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Casas Regionais em Lisboa: muitas dificuldades e pouca gente

1 de Julho 2023 Jornal Campeão: Casas Regionais em Lisboa: muitas dificuldades e pouca gente

Elísio Chaves, presidente da Associação das Casas Regionais de Lisboa

As Casas Regionais foram criadas em Lisboa, grande parte na primeira metade do século passado, para apoiar e oferecer propostas para preencher os tempos livres a aqueles que migraram para a capital, à procura de melhores condições de vida. No presente, a realidade é muito diferente do passado e as representações regionais, carregadas de tradições e história, debatem-se com pouca gente e muitas dificuldades, que não são só as de natureza financeira.

A Associação das Casas Regionais de Lisboa (ACRL), que completa 16 anos em Novembro, desenvolve, desde há pouco mais de três anos, um trabalho para a renovação dos movimentos associativos, impulsionando as gerações novas, para que deem continuidade ao trabalho que foi desenvolvido por pais, avós e conterrâneos.

“Os jovens podem ser uma das maneiras de voltar a que as pessoas voltem às Casas Regionais. A ACRL está a apoiar Casas Regionais, em que os jovens apareceram, com uma dinâmica diferente”, refere Elísio Chaves, que preside à associação que congrega 32 Casas Regionais sedeadas em Lisboa, seis do distrito de Coimbra, como as representações de Arganil, Tábua, Góis, Penacova, Pampilhosa da Serra e das Beiras.

Em declarações ao “Campeão das Províncias”, Elísio Chaves, que também é presidente da Casa Regional de Tondela em Lisboa, sublinha a necessidade de “trazer jovens e fazê-los interessar-se pelas Casas Regionais», para evitar que representações regionais encerrem portas.

“Há Casas Regionais que desapareceram, com pena nossa, por deixarem de ter líderes com capacidade para gerir e realizar actividades, como também para manter o património existente em Lisboa”, afirma o dirigente da ACRL, também presidente da Casa Regional de Tondela.

Elísio Gouveia salienta a importância de entrada de sangue novo nas Casas Regionais, alguns jovens com qualificações e ideias novas.

“Temos, neste momento, Casas Regionais com gente bastante jovem. São proactivos e dinâmicos. Lembro-me da Casa Regional de Paredes de Coura, que esteve muito tempo parada e agora tem uma nova direcção. Todos os fins-de-semana, a Casa Regional tem actividades”, frisa, referindo também a existências de novas realidades nas Casas Regionais de Ponte de Lima, Paredes de Coura, Tondela, Pampilhosa da Serra, Castro Daire, das Beiras, do Minho, Tabuense e Cerveirense.

O presidente da ACRL, que iniciou recentemente o segundo mandato, destaca também a Casa Regional de Ponte de Lima, com “gente nova que arregaça as mangas», com muitas iniciativas, entre as quais o 1.º Festival de Folclore, no bairro lisboeta de Campolide.

No entanto, Elísio Chaves faz alusão à necessidade de as Casas Regionais dirigidas por jovens “não se fecharem no seu núcleo”, pelo que a ACRL “tem estado a puxar por eles”, dando “apoio e orientação”

“A ACRL pode apoiar, incentivar e orientar. Temos muita gente nova a entrar no movimento associativo e o que interessa aqui, às vezes, é o que a casa pode oferecer mais”, observa, notando que podem ser criados “núcleos desportivos – de ginástica, por exemplo -, porque há muitas instalações possíveis em Lisboa que podem ser utilizadas e as Casas Regionais podem ocupar estes espaços”.

 

Unir as Casas Regionais

 

Apoiar, estimular e “indicar caminhos”, e fazer a ponte para as entidades oficiais, como juntas de freguesia e a Câmara Municipal de Lisboa, são os objectivos que a ACRL persegue, com um propósito de as Casas Regionais não estagnarem nem definharem.

“Tentamos puxá-las para o nosso lado, para que as Casas Regionais ganhem vida, para que apareçam nas iniciativas e envolvam os seus municípios. Para que também os apoiemos, naquilo que nos é possível, a vencer as dificuldades”, declara Elísio Chaves.

A pandemia do novo coronavírus também afastou pessoas das Casas Regionais e a ACRL está empenhada em fomentar a proximidade e possibilitar atrair outras pessoas.

Por isso, a estratégia, assinala Elísio Chaves, tem-se uma aposta firme não só em recuperar os convívios como criar polos de promoção das regiões de origem, através da gastronomia, folclore e artesanato, com o apoio dos municípios.

Notando a “função social das Casas Regionais”, Elísio Chaves ressalva a importância da promoção de atividades para o desenvolvimento regional, particularmente no domínio do turismo.

“Temos Casas Regionais que estão a trabalhar no sentido de encontrar soluções alternativas no desenvolvimento e no apoio que têm de dar aos seus territórios”.

Com esta estratégia, o dirigente da ACRL entende que as Casas Regionais assumem “a sua importância como instituição com ligação a uma região”, podendo, também, serem um veículo de captação na capital de investimentos regionais.

Altera-se também o conceito que se tinha das Casas Regionais de apenas “matarem saudades” das terras natais em Lisboa.

 

Ajudar a resolver problemas

 

Elísio Chaves reforça a ideia de congregação das Casas Regionais, pois justifica que “as coisas funcionam muito melhor se as instituições encontrarem pontos de convivência”.

“Se uns puxarem para um lado e outros para o outro, não conseguimos chegar a algum lado”, diz, afirmando que a direcção da ACRL, formada por dirigentes de Casas Regionais, “não é uma estrutura fechada”.

Voz activa das Casas Regionais, a ACRL assume-se também como órgão que quer contribuir para a resolução dos problemas com que as representações em Lisboa se confrontam.

“Há muitos problemas, como o das instalações. Esse é também o problema da ACRL, mas estamos a estudar com um instituto uma nova sede, com uma renda mais baixa, na periferia de Lisboa”, refere, salientando “o património das Casas Regionais em Lisboa”.

A conjuntura económica e financeira das Casas Regionais é também preocupante, uma vez que algumas representações “realizaram obras nas suas instalações”.

Outras Casas Regionais aguardam contactos desenvolvidos junto da Câmara Municipal de Lisboa, para que o sonho de uma nova sede se torne real e se possa ter outras condições para promover actividades e gerar dinheiro.

 

JOÃO PAULINO