“Ninguém se julgue acima dos outros, nem desvie o olhar das misérias alheias, e muito menos, transforme os outros em cascalho para encher montes de orgulho e de poder” – palavras do Cónego Urbano Duarte que saudou a imagem da Rainha Santa Isabel, a 4 de Julho.1974, quando da chegada ao Largo da Portagem.
Detenho-me nessa sudação à Rainha Santa, porquanto, passados cerca de 50 anos, o que se pode extrair da alocução proferida por esse sacerdote, figura incontornável do ensino, da Igreja, de pedagogo e de jornalista, que pontificou Coimbra, de 1950 a 1980, tem o maior cabimento para a reenquadrar, hoje.
Questionava Urbano Duarte nessa sua intervenção – vem a mesma a propósito neste primeiro quartel do séc. XXI – e reproduzo:“Terá justificação, na hora presente, um cerimonial de rua com rugas de século?”.
Dizia esse Cónego que os teólogos se mostravam de pé atrás em relação a uma religião de “ramagem vistosa” (classificação do próprio), em favor de uma fé que “deveria brotar” do testemunho de cada um de nós…
Urbano Duarte interpelava, traduzindo as inquietações dos estudiosos da hermenêutica (significado dos textos) cristã, e já por esse tempo, que era preciso “cuidar mais da seiva do que da casca”.
O ex-director do jornal diocesano “Correio de Coimbra” assinala, na mesma alocução: “Que forças actuarão nas funduras da sensibilidade portuguesa, a não permitirem que seja esquecida ou deixe de ser amada aquela criatura chamada Isabel de Aragão? (…)”. E prossegue a sua ideia, ao ter feito ressoar a sua voz, perante milhares de peregrinos-fiéis, devotos da Santa Rainha:”só encontro uma resposta: Ela encarnou, como ninguém, o ideal lindo, humaníssimo e transcendente, com que nasce o povo deste pequeno País, ameno e ribeirinho do mar. Cada um de nós visiona nela o que, naturalmente, desejava ser, mesmo quando resvalamos, em flagrante contradição, com o exemplo da Santa Rainha”.
Descrevendo os mais sublimes sentimentos de Isabel de Aragão, entrelaçados entre esposa, mãe, Rainha e, depois, Santa, Urbano situando-a, quis aclarar a sua Mensagem: “O Cristianismo olha para o futuro. Ninguém será autêntico cristão se não amar mais o futuro que o presente: o presente não passa de coisa provisória e fugidia. Tempo é movimento! (…). O mundo e o homem estão a caminho (…). Que a Santa Rainha nos alcance o milagre da hora presente: milagre da luz e do amor” (afirmando que a luz de Deus, com a intercessão dela, nos alumia os caminhos futuros da vida; e só o amor liberta e constrói novas sociedades e o Homem Novo…).