O amigo, pesaroso, lá foi dizendo que, se tivesse optado pela advocacia, seria um homem rico, mas preferiu ser um político pobre.
Que quis dizer Lacerda Machado?
Que conceitos de riqueza e pobreza estão subjacentes à afirmação de LM?
Estaria a pensar numa economia ética tendo como meta criar riqueza com equidade, erradicar pobreza e reduzir as desigualdades injustas, onde o seu amigo inserido poderia florescer?
Ou nesta nossa economia de expedientes e subserviência que mendiga subsídios e onde pululam uns espertos de má consciência, e onde o seu amigo poderia enriquecer?
Ou estaria Lacerda pensando, por acaso, numa sociedade epicurista, onde a verdadeira riqueza do seu amigo consistiria na pobreza capaz de prover à satisfação do que por lei da natureza necessitamos?
Uma coisa é certa: num país onde 1/5 da população está no limiar da pobreza, empurrar o primeiro-ministro para essa multidão de pobres é um acto de elevada solidariedade social a favor da igualdade em dignidade de todos os seres humanos.
Só foi pena o ar constrangido de Lacerda quando o disse?
Saberá Lacerda, com certeza, que a pobreza ocupa demasiado o pensamento: as pessoas ficam o tempo todo preocupadas com a forma com que vão pagar as contas, com o emprego, com a educação precária dos filhos e até como farão a próxima refeição, como alguém tão bem a retratou.
É esta a pobreza na mente de Lacerda?
Se sim, então, está claramente explicado onde o primeiro-ministro esgota o seu pensamento.