“Vai tudo” foi a frase que celebrizou o apoio incondicional dos adeptos do União (agora) 1919 à equipa que durante muitos anos andou nos segundo e terceiro escalões do futebol nacional. O icónico boneco com cachecol, gorro e bandeira em tons de azul e vermelho ainda hoje perdura na memória de todos os que passaram pelo clube – e nos quais me incluo -, ou pelo menos simpatizam com ele.
Depois de atravessar o período das trevas, o União (agora) 1919 reapareceu com fulgor, fez-se reunir de uma equipa diretiva e técnica jovem e competente, que não prometeu troféus, mas garantiu ambição. Que não quis a Lua, mas soube trabalhar com os pés bem assentes no chão.
O futebol atual está a anos-luz da realidade das últimas duas décadas do século passado. Se no futebol sénior apareceram, entretanto, as empresas-acionistas, na formação surgiram os pais-acionistas. Sejamos intelectualmente honestos: são os pais dos jovens atletas os principais financiadores dos escalões de formação dos clubes. É assim no União (agora) 1919, é assim em 99,9% dos clubes deste país. O pai paga mensalidade (30 euros, basta multiplicar por 261 atletas das 14 equipas constituídas na época que está a terminar), o pai compra os equipamentos de treino e jogo, o pai leva o lanche e os filhos para os jogos e treinos. Ponto final. É legítimo? É, sim senhor. Porque se um pai quer que o filho aprenda a tocar piano ou a nadar, se o pai quer o filho no ensino privado, também tem que pagar por isso.
A questão que se coloca é? Na qualidade de pai-acionista, quais os meus direitos perante a entidade a quem pago para manter o meu filho em atividade? E quais os meus deveres?
É precisamente neste ponto que, a meu ver, o União (agora) 1919 terá que dar o passo em frente, tomando uma posição tão assertiva quanto transparente. Tal como não pode haver quem misture cargos e parentalidade (são ambas compatíveis, claro!, mas à mulher de César não basta ser séria…), também não pode haver pais-acionistas que ainda se querem assumir como pais-treinadores-diretores-patrocinadores, por mais apoios que deem ao clube.
O sucesso da formação medir-se-á por diversos parâmetros: pela inteligência de reunir bons treinadores, pela astúcia de reter atrair os melhores jogadores, mas também pela capacidade dos dirigentes em blindar as quatro linhas do campo de jogo – nos treinos e nos jogos. Nesse espaço devem ser os treinadores, em articulação com a coordenação técnica e diretiva, a ditar as regras. Se os “inputs” da bancada, do bar ou dos almoços e jantares de grupo se fazem ouvir, o clube ficará refém dos “influencers”. Se recuarmos alguns anos, não muitos, foi precisamente assim que começou o trajeto descendente que culminou com a morte do União (agora) 1919.
P. S. O velhinho campo da Arregaça já esgotou o seu ciclo de vida. É pena que a requalificação deste emblemático equipamento da cidade não tenha merecido, nos últimos anos, a atenção devida das entidades competentes.