de audição e visão”. A participação é incentivada, mas nem sempre é fácil devido a estas limitações.
Sobre a admissão de novos utentes, Ana Nabais esclarece que a lista de espera é extensa, com critérios de prioridade bem definidos. Os sócios da instituição e os utentes já existentes têm vantagem, sendo que situações de maior gravidade no apoio domiciliário também são consideradas prioritárias.
A responsável sublinha a importância do perfil certo para trabalhar com esta população. “É necessário gostar verdadeiramente deste trabalho, pois é física e emocionalmente exigente”. Apesar dos desafios, a equipa da Misericórdia Obra da Figueira mantém um compromisso inabalável com a dignidade e bem-estar dos idosos.
Questionada sobre o que num cenário ideal não faltaria a estes idosos, Ana Nabais destaca a necessidade de “dignidade na última etapa das suas vidas”. Num mundo perfeito, a dedicação e assistência seriam ainda mais personalizadas, proporcionando um acompanhamento constante e individualizado. No entanto, a realidade exige uma gestão equitativa e profissional, garantindo que cada utente receba o cuidado e a atenção de que necessita.
Com um legado marcado por um valioso património histórico e uma dedicação incansável, a instituição tem vindo a contribuir significativamente para a promoção do bem-estar e da igualdade social na região.
O papel desempenhado pela equipa de profissionais envolvidos tem sido de uma relevância inestimável para o sucesso e impacto positivo alcançados pela Misericórdia Obra da Figueira. Através das suas diversas valências, a instituição tem oferecido, sempre, apoio e cuidado aos mais necessitados, abraçando desde os idosos até à infância e juventude.
Do acordo de cooperação às necessidades emergentes
Com 80% a 90% da responsabilidade pela assistência social a recair sobre estas instituições, os apoios do Estado têm-se revelado insuficientes e irrealistas, conforme refere Joaquim de Sousa, Provedor da Misericórdia Obra da Figueira. Os encargos adicionais decorrentes dos sucessivos aumentos do salário mínimo, embora justificados, e do grande aumento de despesas em todas as áreas, não foram acompanhados por um ajuste equivalente nas comparticipações do Estado através dos Acordos de Cooperação.
No caso específico da Misericórdia da Figueira, os custos extraordinários associados à pandemia foram estimados em 250 mil euros. Para alcançar o valor de referência estabelecido pelo Estado para a estadia dos utentes, são necessárias contribuições cada vez maiores, tanto por parte dos utentes e das suas famílias, como por parte da própria Misericórdia.
Num acto de resiliência e compromisso com a comunidade, a Misericórdia da Figueira mantém as suas portas abertas, proporcionando apoio directo a mais de 500 pessoas, entre idosos, jovens e crianças. A venda de património tem sido uma medida excepcional adoptada para equilibrar as contas e assegurar a continuidade e a qualidade, que não dispensa, dos serviços prestados.
Neste contexto, torna-se fundamental o reconhecimento e apoio à Misericórdia Obra da Figueira, bem como a reflexão sobre a necessidade de um ajuste equitativo nos apoios do Estado, de forma a garantir a sustentabilidade das instituições que desempenham um papel tão crucial na nossa sociedade.