O Executivo da Câmara Municipal de Coimbra vai analisar e votar, na reunião da próxima segunda-feira, uma proposta para o eventual reconhecimento da Associação República dos Galifões como entidade de interesse histórico e cultural ou social local.
A ser aprovada a intenção de candidatura, a decisão será submetida a um período de consulta pública de 20 dias, para que, por fim, seja elaborado o relatório final e concedido o reconhecimento à associação.
A Associação República dos Galifões indica como data da sua fundação, na sua ficha de candidatura, o ano 1947, sendo apresentadas evidências que atestem que a república tem, pelo menos, mais de 25 anos de existência e que teve uma importante participação nas crises académicas dos anos 60.
Na crise de 1962, Francisco Leal Paiva, repúblico dos Galifões, era presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra e acabou expulso de todas as escolas nacionais por um período de dois anos, devido à realização do I Encontro Nacional de Estudantes.
Há ainda elementos, cartas e relatórios da PIDE, que atestam a prisão de Galifões nesses anos que vão de 62 a 69, existindo também, alusivo a este período, um mural pintado numa das paredes da casa que faz referência ao Dia do Estudante, comemorado em 1962.
É, assim, atestada a sua longevidade e relevância histórica no contexto académico e tradicional de Coimbra, com mais de setenta décadas, destacando-se o papel desempenhado pelos seus membros nas crises de 1962 e 1969, bem como, nos documentos apresentados, é evidenciado “o seu envolvimento na vida cultural e festiva dos estudantes da Universidade, quer pela participação nas festas académicas, quer pela organização de eventos socioculturais, que vão desde a confraternização de antigos e actuais repúblicos à organização de iniciativas de divulgação da Canção de Coimbra”, conforme a informação técnica dos serviços municipais.
A informação destaca ainda a valorização que a república prestou à sua identidade, traduzida na adopção e manutenção de uma bandeira, um hino e um logotipo próprio, e a forma como as sucessivas gerações tornaram a sua sede num espaço de liberdade e confraternização, com a realização, entre outros eventos, dos anuais Centenários.
A República dos Galifões é considerada “um espaço baluarte de preservação da memória da vivência académica nos anos de mais intensa contestação política, fruto de forte convívio e solidariedade dentro da comunidade académica”, constituindo, assim, “um inegável património imaterial da história académica de Coimbra do século XX, registado em testemunhos escritos e fotográficos de sucessivas gerações de repúblicos”.