Coimbra  15 de Setembro de 2024 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Entrevista: João Marrana garante que MetroBus estará em funcionamento até 2025

29 de Outubro 2022 Jornal Campeão: Entrevista: João Marrana garante que MetroBus estará em funcionamento até 2025

Nascido em Coimbra, foi no Porto que se licenciou em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia regressando a Coimbra para realizar o mestrado em Engenharia Urbana. No seu percurso profissional, João Marrana foi vogal do Conselho Executivo da Autoridade Metropolitana de Transportes do Porto e “chairman” da Comissão de Transportes e Vida Urbana da União Internacional de Transportes Públicos (UITP). Com um vastíssimo currículo, os transportes são a sua “praia”, tendo assumido a presidência do Conselho de Administração da Metro Mondego em 2019, mantendo-se, ainda hoje, no Quadro do Metro do Porto. As obras do Metro em Coimbra estão na ordem do dia e, em Entrevista à Rádio Regional do Centro e ao Campeão das Províncias, João Marrana esclareceu algumas das principais dúvidas que o tema suscita.

Campeão das Províncias [CP]: O Metro Mondego tem sido um assunto complexo, qual é a expectativa de prazos?

João Marrana [JM]: O cronograma que temos em cima da mesa é de que daqui a um ano e meio, ou seja, no final do primeiro trimestre de 2024, esteja colocada a primeira fase em operação que corresponde à ligação entre Serpins e a Portagem. Haverá uma segunda fase que é a ligação entre a Portagem e Coimbra B que prevemos estar a operar no final desse ano e também uma terceira, que esperamos que seja quase simultânea, prevista para o início de 2025, e que ligará a Avenida Cidade Aeminium ao Hospital Pediátrico.

[CP]: Isso significa que o Metro vai ter várias linhas?

[JM]: Do ponto de vista da infra-estrutura vai ter duas linhas, uma que vai de Coimbra B até Serpins e outra desde a Avenida Aeminium ao Hospital Pediátrico.

Do ponto de vista operacional irão ser três linhas, ou seja, uma que faz a ligação entre Coimbra B e Serpins, uma outra que liga Serpins ao Hospital Pediátrico e uma terceira que faz a ligação entre Coimbra B e o Hospital Pediátrico. Um ponto importante é o Hospital, o metro vai entrar no espaço dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), terá uma paragem à entrada, junto à Praça Mota Pinto, e vai ter uma segunda estação em frente às Consultas Externas. Importa sublinhar que no troço suburbano, desde o túnel das Carvalhosas até Serpins o sistema será operado em via única, permitindo cruzamentos quer nas Estações quer em quatro outros pontos criados adicionalmente. Será, em termos operacionais, muito semelhante a um sistema ferroviário, em termos de sistemas de sinalização, vigilância, segurança, controlo operacional, etc. Outra coisa que temos de garantir é que não haja entrada de veículos no canal, portanto vai haver barreiras longitudinais e ortogonais.

[CP]: Quantos veículos vão estar em funcionamento?

[JM]: Assinámos o contrato no início de Agosto para a aquisição de 35 veículos eléctricos articulados, de 18,75 metros, com uma opção por mais cinco, ou seja, de base serão 35, mas poderão ser 40. Este contrato está a aguardar o visto do Tribunal de Contas. Em Portugal há muitas fases e, como é sabido, o contracto só é financeiramente eficaz a partir do momento em que tem esse visto, mas acredito que deverá acontecer nos próximos meses. São veículos eléctricos com uma capacidade relativamente grande, cerca de 140 passageiros, com a energia armazenada em baterias, que vão ser carregadas quer durante a noite no Parque de Manutenção e Oficinas, que vai ser em Sobral de Ceira, quer em carregamentos de oportunidade, que vão acontecer nas Estações término dos serviços.

[CP]: O veículo eléctrico continua a ser a escolha certa?

[JM]: Os veículos eléctricos têm grandes vantagens. Têm, todavia, uma grande desvantagem: são mais caros no investimento, mas ficam sobejamente mais baratos na operação. Enquanto que em combustão interna (diesel ou gasolina) a eficiência do motor é sempre inferior a 30%, num veículo eléctrico a eficiência é superior a 90%, por isso julgo que se tivéssemos de escolher agora manteríamos essa opção. Este processo de electrificação das frotas de transporte público está a acontecer por toda a Europa.

[CP]: Esta opção e dada a quantidade de que se trata estamos a falar de muito dinheiro…

[JM]: Foi um concurso público internacional antecedido de uma consulta prévia ao mercado e um dos problemas com que nos deparámos foi com a elevada procura e, certamente por isso, um reduzido número de empresas candidatas. A opção foi adquirir veículos, com um valor global de 34 milhões de euros, acrescidos dos custos com a sua manutenção integral, ao longo dos 15 anos de vida útil, na ordem dos 11 milhões de euros.

