Foi uma semana trágica para todos aqueles que conseguem ver o desporto para lá das clubites, extremismos e fundamentalismos – pois li coisas, aqui e ali, que nem ao diabo lembrariam, mas enfim, é a sociedade que temos.
Um dos melhores guarda redes de andebol de todos os tempos faleceu na sequência de uma paragem cardiorrespiratória, quando se preparava para um treino do seu clube, de descompressão, no âmbito de uma simples partida de futsal. Na antecâmara da tragédia, não havia pressão, o ambiente seria de tranquilidade, de companheirismo, reinando a boa disposição. O Futebol Clube do Porto, e a seleção nacional, perderiam, nos minutos seguintes, e de forma completamente inesperada, fulminante, diria, um dos seus ícones – pois acreditei, ao contrário do que foi noticiado, que 45 minutos eram, na verdade, uma eternidade para reverter a fatalidade, tão frágil é a fronteira ténue entre a vida e a morte, facto que levou, creio, a federação cubana a dar o óbito por consumado logo no dia da acidente, e o médico do clube a resguardar-se na incredulidade.
Não existem idades boas ou más para morrer, e a existência tem os seus mistérios, por vezes insondáveis que de nada vale questionar perante o facto consumado: partiu do mundo dos vivos um jovem e desportista de elite, no auge das suas capacidades, facto que no Futebol Clube do Porto tem sido, relativamente, comum, não encontrando paralelo, com outras colectividades: Pavão, Zé Beto e Rui Filipe, constituem exemplos que não me deixam mentir.
O ex- guarda redes Casillas, também ao serviço do Porto, terá sido dos que mais sentiu o momento, pois passou por uma experiência limite, também num treino, na altura revertível, a muito custo, pela presença próxima de vasta equipa médica, desfibrilhador e apoio hospitalar.
Que a partida de Quintana nos faça reflectir na necessidade de todos os pavilhões onde se praticam modalidades profissionais, tenham, obrigatoriamente, uma unidade de apoio médico a estas situações, cada vez mais comuns e sem avisos prévios.
O adeus ao homem e ao seu legado desportivo e social tem-se feito sentir nos mais variados quadrantes do desporto nacional e internacional, com repetidas homenagens e actos simbólicos. Nos momentos difíceis o desporto conseguiu, uma vez mais, expôr a sua vertente solidária e fraterna, acima de ódios e climas de guerrilha.
Foi um prazer ver-te jogar Quintana, e o teu exemplo de dedicação, empenho e garra, perdurará muitas gerações. Foste um gigante que tudo defendeu, excepto aquele remate, desconhecido e fatal, para o qual ninguém possui antídoto, oriundo da senhora dona morte.
(*) Historiador e investigador