Coimbra das lições e tradições tem um enorme capital de conhecimento e cultura, e deveria ter um capital político, mas não tem de facto, porque a feira de vaidades local e a vã inclemência se sobrepõe ao realismo e à historicidade, porque o estigma da capital é Lisboa o resto é paisagem ainda permanece, porque as grandes obras são apenas inauguradas (por outrem) e não são valorizadas, porque a falta de estratégia colada à mania das grandezas faz contraponto e subjuga as ideias, a inovação e a razão (excepto quando venha do espelho meu).
Coimbra precisa de gerar atracção para os seus filhos adoptivos, vindos do interior lusitano, do mundo lusófono e do mundo global, saídos dos bancos da escola universitária e do ensino técnico-profissional em remodelação nacional, gerando emprego qualificado, em serviço público e direitos humanos como em serviços liberais concorrenciais, em profissões de vida quotidiana e novas profissões desmaterializadas e em proximidade.
Coimbra nunca vai ser um pólo industrial como a periferia de Lisboa, mas precisa de um parque não enfeudado ao poder autocrático, de captação de investimentos que transformem a sobranceria em acolhimento e a demagogia em incentivos, de realização de mostras, feiras e exposições da sua lavra, circunstância e produção, de espaços âncora de bens e serviços de legado cultural, de patrocinar as áreas de reabilitação urbana já criadas.
Coimbra precisa de turistas que reconheçam a sua mais-valia em património, arte, infraestruturas e serviços e exerçam o seu poder de compra, mas também precisa dos seus moradores, captando-os para a participação cívica e cidadã, proporcionando-lhes qualidade de vida, sentindo-os como orgulhosos da sua urbe e o direito aos direitos, como importantes, afectivos e solidários.
Coimbra é Património Mundial da Humanidade, mas tal não deve ser um slogan a ostentar sem fazer, a alegar sem reabilitar, a dividir em vez de unir. Coimbra é ainda o espírito de Coimbra, de liberdade e democracia, de ciência e responsabilidade, de singularidade e atractividade, de alegria e harmonia, de consciência e sapiência, de erudição e inteligência.
Coimbra precisa de um programa político, em que a seriedade se imponha ao propagandismo, a capacidade afaste a inépcia, a sobriedade ultrapasse a demagogia, a coerência elimine o oportunismo, a política seja cultura e não rebaixolice, a autoridade não se transforme em autoritarismo. Quem disser que é retórica, ou não percebe nada disto ou estará de má-fé ou falsa fé.
Coimbra nova ou nova Coimbra? Coimbra nova, porque é preciso uma alternativa que não trate os cidadãos como se fossem ignorantes, que garanta acção social que não seja maquilhagem, que colabore com o poder central e regional na defesa da autarquia e não invective quem decide sobre fundos estruturais, que se reveja na democracia como não tem feito, que não invoque a guerra da Ucrânia como causa de todos os males.
Nova Coimbra, porque é preciso quem fale para os cidadãos e não quem se sirva deles, é imperioso resolver os problemas e arranjar soluções e não se desculpar com os outros, e é urgente aproveitar as potencialidades, minimizar as fragilidades e criar articulação institucional e da sociedade civil sem vantagens unilaterais.
Coimbra não precisa de D. Sebastião vindo do nevoeiro nem de nenhum pato-bravo, nem de marketing calculista, nem de alguma comunicação social subserviente, quais velhos do Restelo aderindo à moda de ocasião e patuá, mas precisa de independência dos seguidores ávidos de prebendas, de competência na selecção de problemas e soluções, humildade na acção, de trabalho em equipa que não seja bajulação bacoca.
O cidadão de Coimbra quer Coimbra para si e para todas e todos, quer confiar em quem gere os destinos dos seus filhos e netos, quer progresso e desenvolvimento e não quer pecados esquecidos ou actuais, quer protagonistas que protejam e criem nova Coimbra, quer sentir que o seu tempo não acabou, que a Primavera está florida, que há qualquer coisa que não voou, que é um rio, um ar, na sua vida.
Assim, venha a ter.
(*) Médico