Portugal tem de ter mais presença nas instituições europeias, porque estamos ainda abaixo da nossa quota por países, com a eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques a defender que “é importante” que a Universidade de Coimbra tenha uma formação para “mobilizar e formar pessoas para se candidatarem a lugares profissionais dos quadros europeus”.
Maria Leitão Marques é Professora catedrática da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e nos seus 70 anos surge entusiasmada e motivada como deputada do Parlamento Europeu, eleita pelo PS, ao receber em Bruxelas uma comitiva de três dezenas de quadros socialistas do distrito de Coimbra e um vasto grupo de mulheres socialistas.
A deslocação decorreu durante os três primeiros dias deste mês, a convite da eurodeputada, com Maria Leitão Marques a afirmar que “a Europa somos nós e nós somos a Europa”, possibilitando o contacto directo com a realidade do que hoje se chama “arquitectura” europeia, o processo de construção legislativa e “a importância de continuarmos a elencar as temáticas em que a construção da igualdade precisa do esforço contínuo de todos/as”.
Para fomentar o ingresso nas instituições europeias, a eurodeputada deseja que a Universidade de Coimbra, que também é a sua casa, tenha cursos de formação para ajudar os licenciados, mestres e doutores que queiram candidatar-se a lugares europeus, seja na Comissão, no Conselho, no Parlamento Europeu ou nas Agências. “É preciso prepararem-se para esse efeito, porque são provas muito difíceis, exigem muito treino e formação”, justifica.
Sair fora da bolha
A eurodeputada aponta que há uma tendência para os políticos “viverem numa bolha”, “valorizando coisas que não têm valor”, esquecendo muitos dos problemas reais das pessoas. “O que não se comunica, o que o cidadão não sabe, não existe. Por isso é preciso comunciar bem”, defende.
Para Maria Leitão Marques tem de se conseguir uma forma de passar o interesse do ideário europeu para a população, assinalando a “importância de termos a Europa”. “O Governo da Europa está mais distante, é mais difícil compreender como a Europa é governada e as pessoas sempre pensam que aquilo que é feito em Bruxelas não lhe diz respeito”, refere, para dar o seu exemplo. Como então ministra da Modernização Administrativa – tendo ficado conhecida pelo Simplex – inaugurou muitas Lojas do Cidadão, todas concretizadas com apoio de dinheiro europeu. “Eu própria muitas poucas vezes agradeci às instituições europeias nos terem ajudado e o próprio presidente da Câmara, que era parceiro no projecto, também não o referia. Estava lá a bandeirinha pequenina, mas as pessoas não vêm”, recorda.
Sublinhando que muito do dinheiro que Portugal tem para investir é da Europa, para as grandes infra-estruturas, para a investigação científica, Maria Leitão Marques destaca, também que 70% da nossa legislação é europeia. “Se fosse fácil as pessoas terem esta consciência, votariam mais para as eleições europeias do que até talvez para as nacionais”, comenta.
Pérolas em Coimbra
A eurodeputada, pela sua ampla experiência, valoriza a aplicação de fundos europeus e considera que o PRR é uma “oportunidade única e irrepetível” para o nosso país, defendendo um investimento nas estradas virtuais e nas competências. “A Índia, que exportava competência, já procura reter os seus valores e captar outros”, exemplifica.
E Coimbra? “Temos pérolas e somos bons a esconder o que temos”, responde Maria Leitão Marques, concretizando: “O Instituto Pedro Nunes é das melhores incubadoras a nível mundial, não apenas em Portugal, nem na Europa. Sabe aproveitar os fundos europeus, teve a notável liderança da Dr.ª Teresa Mendes e põe em destaque a excelência dos investigadores que formamos em Coimbra, as boas ideias que aqui surgem”. Isto para além de outra “pérola” que destaca, o Biocante, em Cantanhede.
A propósito do trabalho que desenvolve como eurodeputada, Maria Leitão Marques destaca um projecto que se encontra em elaboração e discussão no Parlamento Europeu e que “interessa muito a Coimbra” – o Espaço Europeu de Dados de Saúde. “É importante termos dados compatíveis em Saúde, porque se tenho um problema em Bruxelas – eu que sou paciente dos Hospitais da Universidade de Coimbra e tenho lá os meus registos todos -, aqui podem ter acesso aos meus dados, com a minha autorização, para me poderem tratar, pedir exames”.
A participação da eurodeputada não se fica por aqui e está envolvida numa multiplicidades de assuntos que passam pela leis que nos protegem ao nível da segurança dos produtos; a proibição da entrada no espaço europeu de produtos que são feitos com trabalho forçado; e dois dossiers sobre crédito ao consumo e a publicidade de produtos financeiros.
A isto junta-se o envolvimento na estratégia para a valorização do cuidador informal, nos riscos associados à Inteligência Artificial, o Regulamento dos Chips (semicondutores) para fortalecer a indústria europeia e esta ganhar independência, assim como um regumento sobre a publicidade política. “Num jornal, apesar de ter uma tendência mais para ali, ou mais para acolá, existe sempre um contraditório, o direito de resposta, Nas redes sociais criam-se bolhas e só se dá as notícias daquela cor que eu gosto e, sobretudo, direccionadas de acordo com o perfil que os algorítmos elaboram a partir dos meus gostos”.
O objectivo, conforme explica, é “evitar que a publicidade política use dados pessoais e desde o princípio rastrear quem paga e quem faz, identificando que aquilo é publicidade política daquele partido e que não foi financiada por entidades estrangeiras, para tornar os sistemas democráticos mais plurais, mais abertos e mais independentes”.
Após o sucesso das duas últimas edições, a eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques lançou a 3.ª edição da Geração KNow – Formação sobre Assuntos Europeus, uma iniciativa apoiada pelo Grupo dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu.
A formação visa melhorar o conhecimento sobre as instituições europeias e os grandes desafios da União, como a transição digital, a crise climática, a ciência e inovação, direitos humanos e migrações, igualdade de género, o sistema político da UE, a negociação europeia, o comércio internacional e a economia europeia.
O programa, que tem inscrições a decorrer até 15 de Março, decorrerá entre Abril e Outubro deste ano e, no final, terá uma visita ao Parlamento Europeu, em Bruxelas.
Na 1.ª edição houve 700 candidatos, “gente muito qualificada e com histórias de vida muito interessantes, pelo que conseguimos mudar para 30 participantes, três dos lugares para dar oportunidade a pessoas mais novas, sem curriculum”, explica Maria Leitão Marques.
Para a 2.ª edição inscreveram-se 500 candidatos e a expectativa para esta 3.ª edição é grande, dado tratar-se de um programa com uma formação interactiva e com metodologias “fora da caixa”, que tem como oradores directores-gerais da Comissão Europeia, eurodeputados, especialistas em assuntos europeus, em inovação social e académicos.
Quem estiver interessado em saber mais pode consultar a brochura de apresentação e as redes sociais em: https://linktr.ee/geracaoknow
(*) Luís Santos, em Bruxelas, a convite da eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques