O sucesso nem sempre depende apenas de factores pessoais, assim como o fracasso nunca dependerá apenas de causas alheias. Esta é a triste verdade da AAC/OAF.
A vida tem-me ensinado que a liberdade da palavra, tanto pode ser a felicidade da comunicação, como o perigo do contacto humano, quando proferida com ódio e mentira.
Estou numa fase de vida em que quando a inquietude me revisita, procuro encontrar um alento revitalizador, onde o realismo e a convicção fortaleça o meu espírito e me torne cada vez mais num homem livre. E eu sou um homem livre!
Às vezes, quando me confronto com focos de neblina discordante, uso como remédio o silêncio, por saber que este nunca me trai. Desta vez não vou utilizar o silêncio, mas sim o “grito” de revolta contra o que aconteceu à AAC/OAF. E isto não foi só agora. Há muito que ando a falar disso.
Não vou utilizar como desculpa a “esfarrapada” verdade de que tudo se deve a Coimbra não ter capacidade de apoio financeiro para ter uma equipa na primeira Liga, mas sim mostrar a minha tristeza por não terem aparecido pessoas que de forma responsável e espírito académico, tivessem colocado em prática um modelo de gestão adequado à realidade da Instituição e das reais limitações da cidade. De certeza que se isso tivesse acontecido não teríamos ido por um caminho confuso de amadorismo interno, e de um falso e incompetente profissionalismo externo.
A falácia ao pensar-se que a actual AAC/OAF iria poder sobreviver valendo-se apenas dos louros e pergaminhos do passado da “velha” AAC, ajudou a esta situação. A ingenuidade de quem não se apercebeu, que hoje um clube de futebol é uma Empresa, e é assim que terá de ser gerida, levou-nos a esta “queda”.
Há três factores fundamentais na gestão empresa/clube: receita/ despesa/ realismo no projecto desportivo. Quando este princípio é ignorado, e se escolhe um orçamento alicerçado em fantasias, e gerido na fé de um milagre, o descalabro depressa se torna numa triste verdade. Foi assim que a AAC/OAF chegou aos vários milhões de euros de dívida, sem que o seu património nos garanta poder ser avalista.
Quando o projecto não consegue responder às dificuldades na construção de plantéis, nem no cumprimento dos deveres do pagamento aos seus trabalhadores, nada mais se pode esperar do que aquilo que está a acontecer. O realismo no momento actual não se compadece com a continuação de uma gestão do património que está à sua responsabilidade, se a quantidade (em todas as áreas) continuar a substituir a qualidade.
Os elevados encargos com o número de pessoas subsidiadas, para além do desajustado número de praticantes nos vários escalões de futebol, criaram um projecto megalómano e insuportável, dado o peso da máquina para a sua funcionalidade. Ignorar isto é meter a cabeça na areia.
O que existe hoje é um “elefante branco” ingovernável. Custe a quem custar, mas a próxima época, caso não apareça nenhum mecenas, terá de depender apenas do que for feito através da equipa principal de futebol, por esta ser a “tábua” de salvação e o alicerce base do clube. É urgente organizar o Clube com um organograma profissional. Um departamento das finanças, um departamento desportivo (onde o da prospecção terá de ter um papel fundamental), um departamento de gestão do imóvel e ainda a frota automóvel e campos de futebol, um departamento de protocolo e um departamento de comunicação social, com pessoas certas nos lugares certos.
A AAC/OAF tem ainda a possibilidade de escolher entre os seus associados as pessoas certas para esses lugares, para além de poder chamar a si quem possa falar abertamente com as entidades superiores do desporto, da política, com os grandes clubes nacionais, árbitros e órgãos da comunicação social, a fim de evitar continuar a ser ignorada, desconhecida e desrespeitada.
O peso do emblema e da herança legítima da “velha” Académica, neste mundo de “agressiva” competição, já não é suficiente. Já foi!!! Precisamos de outra “roupagem” e de outra visibilidade. Precisamos de recuperar o que se perdeu.
Se assim não for, a AAC/OAF irá continuar a depender dos jogadores que por aqui caem, vindos e escolhidos não sei por quem, num estranho e complicado lirismo de quem apresenta credenciais adquiridas por osmose, ou amizades no mínimo esquisitas…
Não tenho mais espaço e por isso fico-me por aqui. Antes, porém, apenas deixo este aviso: a divisão em que vamos cair não vai ser menos difícil para se subir, do que foi a tentativa de não descermos da 2.º Liga. Na minha opinião, a grande maioria dos jogadores actuais, em sectores fundamentais, não têm caraterísticas para a 3.ª Liga.
Espreita-nos um desafio muito difícil! Cuidado!!! Muito cuidado!!! Não se pode dar o passo maior que as pernas.
(*) Treinador da Académica na final do Jamor, em 1969