Coimbra  2 de Novembro de 2024 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Sandra Simões

A propósito da Petição Pública “Devolver a autonomia ao Hospital dos Covões”

21 de Janeiro 2022

 

No dia 21 de Dezembro de 2021, foi publicada em Diário da República, a resolução da Assembleia da República nº 341/2021. É recomendado ao Governo que elabore um Plano Estratégico para o Hospital Geral do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), conhecido por Hospital dos Covões, e assenta em dois pontos principais: Que sejam assegurados todos os serviços dos Hospitais do CHUC, sendo estes dotados de recursos materiais e humanos necessários; Que seja elaborado e implementado um Plano Estratégico para o Hospital dos Covões.

Esta resolução da Assembleia da República, foi a resposta do Parlamento português às conclusões apresentadas pelo relatório da Comissão Parlamentar de Saúde, que teve como ponto de partida a Petição n.º 89/XIV/1ª, com o título “Devolver a autonomia ao Hospital dos Covões. Pelo direito ao acesso de cuidados de saúde de qualidade” (Teve como peticionários Carlos Eduardo Perdigão Costa Almeida e Carlos Manuel Costa Almeida, tendo sido subscrita por 4.493 cidadãos).

Com base nesta Petição foi nomeada uma Comissão Parlamentar, que integrou deputados de várias bancadas políticas (António Maló de Abreu- PSD, como relator, Ana Mesquita- PCP, Ana Rita Bessa- CDS-PP, João Gouveia- PS, José Manuel Pureza- BE, Rui Cristina- PSD), auscultaram presidentes de Conselhos de Administração atual (Carlos Santos) e anteriores (José Martins Nunes e Fernando Regateiro), ex-ministro da Saúde, à data da fusão (Adalberto Campos Fernandes), atual Ministra da Saúde (Marta Temido) e presidente da ARS Centro (Rosa Reis Marques), tendo feito diversas visitas às unidades de saúde que constituem o CHUC.

Constatou-se que apesar das diferentes posições políticas dos deputados, houve isenção e verdadeiro interesse em salvaguardar os interesses dos cidadãos que representam. Todos manifestaram preocupação com o que foi exposto na Petição, concluindo que a chamada fusão dos Hospitais de Coimbra, mais não foi que uma concentração da assistência hospitalar em apenas um dos hospitais (HUC), com perda de serviços e capacidade assistencial do outro (Hospital dos Covões). Instam a tutela a pronunciar-se acerca desta decisão, uma vez que é ao Governo que compete tomar decisões políticas e não aos Conselhos de Administração. As conclusões apresentadas pelo Deputado Relator (António Maló de Abreu), são claras e perentórias, em relação ao Hospital dos Covões, em que é evidente a perda de especialidades médicas, havendo inegável degradação de acesso dos utentes aos cuidados de saúde. Houve também desqualificação do Serviço de Urgência e encerramento da Unidade de Cuidados Intensivos em Maio de 2021.

Pequenez de horizontes

Estas conclusões vêm confirmar o que temos vindo a denunciar desde o primeiro dia em que saímos à rua em defesa do Hospital dos Covões, a 9 de Junho de 2020. Daí para cá o esvaziamento do hospital continuou até chegarmos a um ponto de profunda carência de recursos humanos e técnicos e pior do que isso, de falta de perspectiva de futuro para este hospital. Não basta propagandear grandes projectos, em que este polo hospitalar se transformará num portento de cirurgia de ambulatório e de consultas, se continuarem a esvaziá-lo, até que nada reste, que faça lembrar um verdadeiro hospital.

Não é com promessas vazias de um hospital para “doentes pouco complexos”, para “cirurgias simples” ou para centros de reabilitação de “doentes estáveis”, que vamos resolver o crescente problema do acesso a cuidados médicos diferenciados na cidade de Coimbra, nem no resto da região Centro! Esta pequenez de horizontes de sucessivos Conselhos de Administração do CHUC têm, urgentemente, de ser contrapostos por uma política de saúde exigente e consistente, com rasgo e visão, que não se esqueça do potencial instalado, mas que vá para além disso. E não vale a pena atirar milhões de euros de fundos europeus para cima deste problema, não será essa a forma de o resolver. É preciso admitir que não é possível manter o nível de diferenciação de cuidados de saúde, acumulando o internamento de todos os doentes no pólo HUC, quando há muito tempo ficou demonstrado que este não é suficiente. Transformar o Hospital dos Covões em algo que mais não passa de uma central de consultas e cirurgias pouco urgentes, como se este não fosse necessário ao resto da estrutura, é um enorme absurdo que tem de ser travado.

Até que consigamos garantir que estes problemas são resolvidos de forma honesta, fundamentada, participada e transparente, não iremos acatar de ânimo leve a destruição a que estamos a assistir. Apelamos à união de todos para que as recomendações agora emanadas pela Assembleia da República sejam tomadas a sério pelos intervenientes locais. Continuamos a aguardar que sejam feitas diligências no sentido de serem auscultados os profissionais e a população, dando resposta ao que é sugerido pelos nossos representantes, eleitos democraticamente.

Estando nós no início da campanha eleitoral para as eleições legislativas de 30 de Janeiro, desafiamos os candidatos dos diferentes partidos a colocarem este assunto nas suas agendas políticas, debatendo-o e assumindo o compromisso de encontrar soluções que viabilizem as recomendações que foram feitas. Aguardamos estas e outras iniciativas que julgamos serem fundamentais para a decisão do sentido de voto dos eleitores de Coimbra.

(*) Presidente da Associação Centro Saudável – Juntos pela Saúde na Região Centro