A casa de fados Diligência, a funcionar na Baixa de Coimbra há 50 anos, está em risco de ser despejada, afirmou um dos responsáveis, que criticou a demora no processo de reconhecimento do interesse histórico por parte da Câmara.
Em Maio, a gerência do espaço recebeu a informação de que o senhorio do edifício onde a casa de fados funciona tinha a intenção de avançar com uma acção de despejo, no âmbito de obras profundas de remodelação daquele imóvel situado na Baixa da cidade, contou à agência Lusa um dos responsáveis do Diligência, Jorge Geraldo.
Nesse mesmo mês, foi aprovado, por unanimidade, em reunião do Executivo da Câmara de Coimbra, uma proposta para que o espaço fosse classificado como local de interesse histórico, na esperança de que essa ferramenta pudesse proteger aquela histórica casa de fados.
No entanto, passados meses após a aprovação por parte do Executivo, o processo ainda não está concluído e Jorge Geraldo mantém-se à espera de que o mecanismo de protecção se efective.
“Houve uma fase de discussão pública [após a reunião do Executivo], depois deveria seguir para despacho para ser aprovado, mas o processo ainda está por concluir”, notou.
Ao mesmo tempo, “foi aprovado um projecto de arquitectura” por parte da Câmara de Coimbra para a reabilitação do edifício, submetido pelo senhorio, que “está a usar” esse mesmo processo “para empurrar” o Diligência para fora do espaço em Novembro, frisou.
De acordo com Jorge Geraldo, a gerência da casa de fados inscreveu-se para intervir na próxima reunião do Executivo, na segunda-feira.
“Já reunimos com os Serviços, com o Centro Histórico e foram acessíveis e deixaram-nos informados, mas não ficamos descansados até este processo estar aprovado. Não dá para respirar fundo”, vincou.
Segundo o responsável, a gerência chegou a tentar, no passado, fazer obras às suas custas no local, face “às más condições do edifício”, mas houve sempre recusa por parte do senhorio.
Sobre a possibilidade de o Diligência poder funcionar noutro local, Jorge Geraldo recusa qualquer deslocalização. “É um dos poucos faróis da Baixa depois das 19h00. Tirar o Diligência dali implica o fim do Diligência”, vincou.
Na terça-feira, a concelhia do PS de Coimbra disse estranhar, na sua página na rede social Facebook, o facto de o processo ainda “aguardar uma decisão final do Executivo” e criticou que o mesmo Município que reconhece o interesse histórico do Diligência faça “aprovar um projecto de arquitectura” para o edifício onde está a casa de fados e que “ditará o fim daquele bar”.
“O Partido Socialista de Coimbra está a acompanhar com grande preocupação esta evolução, desejando que o Executivo possa tomar uma decisão final sobre o reconhecimento do ‘Diligência Bar/ Casa de Fados’ como estabelecimento de interesse histórico, cultural e social local, protegendo aquele local e garantindo a sua continuidade no coração da cidade de Coimbra”, vincou.
Questionada pela agência Lusa, a Câmara de Coimbra afirmou que há dois processos a decorrer nos serviços técnicos municipais: “um promovido pelo proprietário do prédio, que diz respeito a uma operação urbanística de reabilitação do prédio em questão e outro por parte do arrendatário, com um pedido de reconhecimento de interesse histórico e cultural ou social local”.
“Este processo é complexo e poderá envolver questões do direito privado, sendo que a posição da Câmara Municipal é sempre de defesa do interesse público e de total imparcialidade em situações que possam envolver conflitos entre privados”, acrescentou.