Inseridos numa paisagem ímpar cuja descrição fica aquém das mais bonitas palavras, ergueram-se, no Parque Natural da Serra da Estrela e no Estrela Geopark Mundial da UNESCO, os Passadiços do Mondego. Às portas da Guarda, o trajecto desenvolve-se ao longo do Rio Mondego e de dois afluentes – o Ribeiro do Barrocal e o Rio Caldeirão -, abrangendo cerca de 11,5 quilómetros. Os Passadiços começam em Videmonte e estendem-se até à Barragem do Caldeirão, beneficiando as freguesias de Videmonte, Maçainhas, Meios, Aldeia Viçosa e as Uniões das Freguesia de Trinta e Corujeira e Mizarela, Pêro Soares e Vila Soeiro. O percurso dá acesso a lugares de uma beleza singular, que inclui locais como o Miradouro do Mocho Real, bem como diversas cascatas, moinhos, fábricas de lanifícios, de tecelagem e de produção de electricidade como é o caso da Central Hidroeléctrica do Pateiro. O trajecto inclui 6,7 quilómetros sobre os passadiços de madeira e o restante faz-se por trilhos já existentes que foram naturalmente esculpidos por fenómenos naturais. A simbiose entre o Homem e a Natureza é uma verdade vincada neste território.
Abertura oficial
Três anos depois de iniciada a obra, realizou-se, no passado domingo (6), a abertura oficial ao público deste espaço – por muitos considerado uma obra de arte. A empreitada rondou os quatro milhões de euros e foi co-financiada a 85% no âmbito do Programa CENTRO 2020, FEDER.
A sua construção pretende dar a conhecer a paisagem e o património ambiental e histórico das aldeias envolventes. Da infra-estrutura fazem parte passadiços planos, escadarias, pontes suspensas – duas reabilitadas e três novas – e, ainda, um equipamento de slide duplo. Na intervenção foram respeitados os padrões de exigência inerentes à sustentabilidade do território, de forma a permitir o acesso a paisagens únicas da Serra da Estrela até então inacessíveis, mas mantendo presente o respeito e o equilíbrio entre o passadiço e o ecossistema em que este se insere. Desta feita, procura aliar a descoberta do território, através da prática de caminhadas – modalidade que conta cada vez mais com mais adeptos – para descobrir os recantos mais inóspitos do país, mas defendendo em primeira instância a importância da segurança dos seus praticantes. Para assegurar que todos têm acesso a meios de comunicação e de segurança, todo o percurso – que se estima demorar cerca de quatro horas a completar – terá cobertura de rede móvel.
O presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, garante que este foi um investimento “fundamental para o turismo de toda a região” e que a “obra será uma referência do concelho e para todo o território”.
Madeira como obra-prima
Os Passadiços do Mondego são uma obra da responsabilidade da empresa Carmo Wood, cujo portfólio é vasto no universo dos passadiços. São responsáveis pelos Passadiços do Paiva (Arouca), Passadiços de Portel (Évora), Passadiços da Praia da Comporta (Tróia), Escadaria da Cuca Macuca (Valongo), Cais Palafítico da Carrasqueira (Tróia), Poço do Linho (Vale de Cambra) e Hotel Martinhal (Sagres).
João Figueiredo, administrador da empresa e responsável máximo pela obra, esclareceu ao “Campeão” que os passadiços são feitos com pinho tratado e aplicação de classe 4 SP. Este “é o tratamento mais resistente que existe para garantir a durabilidade e resistência da madeira”, dando-lhe uma garantia de 20 anos. Segundo o responsável, a obra teve contornos difíceis que a encareceram bastante em relação ao que era inicialmente esperado. Pandemia, guerra, subida de inflação, descontrolo total das cadeias logísticas internacionais e falta de fornecimento de materiais foram os principais entraves de todo o processo.
Sustentabilidade
A sustentabilidade é um dos pilares primordiais da Carmo Wood. João Figueiredo desmistifica o porquê de a madeira ser um material que proporciona construções altamente sustentáveis: “Uma árvore armazena dióxido de carbono (poluição). Quando esta morre, apodrece e liberta-o para o ar. Ao tratarmos a madeira com um preservante que lhe dá mais 30 ou 40 anos estamos a garantir que o dióxido de carbono não vai ser libertado por muitos mais anos”. João Figueiredo reforça, assim, que estas construções são “amigas do ambiente e por isso é importante que haja cada vez mais construções em madeira”.
Adelaide Martins
»» [Reportagem da edição impressa do “Campeão” de 10/11/2022]