As memórias das indústrias cerâmicas de Arganil, no interior do distrito de Coimbra, estão na base do projecto “Barro”, um espectáculo multidisciplinar com estreia marcada para 1 de Julho, anunciaram hoje os promotores.
Resultando de uma parceria entre o município de Arganil, a produtora Mundo em Reboliço e diversas instituições artísticas, culturais e sociais de âmbito local, o projecto foi desenvolvido ao longo de vários meses e conta com mais de 50 participantes, entre os 10 e os 85 anos.
“Partindo do barro, da sua maleabilidade, e de objectos do nosso quotidiano com ele relacionados, neste espectáculo são convocadas memórias e sensações invisíveis para contar poeticamente histórias de uma terra, similar em alguns aspectos a tantas outras da história recente de outros lugares do país, reinventando o espaço-tempo do presente e procurando uma projecção no futuro destas comunidades”, afirmou a organização.
“Barro” versa também sobre questões ambientais e políticas, concretamente “o papel das fábricas nestes territórios, o processo de industrialização e a forma como a matéria barro foi central em determinadas zonas”.
“Sobre o barro enquanto algo que tiramos à terra e que não sabemos devolver”, evidenciaram.
Contando com direcção artística e concepção de Filipa Francisco e Hugo Cruz e partindo do barro “para um percurso onde as memórias de uma região se materializam e criam futuro”, o espectáculo, agendado em duas sessões, a 1 e 2 de Julho, às 18h00, na Cerâmica Arganilense, surgiu com base num processo de criação colectiva, da produção à técnica, passando pelos figurinos e cenografia.
“Foi estabelecido um espaço de experimentação que, em simultâneo, se pretende que sirva como capacitação, aprofundando o saber fazer local e estimulando o trabalho em rede”, frisaram os promotores.
Adiantaram que o processo passou por várias fases: uma primeira de preparação e apresentação, seguindo-se “uma longa fase de investigação”, que incluiu entrevistas a antigos trabalhadores das cerâmicas e a um historiador, entre outras pessoas, bem como levantamentos textuais e fotográficos.
Da investigação passou-se para a ligação com os participantes e daí aos ensaios, que resultaram, agora, na estreia de “Barro”.
“Nos ensaios foram utilizados argila, telhas e tijolos como estímulo para despertar uma série de improvisações e de narrativas, não só orais, mas também do corpo. Isto permitiu criar imagens que constroem poeticamente o espectáculo”, explicaram.