O movimento ‘Somos Coimbra’ considerou hoje que o presidente e vice-presidente da Câmara sabiam das alegadas adjudicações feitas pelo vereador Jorge Alves, que renunciou ao cargo, nos Transportes Urbanos de Coimbra a uma empresa detida pelo seu filho.
Em comunicado, o movimento refere que uma reportagem transmitida na quarta-feira no ‘Primeiro Jornal’ da SIC “veio trazer prova factual de que o presidente e o vice-presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado e Carlos Cidade, sabiam que a STRA SA estava a trabalhar para os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) e que era liderada pelo filho e pelo sobrinho do ex-vereador Jorge Alves”.
Para o ‘Somos Coimbra’, que detém dois vereadores no Executivo municipal, os mais altos responsáveis pelo Município “não podem invocar ignorância do conflito de interesses no valor de mais de 200 mil euros que levou à demissão de Jorge Alves” no sábado, invocando razões pessoais e de saúde.
“O presidente e o vice-presidente da autarquia devem aos conimbricenses rápidas e claras explicações sobre a sua participação nestas matérias”, sublinha a nota do movimento liderado pelo ex-bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva.
A SIC “veio lembrar que, em Agosto de 2017, os actuais presidente e vice-presidente, este também da concelhia do PS, visitaram a STRA/Stratio Automotive, onde lhes foi apresentado o sistema de manutenção preditiva dos autocarros precisamente por Rui Sales, filho de Jorge Alves”, que preside ao Conselho de Administração daquela empresa.
Para o ‘Somos Coimbra’, esta questão “demonstra claramente que Manuel Machado e Carlos Cidade estavam completamente familiarizados com os responsáveis da empresa em questão, o que invalida a tese avançada pela Câmara Municipal aquando da demissão de Jorge Alves, de desconhecimento da empresa e do negócio”.
Segundo o comunicado, os vereadores Regina Bento (PS) e Francisco Queirós (PCP) aprovaram os contratos em causa, “sendo directamente corresponsáveis”.
O movimento reforçou ainda a necessidade de uma auditoria externa e independente à gestão dos SMTUC, “pois há mais dúvidas que se adensam sobre outros contratos e concursos e só assim será possível descortinar os graves problemas da estrutura, de forma a quebrar, rapidamente, a trajectória de decomposição em que se encontram os serviços em resultado de uma gestão muito incompetente e pouco ética”.
Na quarta-feira, a Comissão Política Concelhia do PSD de Coimbra considerou que é “politicamente relevante para todos os contribuintes municipais de Coimbra, é perceber se efectivamente o presidente e restantes vereadores conheciam a empresa, o projecto empresarial e as ligações familiares existentes”.
“Alguém em Coimbra compreende que os dois vereadores, Regina Bento (PS) e Francisco Queirós (CDU), ambos membros do Conselho de Administração dos SMTUC, venham apresentar uma queixa-crime no Ministério Público contra um acto de gestão em que participaram?”, questiona a estrutura social-democrata.
Na terça-feira, a Procuradoria-Geral da República disse à agência Lusa que foi aberto um inquérito para averiguar as alegadas adjudicações feitas pelo então vereador Jorge Alves, que “corre termos no DIAP [Departamento de Investigação e Acção Penal] Regional de Coimbra”.
A oposição exigiu esclarecimentos relativamente à demissão do vereador, apontando para alegadas adjudicações nos SMTUC, por ajuste directo, a uma empresa do filho e sobrinho, superiores a 200 mil euros, quando Jorge Alves era membro do Conselho de Administração, que integrou como vogal desde 2013 e que presidiu desde o final de 2017.