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Semanário no Papel - Diário Online

 

António Barreiros

Padre António Sousa: o Senhor-Cáritas de Coimbra

9 de Junho 2023

Caracterizaria o Padre António Sousa, falecido recentemente, como o “Senhor-Cáritas de Coimbra”. Ele foi o fazedor-maior e o transformador mais dinâmico dessa Instituição de Solidariedade Social da Igreja Católica.

O sacerdote António Sousa, a partir de finais dos anos 60, princípios dos de 70, opera, com um dinamismo inovador e modernista, uma transformação sem igual, na Cáritas Diocesana de Coimbra, seguindo a mensagem Redentora e Social-Humana da Igreja.

Usando um verdadeiro espírito revolucionário e de actuação próxima, junto das comunidades paroquiais, traçou um Programa abrangente de bem-fazer e de promoção da dignidade humana. Para isso, António Sousa criou os Grupos de Acção Sócio-Caritativos nas Paróquias da Diocese de Coimbra. Motivou e incentivou jovens, que foi preparando, para os inserir nessas comunidades. Foram eles que realizaram levantamentos exaustivos das carências de cada pessoa – crente ou não-– e, também, das famílias e dos que se apresentavam mais vulneráveis.

Com esse espírito solidário e na luz do Evangelho, o de escutar, olhar e cuidar do próximo, o “Senhor-Cáritas de Coimbra”, fundou o que viria a ser, passados poucos anos, a partir de meados da década de 80, a maior Instituição de Solidariedade Social, em termos de funcionalidades de acções, de programas e de colaboradores, na Península Ibérica. O dinamismo desses Grupos, com reuniões planificadas, com palestras de sensibilização por especialistas e com apoio pedagógico-técnico de meios áudio-visuais (muito avançado para a época), acabou por dar os seus frutos no apoio a toda essa mancha de cidadãos carenciados.

Aliás, esses Grupos, conforme me confidenciou um ex-membro, o Silvino Salgueiro de S. João do Campo, foram portadores do dinamismo necessário e da força de intervenção suficiente para a mudança, no domínio do apoio social. Esses Grupos transformaram mentalidades para o que, e timidamente, na altura, já se chamava de inclusão.

António Sousa, de acção e espírito ousado, e já faz mais de 50 anos, interveio, de forma muito perspicaz e humana, na vida de centenas e de centenas de pessoas e de famílias com fracos recursos ou destruturadas. Ele teve o dom e a visão de, com esse tipo de intervenção, movendo mentalidades retrógradas e instaladas, incomodar para transformar…

Muito lhe ficamos a dever. Arrojado, disciplinado e de ideias precisas, o Pe. António Sousa deixa um legado com a sua força-mestre. Foi ele que possibilitou a implantação de estruturas, como as que se espalham pela Cidade de Coimbra – Sede da Cáritas com várias valências sociais, Centro da Rua Direita, Farol/Tovim e outras – e pela Diocese, as quais vão deixar, para sempre, a sua pégada de Homem fadado para o bem-comum, para a integração, para o social, e para a sua própria marca humana e pessoal.

A sua imagem, que se continuará a identificar com a sua obra, ficará a perpetuar a sua filantropia, a sua bondade, a sua disponibilidade para servir, devendo registar-se em toponímia da cidade para não perdermos de vista o seu figurativo de “Senhor-Cáritas de Coimbra”.

Recordo-o, curvando-me sobre o seu espírito, porque a sua perda me tocou. Acrescento: foi ele, homem de nobres causas, quando fui jornalista-correspondente no Distrito de Coimbra da Rádio Renascença, entre 1977-1989, que me franqueou os estúdios da Cáritas, no Seminário Maior de Coimbra, para que a Emissora Católica Portuguesa pudesse chegar com mais qualidade e rapidez, a partir da Capital do Centro do País, a todos os portugueses.