A empresa da família Mendes tem mais de seis décadas de história, construídas com base no apoio familiar e na capacidade de inovar.
Actualmente, a sociedade limitada possui cinco lojas: três estão situadas na Baixa de Coimbra (local original), uma está na Rua dos Combatentes, também nesta cidade, e outra localiza-se na Figueira da Foz.
Um facto interessante é que, mesmo tendo passado pelo período de crise que a Baixa de Coimbra enfrentou, este estabelecimento voltado para o sector da decoração não apenas manteve-se aberto, mas conseguiu expandir-se.
O segredo para tal feito é a aposta em “qualidade” e num “bom serviço”, para além da incessante batalha, revelou Jorge Mendes, um dos quatro sócios e responsável pela gestão desse negócio.
“O segredo é a qualidade, a força e não baixar os braços. Às vezes com mais dificuldades, mas sempre a lutar para ficar”, explica.
Para saber um pouco mais desta casa repleta de história, o “Campeão” conversou com Jorge Mendes.
O início
A rede de estabelecimentos Jorge Mendes começou com um comércio, dedicado ao sector do lanifício e de fabrico de roupas, chamado “Casa dos Arcos”. O fundador foi o avô de Jorge Mendes (também chamado Jorge Mendes). “Acredita-se que isto tudo começou há 62 anos aproximadamente”, esclarece.
“Antigamente as pessoas iam às costureiras e aos alfaiates, coisa que agora quase não há, mas como tínhamos a parte de confecção de roupa, foi um passo depois a seguir para a decoração”, conta Jorge Mendes.
Assim, “há 40 anos” que esta família passou a trabalhar com o sector da decoração. Esta mudança de área foi promovida pelo pai do actual gestor que, para além de herdar o comércio, recebeu também o nome: Jorge Mendes.
Jorge Mendes (pai do actual gerente) foi um pioneiro na área da decoração. “Fomos inovadores na sessão de venda de decoração a toda a gente. Na época, as pessoas não decoravam as casas e não havia coisas para tal como há agora. Só depois é que se começou a explorar [o sector]” esclarece. “Foi a primeira [loja] na altura”.
Desde então, o comércio passou do avô para o pai e deste para o filho. Além disso, há aproximadamente quatro anos, a filha de Jorge Mendes (actual gestor), entrou para a empresa. Assim, esta casa está já na sua quarta geração familiar. Os quatro sócios que o conglomerado possui são, também, parte da família.
Jorge Mendes trabalha nesta empresa familiar desde os seus 20 anos
Pioneiros no sector da decoração
Jorge Mendes foi a primeira loja de decoração a surgir em Coimbra. Entretanto, não se manteve como a única do ramo por muito tempo. “Depois [da abertura] apareceram logo muitas outras”, que tinham por inspiração esta sexagenária casa.
Segundo Jorge Mendes, todos os ex-funcionários deixavam o comércio original e fundavam novas lojas. Por isso, “80% das casas de decoração de Coimbra saíram de pessoas que trabalhavam e aprenderam aqui”, completa.
Uma empresa familiar
Por ser um negócio familiar, o trabalho segue Jorge Mendes até à sua casa. “Esta empresa acompanha a nossa vida”, revela. Mesmo com o incessante trabalho, estes anos têm sido “um percurso duro, mas bom”, completa.
O gestor destaca, entretanto, que “a sociedade portuguesa está mais calma. Meu pai, por exemplo, passou por mais coisas, como a guerra, a crise dos anos 90, dos anos 2005, pela covid 19 e por situações muito mais complicadas do que a actual”. Actualmente, “as coisas estão mais calmas”, com excepção “das crises que vivemos em Portugal”, acrescenta.
Comércio tradicional
Como conta Jorge Mendes, “isto é um comércio tradicional puro e duro”. Desde a forma de trabalhar, até ao serviço prestado, esta casa conta um pouco da história comercial de Coimbra e, em especial, da Baixa da cidade. E, embora os anos tenham passado, “continuamos a manter os moldes de apoio ao cliente da mesma maneira que fazíamos antes”, refere.
