A barbárie está bem patente na fabricação continuada dos pretextos, no ataque inicial, no caminho para a destruição, domínio total da Ucrânia e do que restar do seu povo heroico e mártir.
A insanidade de todo o processo equipara-se à do começo da II guerra mundial – a invasão da Polónia no primeiro dia de Setembro de 1939. Tinha eu seis anos, nunca esqueci a explosão de dor em casa de meus Pais, toda a família reunida! O pretexto final fora fabricado no extremo limite de encenação perversamente macabra – alguns presos comuns alemães, fardados de guardas de fronteira alemães, foram assassinados pelos próprios nazis, com balas de armas polacas e espalhados pelo chão, para simular um ataque polaco a um posto fronteiriço entre a Alemanha e a Polónia. Esta hedionda maquinação fora precedida, em 9 dias, pela assinatura do pacto nazi-comunista (Pacto Germano-Soviético de 22/08/1939) entre a Alemanha nazi de Hitler e a Rússia soviética de Stalin, os dois facínoras mais responsáveis pelo maior e mais cruel conflito bélico e massacre que a Humanidade já conheceu. Essa aparentemente paradoxal aliança ideológica nazi-comunista ressurgiu neste século por vias múltiplas, com relevo para a identificação bilateral na selvajaria dos métodos!
Neste presente momento de barbárie, o passado não importa. Não há gentes, tribos, nações, estados, historicamente isentos de crimes. Mas a Europa, depois da terrível guerra mundial de cinco anos e findas ou em estertor, final as ditaduras comunistas na Europa (queda do infame “muro de Berlim”, em 1989) e exceptuando alguns focos mais limitados mas não menos bárbaros, a região passou a viver um período de relativa prosperidade e paz.
À Ucrânia, ninguém contestava nem contesta o seu estatuto de Estado legitimamente soberano; nem mesmo o desalmado Putin e seus sequazes.
Alguém de boa fé acreditaria que uma Ucrânia de 44 milhões pensasse atacar o seu vizinho, um colosso de 140 milhões, territorialmente 28 vezes maior e militarmente incomparável?!
O déspota e o seu criminoso grupo movem-se pelo medo. Medo do seu próprio povo.
Pela segunda vez desce, sobre o sacrificado povo russo e outros, a mesma “Cortina de Ferro” que os isolou da Europa Livre durante várias décadas. Só podem ouvir, ler ou ver o que esses assassinos permitem.
O povo russo já não tem direito a um mínimo de verdade sobre o terrível sofrimento do povo ucraniano, a sua heroicidade, a dos seus dirigentes e militares, a dos jornalistas e outros que diariamente se sacrificam… O que se vê?! A associação mais completa de todas as técnicas de Terror conducentes a Terra Queimada e Massacre de inocentes de qualquer idade.
A desumanidade absoluta de Putin, em natureza provavelmente congénita, nutriu-se nas práticas de carrasco da Lubianka. Não admira que assista, com sádico sorriso e ridícula pompa, ao massacre dos inocentes. E mais, que seja cobarde- nunca enfrentou um ser humano que não estivesse de qualquer modo dominado ou aniquilado!
A aparente mudança de disposição do déspota, hoje alvitrada na comunicação social, é expressão da sua cobardia. Pena que a Europa tenha sido tão negligente. Este déspota não é excepção à regra – tem muito medo da morte. Na história recente, não se conhece nenhum que se tenha suicidado; preferem ser apanhados vivos nem que seja num cano de esgoto!
Creio que ainda iria a tempo uma demonstração de força por parte da UE para impulsionar, a sério, a mudança de “humor” dos Putins! Eles temem muito as armas nucleares… e com razão…
A fronteira da Europa Livre não pode ser transferida do leste para o oeste da Ucrânia
(*) Professor Catedrático Jubilado de Medicina