Coimbra  11 de Novembro de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

A 26 de Julho é Dia dos Avós: Três letras carregadas de açúcar

23 de Julho 2022 Jornal Campeão: A 26 de Julho é Dia dos Avós: Três letras carregadas de açúcar

As palavras mais bonitas têm poucas letras. Amor, paz, sonho, saúde, mãe, pai… avô e avó. E nelas cabem uma importância e uma força tamanhas que, se o valor das palavras se pagasse à letra, o dicionário da Língua Portuguesa teria de ser refeito. É que ninguém admitiria que para nos referirmos a “uma doença pulmonar aguda causada pela aspiração de cinzas vulcânicas” tivéssemos de pagar uma fortuna (quem consegue soletrar, sem se engasgar pelo menos, o “palavrão” de 46 letras pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico?). E depois, a preço de feira, verdadeiras pechinchas, outras no nosso idioma que nos enchem o coração, carregadas de açúcar, que nos escorregam pelos lábios quase como se as disséssemos desde o primeiro dia de vida: avô e avó. Três letras apenas e está tudo dito.

Estas palavras podem até ser sinónimo das outras, as tais (outras) palavras bonitas como mãe, pai, amor, paz, saúde… já agora, a propósito desta última: nunca vi a minha avó combalida. Nunca a vi ir ao médico (a não ser para acompanhar um filho ou um neto), levar uma vacina, tomar um xarope para a
tosse, um comprimido para as dores ou esfregar uma pomada nas pernas cansadas, fruto dos dias
longos e duros de trabalho no campo. Nunca vi a minha avó doente… até há bem pouco tempo. Na ternura dos nossos cinco a doze anos (no meu caso, e em muitos outros, acredito, até bem mais
tarde) achamos que eles são eternos, que nada os afecta, que são uma força da natureza inabalável.

Quem mais, que não os avós, consegue, tantas vezes – mais do que aquelas que damos verdadeiramente conta – criar filhos, netos, sobrinhos e até, porventura, os filhos dos vizinhos, porque “na mesa onde cabe um prato cabem sete ou oito”, já dizia a minha avó… a tal que está doente e que me enche de orgulho todos os dias desde a primeira vez que a vi. Primeiro, há mais de três décadas atrás, pela resiliência com que levou a vida, tantas vezes pejada de espinhos; mais recentemente, pela garra e força com que enfrentou a dor de ver filhos partirem antes de si – “é contra a lei da natureza”, sempre o disse (dizemos todos).

Li, em tempos, num daqueles textos que percorre mundo através das redes sociais (que, de vez em quando, também têm bons propósitos) um texto de uma criança que dizia qualquer coisa como: “os avós sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior e não são fracos como dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós”. São as tais três letras carregadas de açúcar e, aos olhos ingénuos da infância, a eternidade espelhada nelas.

Nádia Moura

»» [Artigo da edição impressa do “Campeão” de 21/07/2022]