Há em todos os países milhões de pessoas que aproveitam a época de Verão e, consequentemente, a altura de férias para visitar novos locais e enriquecerem-se com novas culturas. Coimbra atrai por esta altura milhares de pessoas, o que é benéfico para a cidade e para a sua economia. Depois de anos difíceis por conta da pandemia, o “Campeão das Província” procurou saber como foi este ano a procura turística na cidade.
A Universidade de Coimbra (UC) é paragem obrigatória de quem passa pela cidade. Considerada uma das universidades mais antigas do mundo ainda em actividade, a mais antiga e uma das maiores do país, a UC é um postal de visita para qualquer turista. Pela sua história, pelo património edificado e artístico e pelo seu simbolismo, atrai todos os anos milhares de curiosos que fazem questão de conhecer o espaço.
Só durante os meses de Verão deste ano, de Junho a Agosto, houve aproximadamente 120.000 pessoas que visitaram a UC, um número que triplicou desde 2021, ano ainda muito afectado pela pandemia de Covid-19. Ainda assim, os números de 2022 são muito semelhantes aos de 2023, com um ligeiro aumento este ano, essencialmente do número do turismo profissional [turistas que realizam a visita em viagens organizadas (autocarros)].
Segundo informação obtida junto da Universidade de Coimbra, entre os visitantes destacam-se os portugueses como a primeira referência e logo de seguida os norte-americanos como o povo que mais visita o espaço. Ainda no top 5 de nacionalidades com mais frequência nas visitas estão em terceiro lugar os franceses, depois os italianos e em quinto lugar os vizinhos espanhóis.
A UC proporciona neste momento uma visita que pode durar uma manhã ou uma tarde, dependendo também da disponibilidade e nível de interesse do público. A visita pode incluir conteúdos históricos (Palácio Real), arte sacra (Capela de São Miguel), botânica (Jardim Botânico), ciência (Laboratório Chímico e Gabinete de Curiosidades) e património imaterial (exposição do Museu Académico).
“Pretende-se que o turista visite e usufrua cada vez mais do vasto património da UC e não apenas da visita à Biblioteca Joanina. Pretendemos atrair mais turistas, com o aumento/renovação da área visitável e com um serviço de excelência na recepção e acolhimento de turistas”, referiu a UC ao nosso Jornal.
Recorde-se que a Biblioteca Joanina reduziu 20% no número de visitantes devido a obras de recuperação, as quais permitem manter conservado um dos lugares mais requisitados da cidade.
APBC procura cativar mais turismo, mas pede apoio
A presidente da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC), Assunção Ataíde, revelou ao “Campeão” estar apreensiva quanto ao futuro do turismo em Coimbra. Embora o balanço até seja positivo, a verdade é que há uma certa preocupação em conseguir manter os visitantes por alguns dias na cidade.
Assunção Ataíde destacou que uma das inquietações da APBC passa por criar meios para que os turistas sintam vontade em ficar mais do que um dia em Coimbra, fazendo assim aumentar o número de estadias de noite na cidade, que está registada numa média de apenas 1,4.
Um dos problemas apontados pela dirigente é precisamente a dificuldade em haver disponibilidade de alguns locais turísticos para os visitantes que ficam na cidade e que estão a pagar a taxa turística, uma vez que há dezenas de pessoas que chegam por meios de excursões que são planeadas com tempo de antecedência e acabam por ocupar as listas de reservas dos respectivos locais, deixando quem pernoita muitas vezes sem possibilidade de concretizar essas visitas.
“A APBC faz um apelo para que haja um plano estratégico sério para a região de Coimbra”, declarou Assunção Ataíde, apelando à necessidade de se criar laços com as entidades responsáveis pelo desenvolvimento do turismo, como a Câmara Municipal de Coimbra e a Universidade. “As boas práticas são a alma do negócio”, acrescenta.
A Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra tem como principal propósito cativar o turismo interno, tanto da própria cidade como do resto do país.
Assunção Ataíde realça, ainda, a necessidade de se criar um “bom posto de turismo, coisa que Coimbra não tem”. “Quando um turista chega à cidade não tem um local indicado para se deslocar”.
A presidente afirma que apesar de notar algum crescimento do turismo em Coimbra é preciso “mais apoios e união de todos”.
Comerciantes afirmam que o turismo “está fraco”
Pese embora as ruas de Coimbra preenchidas e de se ouvir constantemente vários idiomas, a verdade é que para os comerciantes o turismo não está como esperado.
Ao passarmos pela Rua Visconde da Luz entramos na ‘A Loja do Zeca’, bem à entrada da Baixa, e conversamos com Bruna Kannenberg, funcionária do estabelecimento, que nos confessa que este Verão “não está a ser tão produtivo como o do ano passado”. “Penso que não tem uma demanda reprimida como tivemos por causa da Covid-19 e por esse motivo não está tão forte quanto podíamos imaginar”, sublinhou, referindo ainda que apesar disso o negócio “está bom”.
O espaço que possui produtos 100% portugueses, feitos em várias localidades do país, tem disponível o licor de pastel de nata, a ginga de Óbidos, o licor Beirão, brinquedos vintage, ardósias com frases de Coimbra, ímanes pintados à mão com imagens da Universidade de Coimbra, bem como barricas pintadas à mão com chocolate. Com este leque de produtos, muitos são os portugueses, sobretudo a viverem noutros países, como França, Alemanha, Áustria, que acabam por entrar na loja e adquirirem um presente. Segundo Bruna Kannenberg há muitos turistas ingleses e franceses que também desfrutam dos produtos, assim como o povo asiático, “que são um público nosso muito forte”.
A poucos passos mais à frente encontramos Luís Braga, proprietário da loja Bragas Lda, dedicada a vestuário. O espaço embora tenha mais de um século está na família de Luís Braga há mais de 50 anos. Para o proprietário a localização da loja acaba por ser uma grande ajuda, mas considera que o turismo não está nos melhores dias. “A nível de quantidade de turistas na rua vê-se muita gente, agora aqui na loja entram poucas pessoas. Mas ainda é o turista que faz mexer isto, embora tenhamos muitas horas paradas”, referiu ao “Campeão”.
Segundo o comerciante, os turistas gostam “destas lojas mais antigas, embora muitas vezes entram só para ver”, mas, em geral, acabam por levar mais chapéus e bonés, quando decidem comprar algo.
Descemos até à Praça do Comércio e encontramos Maria Morais, dona da Casa Confiança, com artesanato típico português. Confessou que ultimamente tem havido uma afluência de turistas, sobretudo a partir de Julho, e isso é o que tem salvado as vendas, mas ainda assim não está como o ano anterior. “Este ano não está melhor, não estamos a igualar as vendas do ano passado. Penso que com a subida dos juros e tudo o que está acontecer tenha retraído um pouco os turistas”.
Para a comerciante, um dos problemas é a falta de parques de estacionamento o que acaba por se reflectir num número reduzido de turistas na Baixa. “O que nos falta é um parque de estacionamento, pois o que há mais económico é longe. Com os centros comerciais as pessoas afastaram-se da Baixa e como aqui não há estacionamento acabam por ir para lá”, lamenta.
Cristiana Dias
»» [Reportagem da edição impressa do “Campeão” de 7/9/2023]