Para as gerações de 60 e 80, saudosistas da música e dos artistas que marcaram as suas gerações, foi uma surpresa que mais de 400.000 pessoas num só dia tentassem adquirir bilhetes para concertos da banda Coldplay em Coimbra, num verdadeiro movimento colectivo histriónico que mobilizou o país de norte a sul.
Afinal Coimbra existe, como já existia com a realização de sucessivos concertos ao longo dos anos, desde Rollig Stones, Madona, U2, Andrea Bocelli, para espanto dos detractores da “província” que julgavam nos antípodas e para gáudio dos recém-políticos da urbe coimbrã que julgam Coimbra como tendo nascido agora com a sua suma sapiência.
Há uma nova geração século XXI que mantém a concepção de ídolos que venera, que estão na “moda” em círculo de amigos que não querem perder, que tem direito a demonstrar a sua adoração pelos seus heróis, que ainda vive a cargo dos pais e da sua satisfação por pagar os bilhetes de preços obscenos à sua prole, quiçá acompanhando-os para demonstrar que não envelheceram parados no seu tempo.
É uma geração que reivindica roupas de marca antes de reivindicar emprego, que protesta quando os recursos económicos familiares não são suficientes para se mostrarem iguais entre os desiguais seus amigos, que vive antes da vida e suas fases temporais adequadas, que estuda porque é preciso, que vê a solidariedade à distância do seu egocentrismo.
Não é a geração de Abril que combateu a ditadura, não nasceu com o ideário comum e a revolução, não percorreu a democracia e só conhece a liberdade, ainda não constituiu família que é necessário sustentar, não sofreu desemprego nem teve de emigrar, é a geração Coldplay.
Geração que, em boa parte, não sabe o que foi o 25 de Abril, vê a política com náusea e ignorância ou como fonte de emprego, valoriza o desvalorizável e desvaloriza o que enobrece, quer ser popular no seu elitismo ou ser elite denegando a generosidade, tem pais superprotectores ou centrados nos filhos, permissivos ou rígidos, sem objectivos ou centrados nos próprios pais, por contraposição à família estável, equilibrada na relação parental.
Não critico a banda britânica de rock alternativo Coldplay, que vendeu mais de 100 milhões de discos em todo o mundo, venceu múltiplos prémios (incluindo nove Brit Awards, sete MTV Video Music Awards, oito MTV Europe Music Awards e sete Grammy Awards), os seus três primeiros álbuns (Parachutes – 2000), A Rush of Blood to the Head – 2002) e X&Y – 2005), estão entre os mais vendidos no Reino Unido.
Elogio-a, porque apoiou causas sociais e políticas (como a “Make Trade Fair” da Oxfam e a Amnistia Internacional), e participou em projectos solidários, como a Band Aid 20, Live 8, Global Citizen Festival, Sound Relief, Hope for Haiti Now: A Global Benefit for Earthquake Relief, One Love Manchester, The Secret Policeman’s Ball, Sport Relief e Teenage Cancer Trust.
Gostaria que a geração Coldplay louvasse a qualidade musical dos seus ícones, em simultâneo com a sua intervenção social, seja por causas humanitárias seja por valores ambientais, sociais ou políticos, aprendendo o exercício da cidadania, assumindo a prática da democracia participativa, promovendo a igualdade e a coesão.
E gostaria que os seus pais se mostrassem unidos, concordantes e conscientes da sua função, certos do mundo que querem para os seus filhos / as, cheio de metas e sonhos, assumindo os filhos o seu estatuto e práxis, em respeito e labor, liberdade e responsabilidade, crescendo estáveis, seguros e confiantes, tendo como regra o facto de dar e receber afecto. Assim, quando adultos, os filhos serão activos e autónomos, capazes de expressar as suas necessidades, pelo que se sentirão felizes.
(*) Médico