Entretanto, mesmo com a ideia de manter vivo o espírito deste comércio, os produtos oferecidos não pararam no tempo, mas antes modernizaram-se junto das tendências actuais. “A casa é antiga, mas a colecção é actual”, afirma.
“Visitamos muitas feiras e fábricas, estamos sempre a tentar estar dentro do que realmente se procura e se vende”, refere.
As lojas Jorge Mendes vendem produtos para a decoração de casas, tendo sido
pioneira em Coimbra nesse sector
As tendências e a influência da globalização
Segundo Jorge Mendes, as tendências actualizam-se de forma a que quase não se nota. “Quando damos por elas, já são diferentes, já são outras”. Os tecidos, as cores, tudo sofre alteração ao longo do tempo. Entretanto, “ao contrário do que as pessoas pensam”, essa evolução decorre “aos poucos”.
No ramo da decoração, em especial, “as coisas estão mais calmas”. “A decoração está muito mais globalizada, como as roupas. Hoje em dia, quase todas as pessoas querem o mesmo, ou então algo próximo”, explica.
Jorge Mendes reitera que não tem vindo a acontecer uma evolução muito grande neste sector porque, por exemplo, por vezes casas inteiras seguem uma mesma paleta de cores e estilos similares.
A Baixa de Coimbra
“A Jorge Mendes sempre esteve na Baixa”, afirma o gestor. A casa lutou para manter-se no local onde “tem a suas raízes” e enfrentou, ao longo dos anos, os diversos problemas que estão relacionados com o comércio na zona.
“Houve tempos em que a Baixa teve uma força comercial incrível. Depois, as lojas âncoras, que traziam pessoas, foram embora”, explica. Então, teve início um momento complicado.
Para Jorge Mendes, “as pessoas só vêm à Baixa se tiverem condições para fazer compras, se tiverem qualidade”. Entretanto, a falta dessa oferta fez com que os clientes se afastassem cada vez mais.
Além disso, com “ruas cheias de lojas de recordações, cortiças e postais” verifica-se uma dificuldade maior em atrair os conimbricenses, já que esses são produtos voltados para turistas.
Para além destes factores, Jorge Mendes destaca outros problemas na zona, como a falta de estacionamento.
Os produtos
Entre os produtos comercializados, os clientes das lojas Jorge Mendes podem encontrar tudo o que diz respeito à decoração. Cortinados, tecidos, estores, estofos, revestimentos, tapeçarias, carpetes, papéis de parede e colchões possibilitam planear os detalhes para toda a casa.
Além disso, os produtos são feitos sob medida. Segundo o sócio, hoje em dia “as pessoas acabam por comprar cortinados por 20 euros, mas depois a altura é sempre a mesma, por exemplo”. Na Jorge Mendes, entretanto, é tudo feito de acordo com o tamanho ideal, personalizado para cada casa.
A empresa possui, ainda, uma loja específica para móveis, localizada na Rua dos Combatentes, em Coimbra, chamada “Manuel Mendes”. Embora faça parte da sociedade limitada, esta loja está relacionada com o grupo KA (Kilo Americano). “Somos os representantes da KA na região Centro, [por isso] temos um tipo de produto e uma colecção diferente”, afirma.
Os horários de funcionamento, para os que desejam (re)decorar o lar, são das 10h00 às 19h00, de segunda até sexta-feira e, aos sábados, das 10h00 às 13h00 (loja Manuel Mendes, na Rua dos Combatentes).
Os estabelecimentos que estão localizados na Baixa de Coimbra funcionam entre as 9h00 e as 13h00 e, posteriormente, das 15h00 às 19h00, de segunda a sexta-feira. Aos sábados, estão abertos durante a manhã (9h00-13h00).
Os produtos são todos feitos sob medida
Fernanda Paçó
»» [Reportagem da edição impressa do “Campeão” de 13/7/2023]