Ser presidente da Cooperativa Agrícola de Coimbra deve ser uma permanente dor de cabeça. Ficam na sua área as grandes extensões de milho do Vale Mondego e esta planta quer muitas vezes uma coisa e o seu contrário. Quer água e calor e nem sempre se conseguem reunir estas duas condições. Por exemplo este ano, têm calor mas não têm tido água. Outros anos tiveram água a mais e calor a menos. Os produtores andam por isso com o coração na boca, tantas vezes de olhos no horizonte na busca de sinais meteorológicos que os tranquilizem. O “Campeão” pediu ao presidente da Cooperativa, Eng.º Pedro Pimenta, que nos fizesse um breve retrato da situação de momento da cultura do milho na nossa zona. Fê-lo com simpatia e é essa conversa que a seguir reproduzimos:
Campeão das Províncias [CP]: Como está a correr a cultura do milho este ano?
Pedro Pimenta [PP]: A instalação da cultura do milho este ano está a bom ritmo, o facto de termos tido um Abril seco permitiu que as sementeiras se realizassem mais cedo que o normal.
[CP]: Qual a área para a produção de milho este ano?
[PP]: A área de milho não altera muito significativamente de ano para ano na região, sendo cerca de 6.000 hectares desta cultura no Vale Mondego.
[CP]: A falta de água é uma preocupação?
[PP]: Será sempre uma preocupação junto dos agricultores. As alterações climáticas são uma evidência e este ano em particular que nos permitiu antecipar as sementeiras praticamente um mês. Necessariamente vamos ter que nos adaptar a novas épocas de sementeira e colheita, novas técnicas agronómicas, variedades melhor adaptadas, sermos mais eficientes no uso da água e utilizar técnicas de rega mais ajustadas a esta preocupação em torno da utilização da água.
Mas do lado do poder político terá necessariamente de haver uma estratégia de investimentos em torno da armazenagem deste recurso (água), vital á sobrevivência humana, que nos permita armazenar no Inverno para poder utilizar no Verão, sem esta visão estratégica/política, não haverá certamente sustentabilidade económica, social e ambiental dos territórios rurais.
[CP]: Quantos produtores há na região?
[PP]: Na Cooperativa Agrícola de Coimbra cerca de 300 produtores de milho
[CP]: A produção do milho é uma actividade lucrativa?
[PP]: Ser Agricultor é uma forma de estar na vida muito diferente das demais actividades, e a prova disso mesmo é o que se tem vindo a constatar desde 2022, que sofreu o maior aumento de custos de produção deste século, desde fertilizantes, combustíveis, energia, equipamentos, com subidas que foram vertiginosas. Foi o caso de alguns fertilizantes com aumentos na ordem dos 80%. E as razões são por demais conhecidas, iniciaram em 2020 e 2021 com a instalação a nível global da pandemia Covid-19 e que culminou com a guerra instalada na Europa a 24 de Fevereiro de 2022, entre as maiores potências (Ucrânia/Rússia) de produção de cereais e fertilizantes do Continente Europeu. Apesar de todos estes constrangimentos de aumentos de custos de produção, que no caso do milho grão, representou investir na instalação da cultura (Abril/Maio) mais cerca de 1.000 euros/ha que os anos anteriores, ultrapassando os 2.500 euros/ha de custo de instalação. No entanto sem qualquer certeza de que quais serão os preços de venda dessa cultura, onde inevitavelmente a ansiedade reina e a pergunta mais comum é, “e se o preço do milho não cobre os nossos custos?”. Apesar destas dificuldades os agricultores não se inibem da sua função mais nobre que é produzir alimento para uma sociedade em constante crescimento, num ato de grande coragem e risco, mas também de confiança nas Organizações de Agricultores que os apoiam.
[CP]: O Estado dá apoios compensadores?
[PP]: Os apoios são essencialmente da PAC (Política Agrícola Comum), transversais a todos os agricultores europeus, que visam fundamentalmente obter uma alimentação segura, com os mais altos padrões de qualidade, em abundancia e a preços condignos para os cerca de 500 milhões de cidadãos do nosso Continente Europeu.
Imagem: Revista Agricultura e Mar
Entrevista publicada na edição de quinta-feira do “Campeão” (25/05/2023)