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Semanário no Papel - Diário Online

 

Hernâni Caniço

Há tempo para o lazer

24 de Fevereiro 2023

 

O lazer e a sua exposição pelos intervenientes nem sempre é bem visto, por muitas pessoas considerarem que é sinónimo de preguiça e má prestação de trabalho, ou porque é considerado exibicionismo de capacidades ou oportunidades de ociosidade agradável.

Está justificada a relevância do lazer associado à cultura, quanto à realização pessoal e benefícios em saúde, de hobbies não viciosos, de entretenimento e arte, de comunicação lúdica ficcional através da imagem e som, de colecionismo ou a prática de bricolage.

Pode ser valorizado o espaço de lazer, quando há motivação para formas específicas lúdicas, quando há alegria, prazer e satisfação na execução, ou quando há capacidade de modelagem e perfeccionismo. Ou pode ser desvalorizado, se se entender como perda de tempo e sua inutilidade, quando há rigor, vicissitudes e exigências de confecção não apreciadas, ou quando motivam aborrecimento por desmotivação ou saturação.

Ter actividades de competição e prémios eventuais pode ser valorizado, seja por ser estímulo para uma prática saudável, seja por honra, prestígio e usufruto (até económico), seja por intuição e espírito competitivo. Ou pode ser desvalorizado, por se considerar deturpação do objectivo central (realização de acção sem ganho secundário), por ter mérito de execução relativo, ou por ter risco de síndrome do medo do sucesso.

A aquisição de formação complementar ou específica (estudar, aprender), pode ser valorizada pela ânsia de conhecimento e aptidão, como acção lúdica confundindo-se com necessidade académica ou profissional, ou como uma oportunidade de ocupação de tempos livres com ganho secundário. Ou pode ser desvalorizada, por ser desnecessária para o desempenho profissional, por ser acto ou vinculação opressiva e impeditiva de alternativas de lazer mais adequadas ao perfil da pessoa, ou por não ser considerada rentável economicamente.

Ser útil aos outros (família, amigos, sociedade), pode ser valorizado pela pessoa por sua disposição, vontade e sentido de ser útil, por ter sentimento de ajuda e sentido humanitário, ou por ser uma contribuição pessoal reconhecida e apreciada por outrem. Ou pode ser desvalorizado, por ter perfil frívolo e egocêntrico, por ter atitude distante dos problemas, ou tão-somente por ignorância e apatia da pessoa.

Ter repouso, fruição e tranquilidade, pode ser valorizado por constituir um objectivo legítimo e recuperador, por ser sugestivos de dolce far niento, por ser uma panaceia para legitimar a inactividade, ou por ser um estado transitório de preguiça e gosto pelo descanso. Ou pode ser desvalorizado, por sobrecarga de trabalho e responsabilidades, por activismo assoberbado e controlador, ou por ter um perfil de relaxamento difícil.

Cada pessoa é pessoa, sendo o espaço de lazer associado à saúde e ao bem-estar como componentes de vivência que embeleza a vida, mas constituindo uma perturbação, quando a moderação não está presente. Afinal como tudo na vida. Haja espaço para o lazer!

(*) Médico