[CP]: Os bilhetes vão ser caros?

[JM]: Neste momento, ainda não estou em condições de dizer qual vai ser o valor, o que posso, desde já, garantir é que não será superior ao que os passageiros pagam agora mensalmente. Estamos a trabalhar numa tarifa intermodal, que seja válida não apenas nos nossos veículos, mas em toda a rede de transportes da região de Coimbra, nos SMTUC, na CP, etc.  Como estamos a falar de uma tarifa intermodal o valor do passe vai depender do nível de financiamento, dado que os operadores vão perder alguma receita e, por isso, necessitam de alguma contrapartida pública.

[CP]: Coimbra não tem sido bem tratada pelo Estado no que respeita aos transportes…

[JM]: A rentabilidade de um sistema de transportes públicos é tendencialmente maior numa área mais densa do que numa zona com população dispersa. Se a cidade de Coimbra é densa, não podemos dizer o mesmo do Concelho ou da Região. Deve haver um esforço por parte das autarquias para densificar, por forma a tornar mais atractivo o transporte público. Temos noção que a operação do Sistema de Mobilidade do Mondego não vai ser financeiramente sustentável apenas com a venda dos bilhetes. O que está previsto é que subsista um défice tarifário da ordem dos três milhões de euros por ano.   O que está em vigor na União Europeia é que quando existem serviços deficitários colocam-se duas opções: ou se encerram ou são financiados pela respectiva Autoridade de transportes, no nosso caso é o Estado, definindo em concreto quais as obrigações e qual o financiamento que concede pela prestação do serviço público. Nós temos neste momento 12 empreitadas contratadas. A Infraestruturas de Portugal (IP), por indicação do Governo e através de um protocolo com a Metro Mondego, é a responsável pela execução das quatro empreitadas de infra-estruturas que têm um peso de ordem dos 100 milhões de euros (Serpins – Alto de S. João; Alto de S. João – Portagem; Portagem – Coimbra B; e linha do Hospital) e, quando se fizer a recepção provisória da obra, esses activos passam para a gestão da Metro Mondego. Temos outras empreitadas, como os veículos, o parque de manutenção e oficina, os abrigos (também da responsabilidade da IP) e os sistemas técnicos, sendo esta uma empreitada conjunta entre a IP e a Metro Mondego, com um investimento da ordem dos 16 milhões de euros, que inclui toda a sinalização, sistemas de segurança e controlo. Trata-se de um investimento global na ordem dos 150 milhões de euros.

[CP]: Uma das aspirações da cidade de Coimbra era de que o metro fosse até ao pólo 1…

[JM]: A Administração da Metro Mondego tomou posse a 24 de Julho de 2019, quando estava o projecto já estabilizado e entendemos que não era o momento de voltar a discutir o traçado. Discutir as questões de fundo significava atrasar mais a concretização do projecto. Temos noção que o pólo 1 tem muita procura de transporte público, pelo que estamos a interagir com a autarquia para encontrar uma solução para fazer esse upgrade.

[CP]: O corte dos plátanos foi mesmo necessário?

[JM]: Nós reunimos com um grupo, o ClimAção, e foi-nos apresentado um esboço de traçado que parecia não colidir com aquelas 5 árvores.  Nessa sequência nós pedimos à IP e ao projectista para estudar essa hipótese. O que se concluiu foi que essa implementação era mais penalizadora, em primeiro lugar porque ía colocar o canal em cima da estação de bombagem das águas de Coimbra, o que obrigava a deslocar essa estação, que já está a ser executada, e em segundo lugar porque ía obrigar ao abate de mais árvores junto ao parque Manuel Braga. Importa ter presente que, por razões de segurança da operação e de estabilidade mecânica das árvores, o canal deverá estar, grosso modo, exterior à copa das árvores. Posso garantir que estamos a fazer todos os possíveis para abater apenas o que é impossível manter e temos todo o interesse em minimizar os impactos desfavoráveis desta obra.

[CP]: Com a suspensão do comboio entre Coimbra B e Coimbra A, alguns daqueles terrenos vão reverter para a Metro Mondego?

[JM]: A MM tem ali cerca de 2000m2, porque quando a CP entrou no capital social da empresa, subscreveu o mesmo com a entrega desse terreno. O resto é da IP, gerido pela IP Património. Neste momento está a ser articulado entre a Câmara Municipal e a IP um projecto urbano para esse corredor, e, só depois dessa estabilização, será definida concretamente a ocupação dos terrenos da IP e da MM.

Lino Vinhal / Joana Alvim

»» [Entrevista da edição impressa do “Campeão” de 27/10/2022]