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Reportagem: Nos 10 anos do Coro Inês de Castro Coimbra vai ouvir vozes de sonho

27 de Novembro 2022 Jornal Campeão: Reportagem: Nos 10 anos do Coro Inês de Castro Coimbra vai ouvir vozes de sonho

Na próxima quarta-feira (30), às 21h30, o Coro Sinfónico Inês de Castro (CSIC) vai encerrar as comemorações do seu 10.º aniversário, no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), com um concerto que promete ser memorável. Dirigido por Artur Pinho Maria, o Coro vai apresentar uma interpretação de “Jubilate Deo”, uma obra de Dan Forrest. Em palco, vai fazer-se acompanhar pela Orquestra Inês de Castro e pelas solistas Leonor Barbosa de Melo (soprano) e Ema Viana (contralto). Organizado pela Associação Ecos do Passado, o espectáculo está inserido na programação do ciclo “Orphika” da Universidade de Coimbra (UC) e será dedicado à diversidade cultural e ao planeta Terra. “Jubilate Deo” foi escrita com influências musicais de vários pontos do mundo e, por isso, será interpretada em sete diferentes línguas, sendo elas: latim, hebraico, mandarim, espanhol, árabe, zulu e inglês. Trata-se de uma obra com sete andamentos “que constituem um hino de louvor à diversidade humana e à sua relação profunda com a natureza”. Com base num amplo espectro de influências culturais, apresentará ao público estilos musicais variados e impactantes, com um ponto comum: a reverência alegre integrada na vida do Salmo 100 – “Alegrai-vos no Senhor, habitantes de todas as terras.” – apelando à inclusão social e à dignidade humana, numa mensagem contemporânea que muito se aproxima da máxima “todos diferentes, todos iguais”.

Os bilhetes para assistir ao espectáculo têm um custo de 10 euros e podem ser adquiridos na bilheteira do TAGV ou da bilheteira online BOL.

 

Vozes que valem “ouro”

Leonor Barbosa de Melo será a solista soprano da noite. Nasceu em Coimbra, em 1987, e desde cedo foi abraçando o gosto e trabalhando a sua aptidão pela música – fruto de um lar recheado de várias sonoridades, onde os pais e os irmãos tocavam diferentes instrumentos de cordas. Aos sete anos iniciou os estudos com o reputado maestro Virgílio Caseiro, tendo posteriormente enveredado no Conservatório de Música de Coimbra onde terminou, em 2008, o curso de violino. Quando atingiu o 5.º grau, Leonor Barbosa de Melo pôde escolher um segundo instrumento. “Esta era uma grande mais-valia do sistema antigo”, reforçou. E foi aqui que o canto passou a fazer parte da sua vida e pelo qual se foi apaixonando, com a professora Isabel Melo e Silva. Ao “mergulhar no canto” percebeu que havia um género musical “do qual não gostava nada” – a ópera – que juntava duas coisas pelo qual o seu coração batia mais forte: a música e o teatro. Olhando para trás, atribui o mérito deste gosto pela música e pela sua própria evolução, em boa parte, à professora Isabel Melo e Silva que a impulsionou para prosseguir os estudos na área.
A cantora licenciou-se e concluiu o mestrado em Canto na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, na classe de António Salgado e Sofia Serra. Foi solista convidada de várias orquestras e agrupamentos nacionais – como Remix Ensemble, Orquestra do Norte, Orquestra de Guimarães, entre outros –, e foi dirigida por prestigiados maestros como José Eduardo Gomes, Brad Lubman e Pedro Neves. Teve também a oportunidade de trabalhar com Jorge Matta, António Lourenço, Cesário Costa e Artur Pinho. Leonor Barbosa de Melo cantou como solista a convite da Embaixada da República Checa em Portugal (2006), da Orquestra Filarmónica das Beiras (2010) e da Orquestra Clássica do Centro (2010). Foi premiada em vários concursos, entre os quais o 1.º Concurso de Canto Lírico dos Conservatórios Oficiais de Música (2008), o Concurso de Canto da Fundação Rotária Portuguesa (3.º prémio ex-aequo, 2013) e o Concurso de Canto da Academia de Música do Fundão (1.º prémio, 2016), entre outros.
O aperfeiçoamento da sua técnica sempre foi uma prioridade e, para isso, tem vindo a frequentar masterclasses com nomes imponentes, nacionais e internacionais, como António Salgado, Oliveira Lopes, Laura Sarti, Susan McCullogh, Pat Mac Mahon, Margaret Humphrey Clark, Adrian Thompson, Catherine Wyn Rogers, Monserrat Caballé, Elisabete Matos, Anna Tomowa-Sintow, Rudolf Piernay, Janet Perry, entre outros. A par da sua carreira a solo, é também cantora residente do Coro Casa da Música (desde 2011). No seu percurso dedicou-se também à direcção coral como maestrina do Coro dos Pequenos Cantores de Coimbra e como ensaiadora do naipe dos sopranos do CSIC, “aquando do convite por volta de 2016”. E foi assim que nasceu a sua primeira ligação ao Coro Sinfónico Inês de Castro. Em Março deste ano recebeu um convite da Associação Ecos do Passado para dar início a mais uma aventura, o serviço educativo do Coro Infanto-Juvenil Coimbra Cantat. Também ainda este ano assumiu funções como Directora Pedagógica da Escola de Música da Filarmónica União Taveirense.

 

Ema Viana, um currículo também de luxo

Leonor Barbosa de Melo vai ser acompanhada pela contralto Ema Viana. Natural de Esposende, frequentou o Curso Superior de Canto na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo do Porto, e concluiu o mestrado em Música na Universidade de Aveiro. Fez o curso complementar de música do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em canto, na classe de Maria José Carvalho. Para aperfeiçoamento vocal trabalhou com nomes como Ambra Vespaziani, Ettore Nova, Lena Lootens, Francisco Lázaro, Jorge Vaz de Carvalho, Antonie Denygrova, Oliveira Lopes, João Lourenço, Marc Tardue, Paulo Ferreira, Saioa Hernandez e Francesco Pio Galasso, entre outros.

 

Cultura em Coimbra

Leonor Barbosa de Melo confessou ao ‘Campeão’ que “Coimbra tem um potencial enorme” e que, nos últimos anos, tem sido palco de várias mudanças. No entanto, o que diz por vezes sentir é que “Coimbra se fecha muito nela própria” e tem, muitas vezes, uma “visão desactualizada dela própria”. Neste sentido, e para evoluir, “devia pegar nas ferramentas que tem – um infindável talento musical e cultural – e alargar um bocadinho os horizontes”, admitiu. “Para a cidade viver culturalmente é preciso cativar e educar culturalmente o público”, reforçou a cantora. Para isso é preciso também “alargar a oferta”. É preciso explorar a fórmula e reinventá-la, porque uma coisa que “vive em si mesma sem se tentar renovar torna-se infértil”.

 

Adelaide Martins
»» [Reportagem da edição impressa do “Campeão” de 24/11/2022]