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Estudo revela que desigualdade de género tem impacto nas estruturas cerebrais

17 de Maio 2023 Jornal Campeão: Estudo revela que desigualdade de género tem impacto nas estruturas cerebrais

Um estudo realizado por investigadores de 29 países, incluindo o médico psiquiatra conimbricense Tiago Reis Marques, do King’s College em Londres, revelou que a desigualdade de género tem um impacto prejudicial nas estruturas cerebrais das mulheres. A pesquisa, que utilizou milhares de ressonâncias magnéticas, comparou as imagens cerebrais de mulheres provenientes de países com diferentes níveis de igualdade de género.

O estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Science, destacou que mulheres que vivem em sociedades com maior desigualdade de género apresentam diferenças nas estruturas cerebrais em comparação com mulheres que vivem em sociedades com igualdade de género. Essas diferenças foram observadas nas análises dos volumes de diferentes estruturas cerebrais e da espessura do córtex, indicando que a desigualdade de género afecta negativamente o funcionamento cognitivo.

O investigador Tiago Reis Marques explicou que a motivação para o estudo surgiu da constatação de que a desigualdade de género tem impactos sociais, como um ambiente prejudicial para as mulheres, maior risco de doença mental e pior desempenho académico em comparação com homens e mulheres de países com igualdade de género. O estudo procurou compreender se a desigualdade de género também provoca alterações nas estruturas cerebrais e os mecanismos neuronais associados a essas mudanças.

Os resultados obtidos indicaram que em países com maior igualdade de género, não foram encontradas diferenças na espessura cerebral entre homens e mulheres. Em alguns casos, inclusive, foi observada uma espessura cerebral maior nas mulheres do que nos homens. Por outro lado, nos países com maior desigualdade de género, a espessura cerebral das mulheres era menor do que a dos homens. Essa redução era mais evidente no hemisfério direito e em regiões cerebrais responsáveis pelo controlo emocional, resiliência à adversidade e resposta ao stress.

O estudo concluiu que a desigualdade de género tem uma consequência neurobiológica e que as alterações cerebrais observadas podem explicar o maior risco de doença mental e declínio cognitivo nas mulheres. Os resultados destacam a importância de promover a igualdade de género não apenas como um imperativo moral e social, mas também como um imperativo biológico.

Os investigadores enfatizam que os dados obtidos devem ser considerados na implementação de políticas públicas nacionais, especialmente nos países onde a desigualdade de género é mais evidente. Além disso, acredita-se que as descobertas desse estudo abram caminho para uma maior contribuição das neurociências no apoio às políticas sociais.

O estudo envolveu mais de 7.000 homens e mulheres adultos de países com diferentes níveis de desenvolvimento, recolhendo dados de países desenvolvidos.