O 17 de Abril de 1969. Não nos move nenhuma doxomania nem pretendemos verdades eternas. Mesmo que pretendêssemos dificilmente as conseguiríamos, já que só existem no plano filosófico ou no plano divino para os crentes. O que pretendemos é chegar a um acordo quanto a uma coisa tão simples como encontrar uma fração, cujo o numerador seja o dia do Antigo Estudante de Coimbra e o denominador comum alguma coisa com que todos nos possamos sentir simbolizados. Isso não impede que haja um dia para cada quintal, mas tem de haver um para a quinta global, universalmente aceite. Está a mostrar-se difícil, diremos mesmo, muito difícil. Do percurso ficam-nos muitas descobertas. Até algumas surpresas. Mergulhar nesta tarefa, para um bronco quanto eu, talvez seja mais ousadia do que coragem. Mas tem de ser. Foi imposição, não como transmissão de um poder ou uma graça, mais como ordem de consciência. Seria uma deslealdade para todos aqueles que nos precederam e o criar uma divida para quantos nos sucederem. Fazendo o que sabemos, o que podemos e o que nos compete, cumpriremos a nossa obrigação, o nosso dever moral. Sem pretendermos nenhum reconhecimento, tratando-se apenas e tão só de uma obrigação. Antigos Estudantes há mais de 700 anos, descobrir aí o papel de cada um na História comum, não sendo fácil é, fascinante. Aí reside o principal problema: é que o fascínio não está ao alcance de qualquer borra-botas.
Recebemos propostas, melhor dizendo ideias e opiniões para a nossa celebração. Sei, sabemos, sabe toda a gente, ser muito difícil obter unanimidade numa causa tão motivadora. Estes sentimentos intensos, quando geradores de paixões ou são tratados com benevolência ou se tornam incómodos, quando não violentos. Violência não quer dizer opressão física e até pode ser só a perda de um amigo. Só. Só não. A amizade é dos bens mais preciosas da natureza humana, hoje, ontem e sempre. Há uma “latinada” bem significativa disso: Amicum perdere est damnorum maximum. E é verdade. No conflito entre o amor, nas Bucólicas de Virgílio e a amizade de Publílio Siro, venha o diabo e escolha.
Vem isto a propósito (ou não) de uma reclamação sobre a não pronuncia do 17 de Abril de 1969. Em nota prévia, queremos dizer que nos referimos a essa data quando a recebemos. Não a desenvolvemos, é certo, porque tínhamos outra em mão.
Ei-la aqui apresentada como mais uma possibilidade de ir a votos. Com a devida vénia, por economia de meios e para enriquecimento do conteúdo, aqui transcrevemos parte do texto de Pedro Andrade, publicado em 17 de abril de 2009 – “Crise Académica de 1969 lembrado em Coimbra”: Tudo aconteceu a 17 de Abril de 1969, aquando da visita do então Presidente da República, Américo Thomaz, na inauguração do novo edifício das Matemáticas.
O então Presidente da AAC, Alberto Martins, pediu a palavra para intervir, em nome dos estudantes, durante a cerimónia. O pedido foi recusado e Alberto Martins foi detido nessa noite. Acendia-se, então, o rastilho de um dos maiores momentos de reivindicações estudantis português. O que quer que acontecesse na Universidade de Coimbra acabava por ter uma importância enorme para o país, como explica o historiador Rui Bebiano – que fala das consequências da revolta do 17 de Abril de 1969.
Não há espaço para, por hoje, ser exaustivo no que foi, que representou, e consequências teve a ousadia de Alberto Martins. A nossa escolha na fonte teve em conta a facilidade de apreensão do conteúdo. Sabemos que vai originar complementos. Cá estamos.
(*) Ex-Presidente da AAEC