É um cientista prezado, respeitado e escutado na comunidade nacional e internacional. Carlos Fiolhais é frenético, desenvolto no raciocino das ideias. Tem um ar meteórico, diria galáctico (de quem anda a viajar por aí a olhar para os céus, buscando descodificar o que nele mora…). Parece mergulhado numa emulsão de equações físicas com muitos números, onde ressalta a dança dos neutrões, dos protões e de outras partículas. Einstein não anda por aí, mas deixou legado.
Carlos Fiolhais estudou no Liceu D. João III, hoje Secundária de José Falcão, tendo feito carreira de docente e de investigador na Universidade de Coimbra, de onde já se aposentou. Sempre se dedicou a descobrir, a estudar, a reflectir e a interligar-se com a Ciência, a sua Física. Uma conversa animou uma destas tardes, num café de Celas.
Os buracos negros
Análise primeira para os buracos negros que caracterizou como um “sitio” cheio de matéria e energia. De tal modo concentrada – comentou – “que atrai tudo que está à sua volta, uma espécie de um íman. Um sorvedoiro cósmico que é um “monstro” e que suga tudo, qual aspirador estelar”.
Einstein falou desses buracos, o que poderíamos classificar de “o fim do Mundo”, faz mais de 100 anos sem que na sua época se tivessem descoberto tais evidências.
Somos e estamos numa via láctea, com o centro na Sagitário A, com duzentas mil milhões de estrelas. Tudo é – vulgarizou – sem dimensão. Todo o Universo é feito de galáxias e todas terão – explicou – “um buraco negro no centro”. Por seu turno, “o buraco branco, o big-bang, ou seja, o início do Mundo, é donde tudo veio” – precisou.
Para Carlos Fiolhais, o que não deixa de ser curioso e nos pode mover a sonhar com todo este meio do desconhecido e repleto de novidades, “as estrelas nascem, vivem e morrem” (às pessoas acontece o mesmo). Mas as que são mais pesadas – contou na conversa – “morrem mais rápido, como acontece a uma pessoa gorda que sofre mais problemas de saúde. Ora, a morte dessas estrelas, é – sempre – violenta quando explodem, provocando ondas de choque que podem chegar à Terra”.
Fazendo luz sobre o que nos fala, o nosso entrevistado replica que o Universo não é um local de paz e de sossego. É um espaço agitado. E comenta: “os únicos que podem pensar e descobrir o Universo, as suas entranhas, são as pessoas com a sua dimensão humana, o seu saber e o seu conhecimento”. É graça aos nossos conhecimentos e ao que os cientistas vão descobrindo – argumentou – que “podemos viver melhor, que mudamos a vida (exemplo, a longevidade de ontem com a de hoje ofereceu ao homem mais tempo de vida) que temos caminho e nos vamos desenvolvendo”.
A Missão Euclides
A sonda “Euclides”, designação dada ao telescópio que transporta, projecto da Agência Espacial Europeia, vai mapear, em formato tridimensional, 1/3 do céu. Com o seu telescópio, vai recolher luz do espaço, donde nos chega de todo o tipo – visível e não visível – destacando ultra-violetas, raios X e Gama.
“O céu está cheio de mistérios que os cientistas tentam descobrir para analisar e descodificar, porque o conhecimento do que está nessa massa azul ajuda a nossa civilização e pode dar-lhe pistas para encontrarmos horizontes de informação, de pesquisa e de novidades” – quis deixar vincado Carlos Fiolhais para que possamos estar conscientes que os estudos realizados pelo Homem trazem novas etapas e caminhos para as nossas vidas.
Esse equipamento, que vai andar lá por cima de seis a mais anos, acompanha a órbitra da Terra mas olha para o outro lado do espaço, não vê o nosso Planeta, está de costas para ele… Usa luz visível e infra-vermelha, digamos assim, para ver galáxias. A Euclides vai cartografar o céu, olhando a posição e a velocidade das galáxias, em relação a nós, à Terra.
Percebemos que alguns buracos negros, quando batem, provocam ondas gravitacionais. É preciso, porque não o sabemos ainda – relevou Carlos Fiolhais – “saber de que matéria são feitos”.
Perante a pergunta se a Terra corre o risco de ser atirada, um dia, para um desses buracos negros, o nosso interlocutor é peremptório: “como não existe nenhum buraco negro perto do nosso Planeta, essa hipótese é nula”.
Perigos para a Terra
A vida na Terra poderá ser comprometida por três razões que Carlos Fiolhais aponta: um embate com um asteróide, a guerra nuclear e as alterações climáticas.
Quanto à primeira, como manifestou, “a improbabilidade é grande. É uma tese pouco realista”. “Uma guerra nuclear é que seria desastrosa” – salientou – e reduziria a Terra a cinzas, destruindo a vida, devido a alterações do ambiente.
As alterações climáticas, provocadas pelo dióxido de carbono é que podem trazer consequências devastadoras, como secas, chuvas diluvianas, calor extremo, aumento das águas nos Oceanos e por aí adiante. Carlos Fiolhais regista que “podemos em poucas décadas resolver a questão, mudando as nossas atitudes e controlando o efeito de estufa, pelo menos os mais provocatórios para com o Planeta, como a emissão de gases ameaçadores, como os que provocam o efeito de estufa”. Concluiu: “Estamos a tempo de virarmos a página”.
Quando o Sol se apagar…
O maior problema que a Terra poderá registar é a “morte” do Sol – diz Carlos Fiolhais – “daqui por 5 mil milhões de anos”. Como se sabe, trata-se de uma “fábrica” de energia que transforma o hidrogénio em hélio, produzindo luz e calor.
Vai ocorrer – segundo o nosso cientista – “um desequilíbrio do Sol, ou seja, um processo físico que, por palavras simples, o fará expandir, primeiro e, depois, encolher. Consequentemente enfraquecê-lo-á, provocando a diminuição da luz que irradia, a qual ficará insuficiente para sustentar a vida. Ora, tal cenário, seria fatal para a Terra”. Mas faltam, ainda, 5 mil milhões de anos. Até lá, haja tino para termos destino…
Texto: António Barreiros
Publicado na edição em papel do “Campeão” de quinta-feira, dia 10 de Agosto de 2023