Embora não seja político, quiçá tão somente aprendiz de político ou, melhor ainda, historiador atento ao fenómeno e, portanto, nessa qualidade, pouco perceba de política, devo confessar que não fiquei surpreendido com a comunicação feita pelo médico e gestor Nuno Freitas, candidato à CMC indicado pela Concelhia do PSD.
Há muito que me dedico a observar, nos tempos livres, o mundo e submundo da política, onde militam excessivos egos e se quotizam demasiados jogos de bastidores, feitos de intrigas e falsas aparências. Em 2017 andei por lá, no terreno embrutecido das eleições autárquicas, e sei do que falo, mas guardo para mim o deslustre dessa experiência, que me enriqueceu, por um lado, e me enfraqueceu, por outro – esta última devido à falta de valores, de princípios, de palavras.
A meu ver, meu caro Nuno Freitas, pelo teu conhecido currículo político e trabalho em prol de Coimbra, era mais do que justificada a tua homologação como candidato à CMC: deputado, vereador, militante activo desde os tempos da JSD, penúltimo presidente da Comissão Política Concelhia, membro do Grupo de Trabalho da Candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura 2027…
Porém, a Direcção nacional do PSD entendeu que não eras a melhor opção e, pelo que sei, nem sequer te convidou a integrar qualquer equipa que se viesse a constituir, descartando assim a tua inclusão em listas concorrentes à CMC e demais órgãos autárquicos ao nível das freguesias.
Não sei se leio bem o que te aconteceu, mas afigura-se a um jogo demasiado violento mesmo para um médico que se dedica aos extremos onde a vida, a doença e a morte se tocam, com vincado cunho de pessoalização e laivos de vingança. Talvez estejamos, na verdade, perante algo nunca visto nos Anais da História Política da nossa região, onde sobressai, também, a ditadura da capital sobre o país real, do centralismo sobre o regionalismo, do quero, posso e mando.
Admirei o teu discurso, eloquente e elegante, com que nos brindaste na hora de sair – não é para todos o saber sair, é mesmo só para os que têm classe e que não se escondem em jantares de apoio a este e aquele, em reuniões mais ou menos clandestinas de assassinatos políticos depois de palmadinhas nas costas, mesmo em tempo de pandemia. Não gostei do teu adeus ao jeito de «para sempre», embora o compreenda perante uma montanha de obstáculos que te colocaram no caminho.
Cometeste alguns erros, desculpa-me a franqueza irónica. Gostar de Coimbra como verdadeiro conimbricense terá sido um deles. Sentir a cidade, diagnosticar o que nela está de errado, ter um projecto sério e credível foi outro.
Para a próxima – haverá outra, estou certo – compra mais facas e alguidares, rodeia-te de soldados e não de generais, estuda bem a lógica do Império Romano e recorda-te, por favor, deste artigo que agora te dedico.
(*) Historiador e Investigador