Coimbra  14 de Janeiro de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Mário Frota

O abusivo descaso da regulamentação da comissão das cláusulas abusivas

29 de Dezembro 2022

Por intolerável OMISSÃO

E muita ‘cera’ nos ouvidos

Do Governo da Nação

Os ‘prazos’ mais que vencidos

 

Que os contratos de ADESÃO

De letras miúdas tecidos

São fonte de inquietação

Pelos ardis neles escondidos

 

É que as letras miudinhas

Causam funda turvação

São como que ervas-daninhas

A reclamar supressão!

 

E ano e meio se cumpre sobre o prazo que o Parlamento impusera ao Governo: Comissão das Cláusulas Abusivas em 60 dias!

A Lei saíra a 27 de Maio de 2021.

A 26 de Julho de 2021 deveria ter sido regulamentada a Comissão.

Ano e meio se passou.

 E da Comissão das Cláusulas Abusivas nem novas nem mandados!

A Comissão não vingou!

E a Lei, que deveria ter entrado em vigor a 25 de Agosto de 2021, de todo não entrou.

A situação persiste estranhamente!

A um passo de 2023, nem sequer há perspectivas de que entre em vigor.

Deplorável descaso!

Não vemos sinais de eventuais movimentações.

A Comissão das Cláusulas Abusivas tarda, mas tarda deveras, e aparta-se das próprias esferas!

Até quando se permitirão os responsáveis pela pasta da Economia, onde a pretensa defesa do consumidor ‘repousa’ literalmente, numa esconsa secretaria de Estado, omitir as diligências indispensáveis para que a lei entre, com efeito, em vigor?

Ou por ser também do Mar (o Ministério), naufragou até encontrar artificiosos rochedos que a farão despedaçar-se em mil pedaços?

O que faz a Presidência do Conselho de Ministros que deixa passar em branco situações do jaez destas?

Não há nenhuma Comissão de Coordenação Legislativa dela dependente?

A legalidade democrática emigrou?

O Governo não cumpre!

Os consumidores padecem.

Que medidas encetar para que o Governo cumpra escrupulosamente o que lhe cabe neste particular?

O Ministério Público, garante da legalidade democrática, nada terá ao seu alcance para recolocar a situação no são?

Será preciso mover uma acção contra o Governo – que repousará decerto por uma década nos tribunais – para que a Comissão saia, enfim, do mundo das trevas, abandone o papel com o timbre do Parlamento que jaz mudo e apodrece?

Devolvemos a palavra ao Governo que se mostra em estranha veste, normalmente como a de um qualquer devedor esquivo, relapso e contumaz!

Inacreditavelmente!

Deploravelmente!

(*) Presidente emérito da apDC – DIREITO DO CONSUMO – Portugal