Sempre tive simpatia pela reivindicação laboral e pela contestação social, quando traduz o desejo de melhoria das condições de vida pessoais e familiares, quando tenta promover a igualdade de oportunidades num mundo desigual e injusto por si próprio e pelos seus decisores, quando une os seus organizadores numa acção colectiva e rejeita o individualismo, quando aquilo que é exigido tem o selo do merecimento e o reconhecimento de capacidades, competências e desempenho, quando a pretensão proclamada não afeta os direitos legítimos de outros.
Não posso ter qualquer simpatia pela distorção da petição e pela agitação colérica, inflamada e irracional, quando os seus promotores têm interesses subjacentes deturpadores do conteúdo da exacção, quando são utilizados métodos corrosivos da dignidade e do bom nome das pessoas, quando a exigência é deste mundo e do outro sem autocrítica, quando o objectivo é a conflitualidade e a perversão do sistema democrático, quando os panfletários param no tempo e no modo, ignorando a época, a condição da sociedade e a reformulação do protesto adequado à realidade e às novas gerações.
A luta dos professores tem aspectos justos, quando procuram o respeito pela classe, não apenas pelo poder de ocasião, mas também pelos pais que educam (às vezes…) os filhos, quando reivindicam salários, condições de trabalho e progressões decorrentes da sua demonstrada eficiência e necessária dignidade, quando suportam alunos que formam um verdadeiro arrastão de indisciplina, geram uma perturbação do equilíbrio e do bom senso que outros têm e que fomentam o bullying, o gangsterismo e até a criminalidade, quando os decisores se escudam nos gabinetes e na incapacidade de negociação sem cedências bilaterais.
A luta dos professores pode ser sórdida, quando se comportam como marginalizados do respeito institucional e dos direitos de pais e alunos, espumando raiva e não a revolta lídima, exteriorizando disfunção psíquica e não a razoabilidade, quando procuram o inatingível porque os recursos não existem para todos hoje e agora (vide centenas de milhares de trabalhadores e múltiplas classes da função pública), quando invocam criatividade artística em cartazes que são situações de absoluto mau gosto, agressivas, discriminatórias, hostis, abjectas, violentas, estimuladoras da conflitualidade verbal, da agressão física e mesmo crime, o que se enquadra na definição e significado de racismo (in)cultural.
Em contraste, há ensino dúbio e ensino / aprendizagem, há professores que não o são e há professores que o são, há alunos por obrigação e há alunos por vocação (e respectivos pais), há poder autocrático e há decisores em regime democrático, há balbúrdia e tumulto e há debate / reflexão / consenso. Há e tem de haver.
Há cartazes, que são máscaras de fantasia e comédia, e alegoricamente transformam o seu autor de desprezado fracassado em ser completamente louco (como no cinema), e que não são uma forma de contestação proba e idónea.
Há máscaras, que nada têm a ver com o rosto, e decerto ofenderiam o espírito liberal, antifascista, progressista e socialista de Sophia de Mello Breyner Andresen (cantada por Francisco Fanhais e Adriano Correia de Oliveira): “Porque os outros se mascaram mas tu não, porque os outros usam a virtude, para comprar o que não tem perdão, porque os outros têm medo mas tu não”.
(*) Médico