A consulta pública ao traçado da linha de alta velocidade entre Oiã e Soure, inserida no projecto da ligação Porto-Lisboa, encerrou na segunda-feira com 996 participações. O processo, que se estendeu entre 19 de Junho e 31 de Julho, recebeu críticas contundentes de autarquias e habitantes, gerando preocupações acerca do impacto ambiental, social e económico na região.
O troço Oiã-Soure, correspondente ao lote B da ligação Porto-Soure, tem sido objecto de contestações por parte de algumas autarquias, que apontam para diversos impactos negativos. No total, serão necessários cerca de 1,3 mil milhões de euros para concretizar o projecto, que atravessa os concelhos de Pombal, Soure, Condeixa-a-Nova, Coimbra, Cantanhede, Mealhada, Anadia, Oliveira do Bairro e Aveiro.
A Câmara de Anadia, do distrito de Aveiro, liderada pelo Movimento Independente Anadia Primeiro (MIAP), foi especialmente vocal na oposição ao investimento, chegando a lançar uma petição contra os três traçados propostos que atravessam o concelho. A preocupação com expropriação de terrenos, demolição de habitações e impactos ambientais, como a destruição de património natural e paisagístico, levaram a autarquia a defender o abandono do projecto.
Em Coimbra também se levantaram vozes contra o traçado de alta velocidade. Moradores da União de Freguesias de Taveiro, Ameal e Arzila manifestaram-se durante uma sessão de Assembleia Municipal, exigindo alternativas ao traçado proposto. Além disso, residentes da União de Freguesias de São Martinho do Bispo e Ribeira de Frades, bem como o presidente da junta de Ribeira de Frades, expressaram preocupação pelos impactos que a futura linha poderia acarretar.
A criação de uma nova ponte ferroviária sobre a Mata do Choupal também gerou críticas por parte de ambientalistas, que defendem a estação de alta velocidade em Taveiro. Os municípios da Mealhada e Oliveira do Bairro também defenderam traçados com menor impacto para a população, enquanto a Câmara de Cantanhede condicionou a sua aprovação do projecto à resolução de eventuais problemas com habitações.
Por sua vez, a Câmara de Coimbra propôs o eixo que prevê menos casas afectadas e a adopção de um plano de renovação e expansão para poente da Mata Nacional do Choupal, visando mitigar os impactos do projecto na região.
O projecto de alta velocidade Lisboa-Porto, com um custo estimado de cerca de 4,5 mil milhões de euros, pretende estabelecer uma ligação entre as duas cidades em apenas uma hora e quinze minutos, com paragens possíveis em Leiria, Coimbra, Aveiro e Vila Nova de Gaia. O desenvolvimento do projecto e construção da primeira fase (Porto-Soure) está previsto para os intervalos entre 2024 e 2028, e Soure-Carregado (a ligação a Lisboa) entre 2026 e 2030.
O troço Oiã-Soure pode ser visto como um desafio de proporções inesperadas, onde o descontentamento das populações parece voar mais rápido do que a alta velocidade do comboio. As questões levantadas pelas autarquias e cidadãos expõem a necessidade de encontrar soluções que conciliem o desenvolvimento com a preservação dos interesses das comunidades envolvidas.