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Semanário no Papel - Diário Online

 

Hernâni Caniço

Que força é essa, amigo

26 de Maio 2023

Os amigos têm qualidades e capacidades que levam ao fortalecimento da relação de amizade, por vezes transformada em amor, mas outras vezes tornando-se desavença.

Há uma escala de valor para a aparência e a capacidade de atracção física dos amigos, para o seu conhecimento e competência pessoal ou profissional, para a sua capacidade de compreensão e interajuda, para a sua experiência pessoal e profissional e para a confiança e segurança que os amigos lhe transmitem.

A aparência e a capacidade de atracção física dos amigos, podem ser valorizadas, em função de estímulo pessoal e visão idílica, ou através do reconhecimento e sedução no grupo de amigos e do impacto social com entusiasmo e paixão. Ou podem ser pouco valorizadas, por estar em segundo plano quanto a outras qualidades de proximidade, afecto e desempenho, por ser considerada futilidade e polivalência de sentimentos irrisórios ou por apresentar risco de perfil com instabilidade emocional.

O conhecimento e competência pessoal e profissional dos amigos, podem ser valorizados, como admiração, deslumbramento, fascínio ou até idolatria, por serem um complemento de perfil generoso e de ajuda interpares, ou por ser uma vantagem na dinâmica da relação pessoal e profissional. Ou podem ser pouco valorizados, como génese de distanciamento complexado, por terem um perfil introspectivo não sociável, ou por terem obstinação técnica e científica em detrimento da relação humana.

A sua capacidade de compreensão e interajuda, pode ser valorizada, como essencial para o sentido de vida da pessoa que avalia o comparsa, como “ombro” amigo em situação de dificuldade e problema pessoal, ou como virtude e força para ultrapassar situações, desmotivação e abatimento. Ou pode ser pouco valorizada, como um recurso existente porque há falta de outras qualidades, por inerência e obrigação devidos ao estatuto e vínculo de amigo, ou por paralelismo e equiparação com o próprio, que se considera com traço comum.

A sua experiência pessoal e profissional, pode representar valorização da sapiência e práxis como prioridade, ser uma mais-valia e um ganho acrescido no relacionamento, ser um conforto e tranquilidade sem complexos. Ou pode ser pouco valorizada, por constituir uma lição não desejada mesmo que invejada, ser um travão ao aperfeiçoamento e à inovação, ou por ter um desempenho entendido como mediano ou de mediocridade.

A confiança e segurança que os amigos lhe transmitem, podem ser valorizadas, como crédito e garantia de apoio, por representar bem-estar e esperança, por haver honestidade e um reforço de aproximação. Ou podem ser pouco valorizadas, por serem desinteressantes e aborrecidas, por serem impeditivas ou pelo menos limitativas de acto comum e aventura (porque uma aventura é uma aventura…), ou não achar graça nem estímulo à ousadia.

Que força é essa, amigo!… Que te traz poder para me encantar. Ou que te origina desilusão e ingratidão, e me traz deslealdade e traição.

Um amigo nunca se perde. Conserve-os, dê-lhes força, receba coragem.

(*) Médico